Noiei

GOSTINHO DA FAMA

Quinta-feira, dia 5 de Novembro, 11:32, matando a quinta aula.

Marjorie:

A minha cabeça rodava, e não era do vinho barato que estávamos tomando. Para o meu alívio, Rafaela deu a ideia de matarmos aula para ouvirmos sobre a noite anterior em que ela passou conversando com Marcelo pelo Facebook, então eu pude passar alguns minutos maravilhosos sem ter que ouvir a voz de ninguém - fora as minhas amigas.

Eu estava um cocô. Não havia dormido direito na noite anterior, ocupada demais pensando nas palavras de Thomas e na sua indiferença ao me ver quase como vim ao mundo. E quando eu enfim percebi que estava perdendo o meu sono por causa daquele idiota, fiquei mais brava ainda, e não consegui pregar os olhos, rolando na cama até o despertador tocar.

Para piorar a minha dor de cabeça, ao chegar na escola, as meninas estranharam a minha "nova" aparência e ficaram me zoando. Não que eu estivesse loira ou usando arquinhos coloridos, mas o meu cabelo estava fora do rosto e o meu uniforme um pouco menos largo, o que já era uma grande mudança para elas.

Nós assistimos às três primeiras aulas e fomos para o intervalo, graças a Deus não encontrando com nenhum dos meninos da banda; eles deviam estar galinhando pelo pátio "cool", nos deixando um pouco em paz.

Na verdade, eu não tinha mais nada contra os outros meninos, mas estava tão brava com Thomas que se o encontrasse pelo caminho não me responsabilizaria pelos meus atos. E eu nem sabia exatamente o porquê. Porque, quero dizer, eu não estava nem aí para a sua opinião ou a falta dela sobre a minha aparência!

Bom, talvez eu estivesse um pouco aí, se não eu teria dormido como um anjo na noite anterior...

Lá pelo final da quarta aula, Rafaela, ainda não satisfeita por ter passado o intervalo inteiro falando de como Marcelo era engraçado e fofo, sugeriu que fôssemos ao nosso lugar secreto para ela terminar de contar a interminável e tediosa história de amor - não que eu estivesse reclamando, eu só queria alguns minutos de paz.

- Droga, gente, eu estou perdendo a matéria de química! - Giovanna reclamou, bufando. Eu dei de ombros, Laís continuou a observar os meninos do primeiro ano jogarem futebol e Rafaela continuou falando sem parar, como se tivesse uma vitrola na garganta.

- Aí ele me disse que gostou da capa do meu Facebook! Foi lindo... Depois ficou me perguntando quais eram as minhas bandas favoritas e... Vocês pelo menos estão fingindo que estão me ouvindo? - ela quis saber, apertando os olhos em nossa direção.

- Eu estou te ouvindo! - Laís virou-se para ela, sorrindo carinhosamente. - Mas prefiro ouvir enquanto olho para aquele repetente do primeiro ano... - ela virou o rosto novamente, encarando com luxúria um garoto que estava no gol e mais parecia pai dos colegas de classe de tantos pelos faciais que tinha.

- Eu também estou - Giovanna concordou, ainda com a cara amarrada. - Mas preferia estar ouvindo a aula de química...

- Eu estou - eu disse por fim, dando de ombros. - "Marcelo é o cara mais fofo do mundo" e blá blá blá... - eu imitei a sua voz e ela mostrou o dedo do meio para mim. - Ele acertou o seu nome pelo menos?

- Vaca amarga - Rafaela murmurou, enquanto o resto de nós ria.

Eu só estava zoando, claro. Tudo o que eu mais queria era que ela fosse feliz, mesmo que a sua felicidade dependesse do amor de Marcelo Godoy.

O que era bem escroto, já que a felicidade de ninguém deveria depender de outra pessoa... Mas o que eu poderia dizer? Já havia enviado todos os meus textos sobre feminismo para Rafaela e ela continuava encasquetada com aquele garoto.