AMIGOS?

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Sábado, dia 7 de Novembro, 20:56, churrasco.

Thomas:

Eu estava no meio de um jogo. E era um jogo difícil. Pedro já havia desistido e estava jogado no chão. Diego ainda estava entre nós. Marcelo olhava e ria. Laís se recusou a jogar. Rafaela estava de mãos dadas com Marcelo - depois do nosso pequeno coro de aleluia -, e só Giovanna das meninas continuava na parada. Além de nós, Hirata, Felipe, Patrícia, Ingrid, Fábio, Carlos, Lucas e muitos outros que eu só conhecia de vista.

- Vamos lá, no três. Quem gorfar dá um passo para trás - Hirata anunciou. - Um... Dois... Três!

Eu peguei o primeiro shot que vi pela frente e o virei. Senti a tequila descer rasgando. Sal e limão. O segundo. Sal e limão. O terceiro. Sal e limão. Quando fui virar o quarto, Hirata gritou.

- Opa, podem parar, Diego saiu da parada - eu depositei o copinho em cima da mesa e assisti Diego caminhar calmamente até os nossos anões de jardim e vomitar em cima de um deles. - Agora só restam 15!

Eu olhei para a mesa, toda suja e nojenta, cheia de sal e bebida; eu já estava bem bêbado, mas não o suficiente para não sentir o meu celular vibrar no bolso. Assim que Hirata começou a contar de novo, avisei que eu estava saindo da brincadeira e fui até a frente de casa. Só encontrei uma menina chorando e falando baixinho ao celular. Fui um pouco mais para frente, sentei-me no meio fio e atendi.

- Oi - eu cumprimentei, baixinho. - E aí?

- Oi - Marjorie respondeu do outro lado, mais baixo do que eu. - Deu tudo certo, eles não desconfiaram.

- Tem certeza? - eu perguntei.

- Absoluta - ela afirmou. - Clara só ficou perguntando porque haviam roupas de festa em cima da cama, mas eu dei uma desculpa qualquer.

Eu pigarreei, em um silêncio constrangedor.

- Bom, pelo menos as coisas deram certo dessa vez - eu concluí.

Mas pelo rumo que as coisas estavam tomando, o final da noite deveria ter sido uma catástrofe.

"Mar, você está aí?" uma voz feminina perguntou pelo facetime, logo após a voz do pai de Marjorie. Ela ficou branca como um fantasma e abriu a boca, respirando fundo. As gotas caíam pesadas em seu cabelo, já totalmente molhado, e eu comecei a sentir frio por ela.

- Meu Deus, que merda eu faço agora? - ela perguntou, dando voltas nela mesma.

- Responde no facetime! - eu exclamei, entregando o celular para ela. - Eu vou pegar as chaves do carro dos pais do Marcelo!

Eu sai correndo, com Marjorie atrás de mim. Ela respondeu algo como "espera um segundo que eu estou terminando de tomar banho!" e nós entramos na casa, no exato momento que Marcelo e Rafaela haviam voltado do mercado com as cervejas. Eu arranquei as chaves da mão dele e berrei "depois eu te explico", correndo de volta para a entrada da casa.

Eu liguei o carro e Marjorie se jogou no banco de passageiros - todos nós sabíamos dirigir, mas não o fazíamos com frequência, com medo de sermos pegos por alguma blitz. Mas aquela era uma situação extrema, então eu pisei no acelerador.

- Vai, Thomas! Corre! - ela berrou.

Eu posso jurar que chegamos em sua casa em exatos dez segundos, sendo que Marjorie morava a várias quadras da casa de Marcelo. No caminho, não ouvimos mais movimentação pelo facetime, mas ela balançava as pernas em desespero. Assim que paramos na frente do seu prédio e ela desceu do carro, ela olhou para mim, desesperada.

- Eu desci, agora como eu subo? - ela perguntou, em um sussurro assustado.

Nós passamos pela portaria e subimos correndo para os elevadores, passando segundos desconfortáveis na estrutura de metal. Quando enfim encontramos a porta de entrada da sua casa, nos olhamos, sem saber o que fazer.

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