51º Capítulo

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Lara Cooper

    A tarde está chegando ao fim e a chuva cai pesada no campus. O fato de ter que esperá-la passar me deixa nervosa. A última aula passa mais rápido que eu imagino e saio da sala com Louis, que se tornou um grande amigo nas ultimas três semanas. Arrumo a bolsa no ombro e caminho o corredor afora devagar ao lado do mesmo menino moreno de olhos claros.

''Vai jantar com sua mãe essa noite?'' Louis pergunta e eu assinto com a cabeça. A ficha ainda não caiu e não consigo acreditar que já se passaram três semanas que descobri que Julie Cooper estava viva. Três semanas nas quais janto no pequeno apartamento em que ela está vivendo. Pequeno entre aspas, já que ele deve ser o triplo do meu. A vida toda eu imaginava como ela deveria ser, e em três semanas descobri o quanto ela é encantadora, o jeito que ela fala e dá sua opinião me encanta. Gosto muito do fato de ela ter alugado um apartamento em Oxford por um tempo até que possamos nos conhecer melhor e criar um laço mais forte, pelo menos assim, não me sinto totalmente só. Desde que conheci minha mãe, ela e Nicolle tem sido únicas na minha vida. Minha avó simplesmente desapareceu desde que a notícia chegou até ela. Leo não fala comigo desde que nos separamos e Niall, bom, o Niall seguiu em frente depois de descobrir minha vida para mim. Nunca saberia como agradecê-lo, o que ele fez por mim, eu não conseguiria nem com anos de tentativas.


    A chuva para e eu consigo dirigir até o prédio onde minha mãe está morando. O porteiro já me conhecia, o que facilitava a minha entrada. Esperava o elevador, enquanto ajeitava a roupa bagunçada em meu corpo. Ele não demora muito para chegar ao térreo e eu subo até o décimo andar. Aperto a campainha e dou um passo atrás na espera de que alguém me atenda.

    A porta se abre e Julie está usando uma calça jeans e uma blusa xadrez. Seu cabelo está preso em um coque bagunçado e ela está com os pés no chão gelado, o que é estranho, nunca havia estado assim desde que nos conhecemos. Ela faz sinal para que eu entre e eu faço, deixando a bolsa na poltrona próxima a porta. Julie a fecha e passa por mim ajeitando algumas revistas sobre a mesa, meto a mão no bolso e observo a mesma que sorri ao me olhar.

''O que foi?'' Ela ri ao perguntar e eu dou de ombros me aproximando da mesma que sorri ainda mais. O apartamento cheira rosas e é simplesmente muito organizado.

''Você nunca se vestiu assim antes. Achei que só usava roupas...'' Dou uma pausa e ela sorri, ajeitando sua postura enquanto segura algumas revistas de moda.

''Formais?'' Ela pergunta e eu assinto, fazendo-a rir. ''Não, eu não uso apenas roupas formais. Além do mais, aquelas roupas me irritam. Em casa, eu gosto de ser apenas...'' Julie olha em volta e dá de ombros. ''Eu.'' Ela acrescenta e eu rio para a mesma. ''Eu fiz pizza.'' Ela diz e morde o lábio fazendo uma careta.

''Eu amo pizza.'' Digo batendo palmas e ela parece aliviada ao ouvir isso.

''Beleza. Vou pegá-la.'' Julie diz passando por mim. ''Você me ajuda?'' Ela pergunta e eu a sigo para cozinha. A cozinha tem cheiro de pizza, o que faz minha barriga roncar e querer devorá-la quando minha mãe a tira do forno. Volto para a sala junto dela que segura o tabuleiro quente, pedindo que eu coloque o pano sobre a mesa enquanto ri. Estendo o pano e volto para a cozinha para pegar a Pepsi e dois copos. Coloco tudo sobre a mesa e puxo um pedaço de pizza para meu guardanapo. ''Parece gostosa.'' Digo e minha mãe concorda mordendo um pedaço da sua.

''Como foi a aula hoje?'' Julie pergunta e eu mordo minha pizza, mastigando rápido para respondê-la.

''Sensacional.'' Reviro os olhos e ela ri. ''Você pode abrir uma pizzaria.'' Digo e ela ri, limpando o canto da boca com o guardanapo. Ela era incrivelmente boa naquilo. O cheiro da pizza fazia meu estômago roncar querendo mais e mais. ''Eu a chamaria de, hum, ''pizza da tia Julie''. Minha mãe diz e eu rio enchendo nossos copos com Pepsi.

''Tem falado com seu pai?'' Ela pergunta e eu nego. Fazia alguns dias desde que nos falamos pela última vez. Ele era um cara ocupado, e não queria ser a filha que veio para atrapalhar, por isso, deixo que ele entre em contato. ''Deveria se aproximar mais dele. Sei lá, seria bom para os dois. Eu acho.'' Ela dá de ombros e eu também. ''Martin sempre quis ter filhos, não sei como não teve algum.'' Ela sorri encarando a garrafa à sua frente.

''Ele me teve.''

''Mas só soube agora.'' Ela me olha séria e eu sorrio para amenizar a tensão.

    Bebo a minha Pepsi e termino de me alimentar em silêncio. Ela sempre parecia diferente ao se lembrar dele, ao falar dele. Sei que ainda o ama, lá no fundo, mas o ama. Desde pequena segui o amor de meus pais como um exemplo, não o conhecia, mas ela o amava, e eu pensava quando vou amar alguém assim? É exatamente esse o problema, amar alguém assim, mágoa machuca, dá trabalho, e você chega a ponto de se perguntar, vale a pena?

     Passo o resto da noite conversando com minha mãe sobre sentimentos, ela era mestre nesse assunto e eu percebi o quanto amou meu pai. Quando o assunto se virou para mim, meus sentimentos, contei a ela sobre o Leo, o que pelo visto não pareceu muito bom para ela. Ela insistia em dizer que eu encontraria algo melhor, ou alguém que me amasse, eu fiquei calada e ela citou Niall, aquilo mexeu comigo, mas eu neguei, ela insistiu e disse que eu não precisava confirmar com a boca, pois meus olhos faziam isso por mim. Terminamos a noite vendo um filme de comédia e comendo alguns doces que achamos no armário, nunca ri tanto de um filme como aquele. Escolhemos Anjos da Lei, motivo para eu perder a hora. Já eram quase dez, hora de minha mãe ir para o trabalho, onde encontrava John, e eu para minha casa organizar meu estágio. 

      Como a noite dela seria em casa, pois havia ganhado folga, eu ainda assim tinha que ir. Levantei-me do sofá e organizei a bolsa antes de me despedir. Julie negou qualquer ajuda com a bagunça e, então, despedi-me chamando o elevador. Cheguei ao térreo e caminhei lentamente pela grande recepção até o portão do prédio. A rua era deserta, apenas alguns carros vazios estavam estacionados ali. O som da noite me incomodava e eu me pedia que tivesse coragem para caminhar sozinha até onde deixei o carro. Ajeitei o casaco no peito e atravessei a rua com calma, a rua era extensa e, em segundos, faróis altos apareceram em meu campo de visão. O barulho dos pneus me deixou assustada, e sim, aquele carro preto estava vindo para cima de mim. Tentei correr, mas a dor era insuportável depois de ser jogada para cima e cair contra o asfalto frio como uma bola que é jogada por uma criança, ou um objeto atirado ao chão. Não sentia minhas pernas, apenas uma dor insuportável na região da coluna, o sangue escorria do meu rosto e o baque contra meu corpo havia sido forte demais. Os pneus sumiram em meio à escura rua e apenas gritos do portão do prédio eram ouvidos por mim até tudo se tornar uma imensa escuridão.


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