O Preço da Amizade.

Prólogo

    Dentro do carro. Sob o vento forte passando pela janela, massageando meu rosto. Em rumo á uma nova casa, nova cidade, costumes diferentes, pessoas diferentes.

    Pra mim foi tão difícil fazer amigos na cidade onde nasci, que aqui acho que irá ser impossível fazer novos, nem devo pensar assim, tenho apenas 10 anos, mas em minha mente existem diversas coisas e pensamentos, minha mãe diz que tenho uma imaginação fértil, eu não sei o que é isso, mas pergunto pra ela depois, enfim, perder meus amigos e não ter novos é um dos pensamentos estranhos. Mas o mais importante é saber se na casa nova tem tv pra que eu possa assistir meus desenhos e me esquecer que não tenho amigos.

    Outra coisa que me incomoda é a nova escola... Meu cabelo crespo e minha pele escura não era problema na minha antiga, mas só de olhar da janela do carro as outras crianças brincando nos quintais de suas casas luxuosas, seus olhos claros e cabelos lisos, acho que vou assustar um pouco eles, "a menina negra que só porque o pai foi promovido com um bom salário, acha que tem direito de viver em nosso bairro." Olha onde minha mente já me levou. Preciso parar com isso. Meus pais estão felizes, não sou ninguém para estragar isso com meus pensamentos malucos, mas ainda sim quero a televisão com meu canal favorito.

    Sinto saudades da Becky. A conheço desde bebê pelo que mamãe um dia me contou. Minha mãe e a sua são amigas e ficaram grávidas na mesma época. Todos os meus segredos estão guardados com ela, não que eu tenha muitos, mas são importantes pra mim. Não será a mesma coisa brincar de bonecas sem ela. Ah! Legal chegamos, até que a casa é bonita por fora.

    Mamãe está conversando com o motorista do caminhão de mudanças. Ela sempre fala muito e é na maioria das vezes alegre e divertida. Papai está tirando as malas do carro. Ele é divertido também, só que não demonstra muito, nunca me deixa comer biscoitos antes das refeições.

Olhando o lugar, não é como imaginei que fosse, um lugar escuro, sem tantos vizinhos com casas mal assombradas e monstros, é um bairro calmo e bonito. Pelo menos o que me parece acho que não tem monstros...
    Tem duas crianças na calçada, dois meninos eu acho. Ah Deus!! Mal desci do carro já quero voltar.

   -Oi.- pulei de susto, quase que a boneca que Becky me deu foi pro chão. Era um dos dois meninos que tinha visto, ele trazia alguns carrinhos nas mãos. Como chegou tão rápido aqui? Ele tem uma janelinha na boca, é pálido e os cabelos castanhos claros.

    -Meu nome é Dylan. Qual é o seu?- ele estava sorrindo, o que ele queria? (Saber meu nome né?) Sério? Nunca foi tão comum virem falar comigo, me dêem um desconto...

    -É Lydia.

    -Legal. Engraçado seu cabelo, não tem muitas meninas assim no meu colégio, quer ser minha amiga?

Ele é engraçado? Como assim engraçado? Mas enfim... 'Dylan' deve ser legal. Nem percebi que um pequeno sorriso se formava em meu rosto, estou realmente feliz, achei que ia ser difícil ter um único amigo, sai do carro e já achei um.

    -Tá bom...

    -Vamos jogar basquete então.- disse e me puxou pelo pulso, joguei a boneca no banco do carro e saímos correndo em direção ao outro menino.