Prólogo

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O cenário era apenas um quarto vazio, com paredes de tinta salmão já caindo aos pedaços, uma pia pequena, uma cama de solteiro com uma penteadeira antiga de mogno ao lado e um guarda roupa rente a parede.
Tudo parecia silencioso e abandonado, então ouviu-se o barulho de passos e a porta foi aberta com violência revelando duas mulheres que entraram rapidamente.
A primera era baixa e magra, não devia ter mais que vinte anos e exibia uma expressão de dor. Seus cabelos eram castanhos e caiam em ondas por suas costas, indo pra frente quando ela se curvava e cobrindo seu rosto já molhado por suor. Ela tinha as mãos sob a sua proeminente barriga e sangue escorria por suas pernas. Seu nome era Diana.
A sua acompanhante era igualmente baixa, mas parecia ser mais velha, vestia um vestido folgado e seus cabelos já com fios grisalhos estavam presos pra trás. Ela era a parteira, Maya.

Elas foram o mais rápido que podiam até a cama e enquanto a mais nova contorcia-se cada vez mais de dor e soltava exclamações, a outra abria uma bolsa que antes não era visível. Ela lavou as mãos na pia e depois de enxugá-las se moveu até a garota fazendo-a abrir as pernas.
-Eu vou precisar que me ajude aqui. -ela avisou e Diana assentiu, segurando-se pra não soltar outro grunido.
E ela fez o que a mulher pediu, dedicou todas as suas forças a tentar dar a luz a sua filha.
-Vamos! Já estou vendo a cabecinha! -ela disse sorrindo e Diana riu emocionada e fez mais força. Havia esperança afinal, talvez estivesse tudo bem com sua pequena.
Ela sentiu algo saindo de dentro de si e observou a mulher aos pés da cama segurando uma criança. Mas onde estava o choro?
-Sinto muito querida... -Maya olhou-a com compaixão e pena.

- Não... -Diana balançava a cabeça negativamente. Não podia acreditar, tinha tanta esperança... Ele tinha razão no final e agora ela estava completamente sozinha.
-

Eu quero vê-la. Dê-me aqui. -ela pediu e Maya foi até ela e pôs a criança ainda ensanguentada em seus braços.
Era tão linda...
-Pode me deixar sozinha um instante? -pediu ainda com a voz embargada e a mulher assentiu, depois pegou suas coisas e saiu do cómodo.
Assim que a porta se fechou Diana voltou seu olhar a criança e fitou-a por um tempo enquanto lagrimas escorriam desgovernadas por seu rosto.
-Oh minha pequena, eu sinto tanto meu amor... -ela soluçava. -Queria tanto poder ter você, te ver crescer... Tanto. -ela acariciou o rosto frio da pequena e pentiou seus cabelos escuros pra trás. -Me desculpe querida, eu não vou poder estar com você, mas quero que saiba que você é, foi e sempre será a coisa mais preciosa que já tive na vida.
Diana suspirou e pôs o corpo da filha ao seu lado embrulhando-a na coberta.
-Me perdoe... Você vai ficar sozinha nesse mundo cruel, mas preciso que você tenha essa chance. Te desejo sorte, que você consiga sobreviver, tenha coragem filha e acima de tudo sabedoria. Não guarde rancor, não vale a pena... Não tenha medo de lutar pelo que quer, nem pelo que ama e tenho certeza de que será feliz. -ela tirou o colar que tinha no pescoço, uma gargantilha de couro preto com um pingente de concha lilás levemente azulado e conchinhas menores pelo couro. Ela beijou a concha maior e pôs a gargantilha na bebê.
-Isso vai te proteger. -ela sorria. -Agora tenho que ser rápida, mas não esqueça que te amo minha pequena, minha Luna.
Uma lágrima escorreu e caiu sobre a cama enquanto Diana fechava os olhos e começava a entoar o feitiço antigo. Ela sabia que o preço que teria que pagar seria muito alto, mas não podia deixar que sua princesinha pagasse por um erro que não cometeu.
Em algum lugar sirenes começavam a soar e pareciam cada vez mais proximas. A porta do quarto se abriu e Maya entrou, sua expressão mudando de tristeza para surpresa em um segundo, porque o corpo de Diana jazia sem vida sob os lençois ensanguentados e o choro de um bebê ressoava pelo quarto.

ΩΩΩ
E então? Acharam muito triste?
Eu não sei se fico com mais pena da Luna ou da Diana.
Comentem, votem e bjs com néctar!!!

A Herdeira PerdidaWhere stories live. Discover now