A pirâmide

Capítulo 13 - O destino (Parte 1)

Jane

Era hora de partir. Dei um último beijo na testa da minha filha e saí dali com aperto no coração. Eu sofria por dentro, principalmente por deixar minha filha naquelas condições. Era algo muito doloroso para uma mãe decidir. Mas tinha que prosseguir com o plano. Osíris me levou até o "sótão" da casa, era um local escuro e tenebroso, sentia calafrios.

- Não tenha medo - Osíris susurrou, pegando uma tocha para iluminar o local. Pude perceber que nós estávamos entrando no lugar onde Anúbis mandava as almas para o submundo.

Lá era um ambiente pouco amigável, onde eu nunca gostaria de estar. Havia várias balanças que mediam o peso do coração das pessoas. O coração do finado era colocado num dos pratos e, no outro, uma pena, símbolo de Maat, a deusa verdade. O coração humano era considerado pelos egípcios a sede da consciência. Caso o coração fosse mais pesado que a pena, o defunto era comido por Ammit (um demônio cujo corpo seria composto por partes de um leão, hipopótamo e crocodilo), mas caso fosse mais leve o morto poderia ter acesso ao paraíso ou a alma voltar ao corpo. Anúbis era quem guiava a alma dos mortos no além túmulo.

Anúbis, a divindade do embalsamamento, representado por um chacal, estava de costas para nós mexendo em algumas cartas em cima da mesa de granito; ele assumia a forma de um homem e assim mostrou sua face. Esse deus possuía várias cicatrizes pelo rosto, mas isso não impedia que sua beleza reinasse; seus olhos azuis penetravam a minha alma. Sua cor era tão branca como a neve branca como a neve e seus cabelos tão negros como o carvão.

- Jane, você chegou mais cedo do que o previsto - Anúbis disse com um sorriso sarcástico. - Fiquei te esperando por tanto tempo. Ainda bem que esse dia chegou!

- Silêncio! - Osíris exclamou com raiva. - Você a matou sem minha autorização! Agora a mande de volta para a terra dos vivos.

- Não mesmo - o chacal disse, cruzando os braços.

- Acho que você não recebeu seu osso diário para roer; peço perdão por isso - Osíris brincou com o "lobo".

- Hahaha muito engraçado,você hein ?... Eu até poderia mandá-la para aquele lugar imundo e medíocre que você chama de terra, mas eu quero algo em troca - Anúbis falou seriamente, pronto para fazer um acordo.

- O que é criatura? - perguntou.

- Quero a filha de Jane - respondeu, lançando um olhar rápido para mim.

- Sem chance! - intervi indignada.

- Por que todos os humanos acham que eu sou mal? - Anúbis fez uma cara tristonha.

- Porque você é! - gritei.

- Você nem ao menos me conhece - o deus da morte pareceu ressentido.

- E por qual motivo você gostaria de tê-la? - Osíris questionou sério.

- Bom, como você sabe, meu filho Kebech acabou de nascer. Quero que ele tenha a oportunidade de estudar na escola melhor escola dos deuses metidos. Mas como os diretores de lá acham que ele será um delinquente só porque é meu filho, não o deixarão entrar, a não ser que haja uma companhia especial, ou seja, a filha da reencarnação da Cleópatra.