Não é a hora

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- Sim, Igor... - Guilherme respondeu.

- Certo... - Igor anda, carregando uma mala até a porteira, juntamente com Guilherme.

Chegando lá, estavam Lady, Irmão e Pedro, conversando.

- Vamos? - Pedro olha para Guilherme.

- Vamos... Pai... - Guilherme responde de cabeça baixa.

- Coloca as malas aí dentro do carro. - Pedro abre o porta-malas do veículo.

Guilherme colocava a bagagem lá dentro, sob os olhares tristes daqueles que os acolheu.

- Pronto! - Guilherme foi em direção a Irmão. - Tio, muito obrigado por ter me aceitado aqui. Só tenho a agradecer ao senhor.

- Imagina, rapazinho! - Irmão abraçou Guilherme.

- Dona Lady... Tão gentil! Eu também só tenho a agradecer a senhora! - Guilherme a abraça. - E você, Igor...

- Eu? Haha! Estou aqui! - Igor estava sem jeito. Ele vai em direção a Guilherme e o abraça forte.

- Eu te amo, Igor. Eu te amo. Com todas as minhas forças e sentimentos. Obrigado... Muito obrigado... - Guilherme sussurou no ouvido de Igor, este que, já estava em lágrimas.

- Eu te amo, Gui... Eu te amo... - Igor sussurrou igualmente. - Estarei te esperando.

- Eu também.

Guilherme se solta do abraço de Igor. Os dois se olham apaixonadamente e não demora para que Pedro logo perceba o clima. Mas ele resolveu ficar calado. O garoto de cabelos negros foi para o carro.

- Obrigado a todos vocês. Se precisarem de mim, só ligar! - Pedro disse, acenando e entrando no carro.

- De nada! De nada! Disponha! - Os três responderam.

Guilherme entrou no carro, mas preferiu ficar no banco de trás. Acompanhado do olhar triste de Igor, ele se segurou para não chorar. Pedro ligou o carro, e da janela, Guilherme diz um "Eu te amo, Igor" mudo. Igor faz o mesmo. O carro dá a partida e pai e filho deram início à viagem.

- É... Ele já foi. Uma pena. - Irmão diz.

- Concordo, querido... - Lady diz. - E você, Igor? Você não parece bem, filho...

- Eu estou bem, mãe. - Igor vai para dentro da fazenda. Ele corre em direção ao celeiro e se senta num monte de feno que ali tinha.

Igor olhava para o céu que entardecia lentamente. O crepúsculo já era notável.

- Gui... - Igor falava sozinho. - Volta logo.

Ele suspirou. Ele começou a lembrar dos momentos que passaram juntos. Como das vezes em que ele cortou o cabelo do Guilherme. E as vezes que eles faziam a barba juntos. Sem esquecer das noites acordados, trocando juras de amor. Tudo passava como um filme na cabeça de Igor, e estava sendo difícil pra ele.
Já anoiteceu. A lua estava em todo seu esplendor no céu, enquanto as estrelas estavam do mesmo jeito. Igor se levanta e vai para casa. Ele tomou banho, mas não jantou. Foi direto para o quarto, onde ficava com Guilherme. Põe a cabeça no travesseiro e sente algo. Ele levanta. Era o caderninho que Guilherme tinha, mas ele estava mais fino. Só tinha algumas folhas escritas e outras em branco. Igor começou a olhar. Ele percebeu que o que estava escrito eram os momentos que passou junto com Guilherme. Ele notou uma filha dobrada, dentro desse caderno. Era o desenho que Guilherme fez, no dia em que foram para a grande árvore pela primeira vez.
Igor desligou a luz do quarto, e não acendeu o abajur. Ele permanecia calado, e seus pais não questionaram. Sabiam que o menino forte de olhos claros precisava ficar sozinho. Igor dorme. Estava cedo. Ele cedeu ao cansaço.

Enquanto isso, Guilherme chegou em sua casa, com seu pai. Que estava um pouco diferente do normal. Ele se mostrava mais receptivo, mas sem perder o jeito bruto de sempre.

- Bem vindo de volta, Guilherme.

- Espero ser bem vindo mesmo aqui. - Guilherme olha para o sofá, lá estava a namorada de seu pai, que os esperava.

- Boa noite, Guilherme! - A moça disse.

- Boa noite, Paula. - Guilherme respondeu, sem ao menos olhar direito para ela. - Vou para meu quarto, pai.

- Ok. - Pedro responde. - Quer que eu leve as malas?

- Não... Não precisa. Eu levo.

Guilherme vai para seu antigo quarto. Estava tudo do mesmo jeito, mas arrumado. Ele deduziu que Paula tinha limpado. Pôs as malas no pé da cama e se sentou. Puxou uma das malas e abriu, para pegar o fone de ouvido que estava dentro, mas ele se surpreende. Lá estava uma das camisas de Igor. Era xadrez, da cor verde-mar. Uma lágrima desceu do olho de Guilherme. Ele abraçou a camisa. E como Igor, também um filme se passava em sua cabeça, relembrando os momentos que passou na fazenda, ao lado do garoto de cabelos loiros e porte atlético.
Guilherme estranhava seu quarto, que era decorado a sua maneira. Ele sentiu tudo aquilo desnecessário. Foi vencido pelo cansaço e caiu de sono.

A noite passa, e um novo dia amanhece. Guilherme se acorda e vai para a cozinha. Como tipicamente fazia, ele próprio preparou seu café. Pedro não estava em casa, pois tinha ido trabalhar. Enquanto comia, Guilherme tentava de convencer de que tudo mudaria dalí pra frente. Ele sabia que em um mês iria para fora do Brasil.
O momento foi cortado pelo som do telefone que tocava. Guilherme foi atender. De repente seus olhos se encheram de brilho e um sorriso inundou seu rosto. Era Igor, que estava na linha. Ouvir a voz dele novamente deixou Guilherme radiante.

- Bom dia, meu príncipe! - Guilherme estava animado.

- Você está bem, meu amor? - Igor falava do outro lado da linha.

E a conversa se estendeu por horas. Nenhum queria desligar o telefone, mas Guilherme ouviu seu pai chegar. Ele se despediu de Igor, da forma mais carinhosa possível.

Os dias passaram e as ligações continuavam. Depois de duas semanas, o contato foi diminuindo. Não demorou muito para que o mês passasse e chegasse o dia da viagem. Por pedido de Igor, Guilherme não ligou para se despedir, mais uma vez.
Ele estava nervoso, e o pai dele também. Pegaram o carro e foram para o aeroporto
Quando chegaram lá, se depararam com uma dúzia de jovens que também estavam lá para fazer o intercâmbio. Todos estavam alegres e sorridentes, acompanhados de seus pais e parentes.

- É filho. Chegou a hora. - Pedro põe a mão no ombro de Guilherme.

- Sim, pai. - Guilherme estranhou o comportamento do seu pai. Ele parecia carinhoso.

Num painel, passava as horas que os vôos partiam, e em breve seria o vôo que levaria Guilherme.
O tempo passou em passos largos, e logo chegou a hora. Guilherme suspirou. E enquanto todos ali se despediam de seus filhos, Guilherme tomou o máximo de ar que pôde e virou-se para seu pai.

- Eu não vou, pai. - Guilherme estava decidido.

- Como assim, Guilherme? - Num instante, a surpresa e raiva se refletiam nos olhos de Pedro. - Você vai sim! É seu futuro!

- Meu futuro não é no exterior, nem tão pouco aqui nessa cidade! - Guilherme rebateu.

- Você vai sim!

- Não! Eu não vou! Fui bem claro, pai! Eu não irei. Eu vou voltar para a fazenda!

Pedro segurou o braço de Guilherme, com raiva.

- Vai me bater? Vai gritar mais comigo? - Guilherme estava com a coragem em seus olhos. Ele precisava enfrentar seu pai.

- Você tem certeza que é isso que você quer Guilherme? - Pedro disse, bufando de raiva.

- Sim. - Guilherme respondeu apenas isso.

- Vamos conversar em casa! - Pedro soltou o braço de Guilherme. - Vamos!

- Vamos! Eu não suporto ficar mais um minuto aqui!

Pedro e Guilherme saíram do aeroporto e voltaram para casa.

Uma nova vida (Romance Gay/Em revisão)Where stories live. Discover now