A hora

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- Gui!? - Igor falou, percebendo o estado em que Guilherme se encontrava.

- Shiii! Igor! Ele tá no telefone com o pai! - Disse Lady, que estava varrendo ali.

- Tá bom, tá bom... Mas ele está estranho! O que aconteceu?

- Eu não sei... Mas ele mudou de cor, e está tremendo... Sempre soube que ele tem medo do pai, desde pequeno... - Lady sussurrou para Igor.

- Sério? Nossa... Eu estou preocupado agora...

Guilherme põe o telefone de volta no lugar. Ele para por um instante, de cabeça baixa e do nada sai correndo, com os olhos cheios de lágrimas, para o quarto. Ele sobe as escadas rapidamente, sem nem olhar para os lados. Ele não viu que Igor estava lá.

- Ai meu Deus! O que será, hein, mãe? - Igor estava nervoso e quase indo atrás dele.

- Não, Igor! Não agora! - Lady o segura pelo braço. - Seja o que for, com certeza ele não vai te falar agora. Ele também não te viu aqui.

- Mas mãe! Eu tenho que ir!

- Não, Igor! - Lady solta o braço de Igor. - Vá. Vocês dois vão se entender. Mas, seja o que for, compreenda-o. Ele é um garoto sensível e... Depois de falar com pai e estar assim, é algo muito sério.

- Não se preocupe, mãe! A gente se entende! - Igor piscou o olho para sua mãe.

Igor sobe rapidamente as escadas e chega no quarto. A porta estava fechada, ele tentou abrir, mas estava trancada. Ele bateu e chamou, mas nada aconteceu. Só ouvia um soluçar de choro vindo de lá.
Igor resolveu forçar a fechadura e conseguiu abrir a porta, já que era uma fechadura meio velha. Ele olha dentro do quarto e vê Guilherme sentado e encolhido, na cama, chorando.

- Gui! Gui! O que houve? Me diz! Pelo amor de Deus! Eu tô preocupado! - Igor estava nervoso. Não teve resposta. - Guilherme!

- Nada, Igor!

- Nada? Você não ficaria assim por nada! Me conta o que houve, por favor!

- Simples, Igor! Meu pai quer que eu vá embora! Que eu volte para a cidade! - Guilherme levanta a cabeça. Seus olhos estavam vermelhos e a face inundada por lágrimas.

- M-mas por que? Por que isso agora? Não foi ele que te mandou para cá e te quer de volta?!

- Sim... Mas não é só isso. - Guilherme parou de chorar. - Ele quer que eu vá, mas não para a cidade, e sim para o exterior.

- Exterior? Como assim?! - Igor caiu de joelhos, surpreendido.

- Sim. - Guilherme secava o rosto. - No colégio onde eu estudava, tem um programa em que os melhores alunos vão fazer intercâmbio no exterior, e eu fui inscrito, sem autorização, o que é errado... E enfim. Eu acabei sendo selecionado e meu pai me ligou para dizer que é para eu ir. Só tenho 3 semanas para me arrumar e ir...

- E você quer ir, Gui? - Igor ainda estava sem acreditar.

- É o curso que eu sempre quis fazer e em forma de intercâmbio, é mais proveitoso ainda! E uma chance como essa, eu não vou ter mais nunca na minha vida... Além de meu pai que quer que eu vá! Eu estou tão confuso Igor... Eu não quero te deixar! Não quero!

Igor se levanta e senta ao lado de Guilherme.

- E-eu... - Uma lágrima rolou pelo rosto de Igor. - Gui...

- Igor! Me desculpa se falei algo que te mago...

- Não! Você não falou nada demais! Eu que... Eu que sou fraco... Eu deveria entender a sua vontade, mas eu não quero que você vá!

- Eu também não queria ir, mas Igor, eu sempre quis isso... Mas meu pai tá me obrigando! Ele disse que vinha aqui me buscar!

- E quanto tempo vai ser isso?

- Se me lembro bem, 4 anos... - Guilherme baixou a cabeça.

- Mas você já tem 18 anos, Guilherme! Você pode ter voz ativa agora! Reaja! - Igor deu um soco na cama, de raiva. Seu tom de voz ficou mais grosso e ele chorava. - Se quiser ir, vá! Eu não me importo!

Igor se levantou e saiu do quarto. Bateu a porta e deixou Guilherme sozinho, que agora estava sem reação ao acontecido e a atitude de Igor.

- Eu... Eu... Por que comigo? Logo agora que estava tudo resolvido e viveríamos em paz! - Igor falava sozinho enquanto descia as escadas.
Ele vai para a varanda. Sente o clima que ali pairava e se sentou. Baixou a cabeça e começou a pensar. De repente, as palavras de sua mãe começaram a vir em sua cabeça.

"Mas, seja o que for, compreenda-o"

Ele mordeu os lábios, coçou a cabeça e suspirou.

- Eu fui tão rude com ele... - Igor falava para si. - Eu agi de um jeito que não é meu, sem ao menos pensar no lado dele... Ainda gritei com ele! Eu sou um monstro! Mas eu só quero ficar com ele. Apenas.

Igor se levanta e volta para dentro. Ele sobe as escadas e vai em direção ao quarto. No corredor, se encontra com Guilherme, que já estava abatido.

- Gui! - Igor o segurou pelos ombros. - Me perdoa! Me perdoa! Eu não queria ter dito tudo aquilo e ter aquela atitude!

- Eu que te peço desculpas, Igor. Eu falei de um jeito que não medi as palavras, sem ao menos pensar em como você reagiria. Eu já ia descer para te procurar e pedir desculpas, e...

Igor abraça Guilherme. Um abraço forte e com vontade.

- Não se preocupa, Gui. Se esse é seu sonho, siga-o. - Igor passou a mão em sua cabeça. - Mesmo que doa, mesmo que a gente fique sem se ver... Eu estarei te esperando, Gui.

- I-Igor... Você gosta de me ver chorando, né? - Guilherme estava com os olhos cheios de lágrimas. - Eu não quero mais ir, e eu estou disposto a enfrentar meu pai por isso.

- Como assim? Agora eu que te apoio para você ir! - Igor se solta do abraço e segura as suas mãos, sem jeito. - Dizem que amar também é apoiar o outro, entender... Não é mesmo? Pense em você e seu futuro, Gui. Como eu disse, estarei aqui, te esperando.

- Ai, Igor... Obrigado! Obrigado! Obrigado! Eu estou tão, tão feliz!

- Sim, eu estou também, Gui. O tempo passa rápido...

- Espero que sim. Eu prometo que vou esperar também!

- Eu confio em você, meu príncipe. - Igor baixou a cabeça.

- Eu confio em você, meu amor. - Guilherme pôs a mão no queixo de Igor. - Levanta essa cabeça, garoto! - E sorriu. - Não quero te ver triste, tá? Você é muito bonito pra ficar com essa expressão.

- Ai Gui... - Igor sorriu e o beijou. - Eu te amo.

- Eu te amo, Igor. Eu te amo! Eu te amo!

E logo depois os garotos foram para o quarto. O tempo passou, costumeiramente, e um novo dia amanhece. A calma da manhã é interrompida por um barulho de telefone tocando. Irmão vai atender.

- Alô?

- Avise a Guilherme que estou chegando aí daqui a pouco. Já estou saindo da cidade. - Era o pai de Guilherme que ligou.

Uma nova vida (Romance Gay/Em revisão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora