Só me resta aceitar

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- Boa tarde, jovem! - Responderam em forma de coral.

Guilherme estava segurando a raiva naquele momento, mas num surto, virou-se para seu pai e falou em um tom gutural:

- Você não me entende? E a minha vida na cidade? Tudo o que eu tenho lá?! Me responda!

Calmamente seu pai respondeu:

- Possa ser que eu não te entenda, mas agora você vai aprender a viver. Você não é mais uma criança e também cansei de passar a mão na sua cabeça. E pare com esse drama, você está passando vergonha, Guilherme!

Guilherme se calou. Viu que discutir só iria levar a nada.

- Como o senhor quiser. - Disse Guilherme. - Como quiser.

O jovem que ali estava falou num tom piadista:

- Hahaha! Parece aqueles burrinhos xucros que não saem do lugar!

Guilherme apenas lançou um olhar ameaçador.

- Gostei de ver. - Disse o pai de Guilherme. - Certo, agora tenho que ir, a viagem é longa e tenho coisas a fazer. Bem, se cuidem, e mais uma vez, obrigado a todos.

Nesse momento ele entrou no carro e saiu acenando. Guilherme ali estava chorando, mas de repente parou. Seu tio se dirige a ele e pergunta:

- Sou Irmão, seu tio. E essa é minha esposa, Lady e aquele é nosso filho. Lembra da gente?

- Lembro sim... - Respondeu Guilherme. - Vagamente, mas lembro.

- Certo! -Respondeu Irmão. - Eu e Lady levaremos suas malas para dentro.

Irmão chama o jovem que ali estava.

- Filho, mostre a esse rapaz nossa humilde fazenda. Ok?

- Sim, pai! - Respondeu aquele jovem.

Lady e Irmão saem dali e o jovem logo se apresenta.

- Olá! Meu nome é Igor, tenho 17 anos. - Estende sua mão - Bem... Você deve não se lembrar de mim, mas sou seu primo, e como você é da família já o considero e muito. Seja bem vindo! Tudo bem contigo? - Falou alegremente e com um sorriso.

 -Acho que pelo o que você viu, não está nada bem. - Falou Guilherme num tom sério, apertando a mão de Igor, num sinal de saudação.

- Entendo Guilherme... Mas vamos para dentro, vou te mostrar a nossa fazenda.

Enquanto andavam, Guilherme prestou atenção na fisionomia daquele rapaz. Da mesma altura que ele, loiro, tom de pele claro, olhos azuis e um avantajado porte físico, que logo foi deduzido ser por causa do trabalho na fazenda.
Igor mostrou os animais, as plantações, até o cercado dali. Eles pararam na frente do celeiro, e sentaram-se nos montinhos de feno que ali estavam.

- Me conta mais sobre você, Guilherme! - Falou Igor. -O que você mais gosta de fazer e tal...

- Bem, tenho 17 anos, mas em breve faço 18 e gosto de desenhar. - Guilherme respondeu seco.

- Vish! Só isso? Pensei que as pessoas da cidade eram mais interessantes! Hahahaha!

- Para, Igor.

- Tá, eu paro, eu paro. Bem, também tenho 17 e faço 18 anos em breve... Gosto de trabalhar, sempre gostei da terra. Me encanta muito. - Disse Igor com um sorriso estampado na face.

- Que legal... - Disse Guilherme. - Bem, ta ficando tarde, olha o sol, está se pondo. Vou tomar um banho. Meu dia foi extremamente cheio.

- Certo, certo... Vá na frente, tenho que fechar as porteiras e o celeiro.

Guilherme deu as costas e saiu. Foi em passos lentos, pensando naquilo tudo que tinha acontecido no dia. Igor enquanto fechava as portas do celeiro começou a rir sozinho do jeito estranho do Guilherme. Ele não se doía com as palavras secas do jovem que agora moraria ali por um tempo; pelo contrário, ele até achava interessante.

Chegou a hora do jantar e Guilherme desceu para se juntar com aquelas pessoas estranhas e comuns. Receoso, sentou-se na mesa, a pedido de Lady e observava todos olharem para ele com um sorriso, meio forçado, mas sincero. Parecia que todos ali estavam felizes com a chegada do estranho visitante a longo prazo.

- Boa noite! - Disse Irmão. - Seja bem vindo! Te falei isso mais cedo, mas é sempre bom repetir. E aí rapazinho, está gostando daqui? O que achou?

- Não envergonhe o menino, querido! - Exclamou Lady.

- Err... Bem... Sim, sim. Gostei do clima daqui. Contem comigo no que precisarem. - Respondeu Guilherme, timidamente.

Sua fala é cortada pela a de Igor, que bate a mão na mesa e num tom piadista, igual ao de mais cedo, falou:

- Que nada, ele só quer voltar para a cidade de onde veio!

- Calma, Igor! - Falou Lady. - Assim você vai assustar o garoto! Relaxe Guilherme, com certeza ele falou isso brincando.

De todas as horas daquele dia, aquelas palavras foram as que mais fizeram sentido para o garoto recém-chegado.

Guilherme esboçou um sorriso meio forçado, como se estivesse concordando com Lady.

- Sim, estou... - Falou Igor, com a voz baixa.

- Bem, bem, bem! Vamos comer! - Gritou alegremente Irmão. - Estou com fome, e creio que vocês também, hahaha!

Enquanto comia, Guilherme via a simplicidade e carisma que aquelas pessoas lhe passavam, mesmo até o brincalhão Igor, que mesmo com as cortadas do ainda o tratava bem.
A janta acabou, todos ficaram fartos, e Guilherme diz:

- Bem, gente, eu viu subir agora, estou meio cansado, foi um dia agitado. Boa noite a todos...

- Boa noite! -Responderam em forma de coral.

- Obrigado!

Guilherme foi para o quarto e fechou a porta. Jogou-se na cama e virou a cabeça. Viu a lua que estava sublime no céu e ali mesmo, foi pegando no sono, rezando para que aguentasse tudo o que viria a partir daí.

Igor, com sua ousadia, abriu a porta do quarto onde Guilherme estava. Vendo que ele estava dormindo, fechou a janela e o cobriu. Saiu e fechou a porta lentamente.
O galo canta logo cedo. Tinha amanhecido e Guilherme se acordou assustado.

- Tem uma galinha aqui no quarto? - Sussurrou para si.

- Não é uma galinha, sim um galo. E dos fortes. - Falou Igor, que estava acabando de abrir a janela.

- Como você entrou aqui? Que falta de privacidade é essa? - Exclamou Guilherme. - Não mereço uma coisa dessas!

- Calma, calma. - Falou Igor, serenamente. - Minha intenção não era te acordar, e se o fiz, minhas sinceras desculpas. Não queria acordar a princesa.

- Princesa? Me respeite, seu...! - Gritou Guilherme. - Além de me acordar, vem me falar besteira logo cedo?!

- Na verdade, aproveitando que estou aqui, peço que se arrume e vá tomar café. Vamos trabalhar já.

"Vamos". Guilherme parou. Ponderou que o jeito era trabalhar mesmo, já que estava ali como hóspede não podia recusar.

- Tá, Tá, agora me deixe. Ou vai ficar me olhando enquanto troco de roupa? - Disse Guilherme num tom raivoso.

-Calma, burrinho! - Disse Igor.

- Já falei pra não me chamar assim! - Falou, gritando mais uma vez.

Guilherme se arrumou e foi tomar café. Assim que terminou, foi para o celeiro, onde Igor estava.

- Cheguei.

- Que ótimo, venha comigo, temos muita coisa pra fazer hoje.

Uma nova vida (Romance Gay/Em revisão)Where stories live. Discover now