CAPÍTULO II - A Morte de Davi

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Capítulo II

A morte de Davi

Normalmente nas sextas-feiras mamãe levanta mais cedo que todos, para com a faxineira dar a arrumação mais completa que já se viu. Papai, quando em casa, gosta de aproveitar a cama mais um pouco e levanta-se mais tarde.

Há três meses mais precisamente, a sexta-feira chegou e com ela a faxina. Tudo corria igual e as horas correram rapidamente. Lá pelas 11h, mamãe estranhou que papai ainda não havia levantado e quando lá chegou já o encontrou morto.

Assustada como os seus gritos, atravessei correndo o corredor e vi a triste e lamentável cena. Apesar de tudo ele estava sereno, não dando mostras que tivesse sofrido nenhuma dor. O médico da família concluiu um infarto fulminante.

Seguir os procedimentos legais do velório e enterro foi algo traumatizante, mas mamãe não tinha condições para fazer o necessário. Mais uma vez contei com tia Rissinha ao meu lado.

Sempre que conversávamos, meu pai e eu, ele dizia que gostaria que no dia do seu enterro eu tocasse para ele, depois que voltássemos do cemitério. Eu ria e caçoava dele, perguntando como escutaria pois estaria morto. E ele me respondia que me ouviria onde quer que estivesse.

De repente, chegando esse momento, fiquei pensando como nossos frágeis nessa vida. O que eu não sabia era que um pedido parecido com o meu foi feito para minha mãe. Ele gostaria que fossem recebidos em nossa casa algumas pessoas mais íntimas e seus amigos do trabalho. E nessa pequena recepção teria lugar o concerto que eu daria, com suas sonatas prediletas.

O velório passou como se um vendaval estivesse diante dos meus olhos. Nada vi, nada reparei e tudo senti. De braços dados com mamãe e tia Rissinha, que inconsoláveis, não sabíamos quem mais chorava. O pranto silencioso de mamãe foi o mais cortante no meu coração e nunca mais esquecerei o momento de baixá-lo à sepultura.

Quando chegamos em casa, os amigos que lá ficaram já haviam arrumado tudo. A sala de jantar estava arrumada, com o piano ao fundo. Um pequeno coquetel pronto para ser servido e composto pelos produtos que transformaram a vida dele num sucesso estrondoso de vendas.

Chegamos e conosco as pessoas que foram ao cemitério. Eram mais ou menos trinta pessoas. Depois de nos refrescarmos, foram servidos bebidas e canapés, acompanhados de frios variados.

Como não gostaria que demorasse, tomei a palavra e em nome de minha mãe e meu agradeci a presença de todos e anunciei que iniciaria o concerto que meu pai pedira. Executei Sonata ao Luar de Beethoven, Noturno de Chopin e Sonata 01 de Mozart, que eram as preferidas dele.

No final, com o rosto banhado em lágrimas, agradeci as palmas e as completei em homenagem ao meu querido pai.

Observei que após a retirada de todos, um desconhecido, mas parecendo muito a vontade, conversava com tia Rissinha, sentados num sofá destacado no restante dos móveis.

Indisposta para o que quer que fosse, voltei as costas e fui tomar um café, percebendo que mamãe já havia se retirado e algumas pessoas amigas cuidavam da arrumação de tudo. Caminhava para cozinha, quando tia Rissinha me chamou baixinho e fui obrigada a voltar.

Querida, ela me disse ao ouvido, aquele jovem é assessor imediato do dono do conglomerado Floratta, que possui hotéis em todo o Brasil e que eram os maiores fregueses que o seu pai tinha, além de muito amigos e ele gostaria de dar uma palavrinha com você em particular.

Como negar algo assim para tia Rissinha??? Impossível, assim caminhei para o jovem que imediatamente colocou-se de pé. Chegando mais próximo, estendeu-me as mãos e as tomou entre as suas carinhosamente, depositando um beijo em minha testa.

O meu corpo foi sacudido por um frêmito assustador e um calor tomou-me inteira, fazendo-me sentir as roupas apertadas e incômodas.

Olhou-me dos olhos e disse:_ Alora, eu sou Francisco Floratta, filho adotivo de Amato Floratta, donos dos hotéis clientes do seu pai. Tenho um grande prazer em conhecê-la, mesmo num momento tão delicado como da perda do nosso amigo e seu pai.

Foi impossível conter o pranto, e chorei copiosamente no seu ombro, pois Francisco tomou-me em seus braços carinhosamente.

Tirando um lenço secou os meus olhos e levou-me para sentar. Tia Rissinha pediu licença e foi estar com mamãe.

_Francisco, também tenho muito prazer em conhecê-lo e peço desculpas pelas lágrimas, e sei que você me compreende.

_Perfeitamente, Alora, eu quero apenas me apresentar e pedir para que possamos conversar mais calmamente, pois tenho uma proposta de trabalho para lhe fazer. Mas não tenho pressa, vou deixar o meu contato e você pode me procurar quando puder.

_Obrigada, Francisco, com certeza iremos nos falar em breve.

O moço despediu-se e saiu em seguida.

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REGIDA PELO DESTINOWhere stories live. Discover now