Capítulo 1

443 32 9
                                    

Nós morávamos em Boston. Lá era uma das cidades mais belas do estado de Massachusetts ou até mesmo do país. No inverno, que aliás, era a estação que estávamos na época, costumávamos acordar com uns -21°C. Era mais ou menos isso ou até mais.

Eu sempre gostei de frio, ao contrário de minha mãe. Ela vivia olhando a previsão do tempo, sempre com a esperança de um dia de verão, como na Florida.

Eu sempre dizia:

— Isto é patetíco!

E ela respondia:

— Isso não é verdade! — Sol! Sol! Sol! Lá lé lé lá ! — Ela cantarolava.

A estrada aonde estávamos era bem longa. Do lado direito havia uma imensa barranceira que estava coberta de neve e pequenas e grandes árvores de galhos secos aqui e ali.

De repente, minha mãe me olhou e disse:

— Está ansiosa?

— Para o quê? — Perguntei sem a olhar diretamente, pois estava ocupada demais levantando e abaixando a trava da porta do carro.

— Para o primeiro dia na escola nova, querida!

Soltei a trava, me ajeitei no banco e me virei para ela. Mamãe estava sorrindo, parecia ansiosa e ao mesmo tempo desinteressada em minha resposta, talvez estivesse sem opções de assuntos.

— Caramba! — arregalei meus olhos em surpresa, juntei minhas mãos, como em uma oração. — Eu tinha me esquecido. Obrigada, mamãe! Mal posso esperar! Fiquei até nervosa agora. Que nervosismo é esse, meu deus?!

Às vezes, passava dos limites, o meu sarcasmo. Mas, no fundo, eu só queria ficar em paz, em todo momento, em todo instante, só eu e eu. No entanto, minha mãe nunca entendia o meu olhar de:

"Eu não quero conversar". 

— Pronto. Já chegamos, Nathy — disse ela ao dar um longo suspiro, abaixou a cabeça e a levantou, rapidamente.

— Eu queria saber o porquê de ainda me trazer até aqui... — falei em protesto — Eu canso de dizer que estou bem, mas parece que você não entende!

Tirei o cinto de segurança e olhei para algo qualquer lá fora.

— Isso não é verdade! Eu continuarei trazendo você aqui mesmo que fosse preciso vir todos os dias e todas as horas!

Sua voz foi firme e objetiva, como se estivesse me dando uma bronca.

Quando eu tinha 11 anos, fui diagnosticada com distúrbio alimentar. Desde então, a cada duas vezes no mês, minha mãe me levava ao consultório do Dr. Jamie, que ficava no centro da cidade. No início, eu odiava aquelas idas e vindas. Às vezes, eu até conseguia enrolar minha mãe, porém, com o tempo, ela começou a desacreditar em minhas supostas dores.

Saí em silêncio e bati a porta do carro com força, o mesmo fiz com a porta do consultório. A única diferença foi aquele sino irritante da massaneta que ficou fazendo minha cabeça girar. Fui logo em direção de uma cadeira e me sentei, minha mãe entrou poucos segundos depois, pegou uma revista e se sentou ao meu lado.

O lugar estava quieto, só havia eu, minha mãe e mary, a recepcionista. Tudo cheirava a lustra móveis e desinfetante de lavanda.

— Mary, quem é o próximo? — Gritou o doutor à recepcionista.

Ele sempre teve aquela mania, não sei por que não ligava de sua sala para a recepção, ou ia até a sala de espera para conferir, ou, simplesmente esperava até que o próximo paciente entrasse em sua sala.

Obsessive ManDonde viven las historias. Descúbrelo ahora