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Já perdi conta ao tempo a que estou a deixar pequenos cortes neste tronco. O meu braço dói e pede-me para parar mas eu não posso, simplesmente. Tenho que estar a 200% para o combate.
A cada golpe na árvore lembro-me de 23. Deixei-a ali sozinha no bosque mas algo me diz que ela se safa muito bem sozinha se alguma coisa acontecer.
Num golpe com demasiada força o meu braço faz crack e uma dor imensa percorre o meu corpo, deixando-me paralisado. Um grito sai da minha boca automaticamente e a minha mao larga a espada. Palavrões saem num sussurro enquanto eu apanho a espada e vou a correr para a cabana.
O meu braço ferido está apoiado no meu outro braço. Prendo o lábio entre os dentes para não dizer mais barbaridades e tento correr mais depressa.
Vejo finalmente umas luzes e dão-me a força necessária para la chegar.
Assim que chego grito pela 23, que sai da cabana rapidamente.

-Está a gozar comigo? Com esses gritos todos pensei que estivesse a ser comido por um urso ou assim! -ela fala assim que eu aponto para o meu braço.

-Quem deve estar a gozar comigo és tu! Importaste de me ajudar ? - resmungo irritado e sem forças para lhe gritar.

Ela vem até mim e poe as suas mãos nas minhas costas, empurrando-me para dentro.
Deito-me devagar na minha cama para não aleijar ainda mais o braço e 23 ajeita a almofada por baixo da minha cabeça, de maneira a que eu fique confortável.

-Espere aqui um pouco, eu vou num pé e venho no outro.

Suspiro, fechando os olhos. Nunca percebi esta expressão, como é que ir ao pé coxinho para la e para cá faz com que a viajem seja mais rápida?

Não sei quanto tempo passou até sentir as pequenas mãos de 23 no meu braço dorido, resultando num grito por minha parte com olhos esbugalhados á mistura.

-Tenha calma, por favor. Beba isto. - pego numa pequena tigela de metal que ela me da, olho para a mesma e vejo um líquido transparente com ervas a boiar.

-Acho que não tenho muita sede. - torço o nariz com o cheiro daquela mistela.

-Mas tem que beber para se curar. - ela esboça um sorriso que aquece o meu coração, apesar das dores.

-Sabes 23, a minha bebida preferida não é, de todo, água suja com comida para pássaro. - tento sorrir também, mas falho redondamente.

-Oh, ande lá, faça-se um homem!- esbugalho os olhos com a expressão dela. Que língua afiada!

Levo o objeto a boca e bebo um pouco. Isto é mais do que horrível! Tem um sabor azedo, e ainda para mais as sementes são duras como o raio.

-Desculpa miúda, mas eu não consigo.- baixo de novo a tigela.

-Por amor de deus. - ela revira os olhos e poe a sua mão na minha, obrigando-me a beber o líquido.

Assim que foi todo abaixo, começo a tossir fortemente. Aquela porcaria sabia mesmo mal, e ela não devia ter feito isto. Olho a pequena figura com um olhar ameaçador mas ela apenas encolhe os ombros e sorri.

-Desculpe, mas era mesmo necessário. Agora descanse.

Assenti e fechei os olhos.

(...)

Senti uma pequena mão a abanar-me e mesmo antes de abrir os olhos já sabia do que se tratava.

-23 por amor da santa, tu tens um fetiche em acordar-me?- falo de olhos fechados.

-Não tenho a culpa que seja preguiçoso, e está de noite já.

Abro os olhos e franzo as sobrancelhas.

-Se está de noite ainda mais razão me das para eu dormir.- falo e viro-me para o lado fechando novamente os olhos.

Quando penso que estou sozinho, sinto umas pernas a a minha volta.

-Que raio?-levanto-me rapidamente fazendo 23 cair no chão.

Tento ficar sério mas quando vejo as suas pernas no ar solto uma gargalhada. E outra. E outra. Até sentir lágrimas nos meus olhos de tanto rir.

-Pode-me dizer qual e a piada? Também me gostava de rir! - a sua cara de chateada ainda me fez rir mais, e ter que me agarrar a barriga.

Vejo a empregada levantar-se a muito custo e a dirigir-se lá para fora.

Levanto-me e sigo-a. Nunca na vida segui tanto uma rapariga como sigo está. Mas eu não posso, de todo, estar chateado com ela. Apesar das desavenças, ela é a minha única companhia aqui no meio do nada.

Chego lá fora e vejo-a plantada em frente á mesa.
Aproximo-me e toco no sei ombro levemente.
Ela vira-se e da-me uma cotovelada na barriga e um murro no nariz.
Grito e levo a minha mão ao nariz resmungando.

-Mas que porra 23? Qual foi a ideia?

Ainda fico mais indignado quando a vejo a rir-se como se á sua frente tivesse um espetáculo de comédia.

-Tenha lá calma, nem ta a sangrar! Eu fiz devagarinho!

Devagarinho? Está gaja e uma psicopata é o que é!

Ela da-me um leve encontrão ainda a sorrir e senta-se na mesa.

-Vá, vamos lá jantar.

king. -h.sOnde as histórias ganham vida. Descobre agora