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-Então e quando é que me vais dizer o teu nome? - a baixa rapariga andava uns passos a minha frente, o seu corpo era rechonchudo mas ela tinha mais capacidades que eu, já que estávamos a andar a 4 horas e ela não parecia estar perto do cansaço. Já eu estou aqui a suar por todas as partes que possam imaginar.
Assim que a minha pergunta lhe chega aos ouvidos, uma risada ouve-se pelo ar deixando-me confundido. Suspiro assim que percebo que não irá ser hoje que vou ter o prazer de proferir tal nome.

-Ao menos podes-me dizer se falta muito?

Desta vez o seu corpo para e ela vira-se para mim, deixando-me olhar para seus olhos e ver um certo brilho neles. Poe as mãos na cintura como sinal de superioridade e consigo notar em seus pés a levantarem-se um pouco, talvez a tentar parecer da minha altura. A minha natureza obriga-me a por os braços cruzados a frente do peito e levantar o queixo tentando parecer importante.

-Por acaso até não falta. Mas está cansado o senhor? - a maneira como ela diz senhor raspa nos meus ouvidos. Da para notar a léguas que ela pronuncia a palavra de maneira irônica.

-Não! - apresso-me a dizer- Nunca estarei cansado!

Até estou a ser honesto. Bem, pelo menos 30% de honestidade. Eu estou cansado, as pernas estão doridas e sinto a cabeça a roda. Mas não vou dizer. Porque ela vai ser a minha "treinadora". Custa-me realmente a admitir que uma simples empregada vai-me treinar. Mas eu por parte apenas aceitei para conviver mais com ela. Eu vou continuar a treinar a minha maneira, apenas com ela lá.

Após andarmos por mais uns minutos, ou talvez 1 hora, perdi a conta, chegamos a uma floresta mais densa do que as árvores por onde passamos anteriormente.
Á medida que entramos mais naquela escuridão começo a ouvir sons de animais o que me deixa, digamos que, atento ao redor.

- Pare -diz a 23 do nada o que me faz ir contra o seu corpo imóvel no meio do mato.

- Mas que mer... - Começo a dizer mas consigo morder a língua a tempo antes de soltar a profanidade que ia dizer, porque independentemente de me encontrar na presença de uma mulher de estatuto baixo tenho de manter o respeito, ou parte dele.

- Porque é que paraste do nada? - Acabei por dizer.

- Shh... - Amolestou-me o que me deixou irritado. Eu até estava a ir na brincadeira do "vou ser a tua treinadora blábláblá" , mas acho que cometi um erro e estou a perder o meu tempo com ela - apesar de não ser mau de todo, só que não me vai salvar quando eu estiver em campo.

- Ok... Fica aí a fazer o que quer que estejas a fazer, porque eu vou regressar. - ou pelo menos tentar regressar se ainda me lembrar da treta do caminho. Virei-lhe as costas e mal tinha dado um passo quando senti algo a embater no meu corpo atirando-me para a terra.

- Quando é que aprende a ouvir o que os outros lhe dizem, Harry. - ouvi a voz da 23 a proferir cada palavra docemente ao meu ouvido.

- E da próxima vez que eu lhe pedir para calar , fá-lo. A sério, Senhor... - suspirou e senti as suas coxas a perderem a força em redor do meu corpo. Podia distinguir serenidade e preocupação nas suas palavras, o que me deixou curioso.

Apoiei as palmas das mãos na terra e virei-me, ficando de costas. Não me importa sentir a terra sobre o corpo, gosto da sensação irregular que causa. A 23 continuou sentada sobre mim, mas recuou um pouco ficando apoiada nas minhas coxas em vez do meu baixo-ventre.

- Deves-me explicações. - disse rígido.

- Eu sei. Mas não agora.

- E porque não?

- Não está preparado.

- Como assim?

- Logo compreenderá.

Abri a boca para refutar, mas a 23 alcançou a palavra primeiro que eu.

- Não insista. Agora. - pausou e um sorriso começou a cobrir os seus lábios. - Tem de me obedecer quer queira ou não.

Revirei os olhos. Lá vamos nós com a tanga do "obedecer".

- Não me revire os olhos, Senhor. - riu-se e eu podia ouvir as notas de sarcasmo na sua voz. - Olhe em redor.

Franzi o sobrolho mas fiz o que pediu. Olhei em volta do sítio onde estávamos. Árvores rodeavam-nos como se formassem um círculo à nossa volta ; o que era estranho; criando alguns caminhos entre si, haviam alguns arbustos, flores, nada de especial.

- Que tem?

- Olhe com atenção. - ordenou aborrecida. - Não nota nada de diferente?

- Não...

A 23 suspirou e levantou-se de cima do meu corpo. Quase lhe pedi para se deixar ficar , mas reneguei-me a dize-lo. À que manter a distância profissional, apesar de às vezes ser complicado o fazer quando ela tem esta atitude atiradissa e desafiadora, para não falar do resto.

Acabei por me levantar do chão para não mostrar qualquer intimidação ou insuperioridade perante a 23, porque um futuro rei de um reino não deve deixar que ninguém seja maior que ele.

- Vamos tentar novamente. - suspirou e aproximou-se de mim devagar. - Posso? - olhou para mim de olhos espectantes.

- Ah... Sim? - não era para ter saido como uma pergunta, mas não sabia o que ela iria fazer o que me deixou ligeiramente anseoso.

A 23 sorriu e colocou-se atrás de mim. O meu instinto de lutador logo foi acionado e fiquei alerta. Senti as suas mãos passarem levemente pelos meus braços o que me causou arrepios. Rezei baixinho para que ela não notasse na minha reação.

-Oiça com atenção. - ela proferiu e eu fechei os olhos com força e respirei fundo. - Agora sinta as energias a tua volta.

Respirei fundo mais uma vez e concentrei-me. Ouvi-a as folhas das árvores e algures longe um pássaro falava. Ia a respirar fundo de novo quando oiço uma gargalhada. Abro um olho e vejo a 23 com a mão a frente da boca a rir. Levanto a sobrancelha.

-Qual e a piada? - pergunto realmente indignado. Ela está a gozar comigo.

-Devia ter visto a sua cara! Mas acha que está onde? No amanhecer? Isto é o mundo real, senhor. - continuo a rir á medida que a minha reputação ia baixando- Tava mesmo a espera de sentir alguma coisa?

Ela pergunta e eu tenho que morder o lábio para não sorrir. Não posso mostrar que achei piada a este plano para esfregar a minha estupidez na cara.

-Não teve piadinha nenhuma! - cruzo os braços e continuo a andar.

-Se eu fosse a você não iria por aí! - ela grita, mas eu ignoro e continuo a andar.
Mas quem é que ela acha que é ? Unf.

-Senhor! - ela grita agora mais longe e eu bufo com a insistência dela.

De repente sinto uma coisa no pé e todo o meu corpo é levantado, ficando de cabeça para baixo. Um grito dai dos meus lábios quando percebo que tou no ar amarrado a uma árvore.
Vejo a minha empregada a correr até mim a abanar a cabeça. Quando chega fica a olhar para cima tentado fazer contacto com os meus olhos.

-Que raio?! - eu grito e ela sorri.

-O que é que eu disse sobre obedecer-me?

Reviro os olhos. Eu não sei o que raio me aconteceu mas isto e inadmissível!

-Mas vais-me tirar daqui ou não? - eu pergunto já sentindo o meu sangue todo no cérebro causando algumas tonturas.

-Agora desenrasque-se. - ela ri e vejo as suas ancas a abanarem-se até longe.

king. -h.sOnde as histórias ganham vida. Descobre agora