cinco.

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Capítulo cinco


        Astrid passara o resto da noite perto do irmão e dos colegas dele. O quadro permanecia na sua mente a mil à hora. Estava decidida em encontrar um significado para aquela obra. Havia sido desenhada com algum objetivo e a sua simplicidade tornava tudo ainda mais complicado. A sua mente remoía as possíveis explicações para as cores utilizadas, mas antes de sequer poder pensar em algo com sentido, a assinatura do artista interrompia-lhe os pensamentos. Mais propriamente o facto de estar centrada na tela.

        Guardou a máquina na bolsa que tinha consigo assim que avistou finalmente a sua casa. Estava cansada e só desejava poder enfiar-se por debaixo dos lençóis revestidos com um tom escuro. No entanto, o deitar-se-na-cama-a-fim-de-descansar fora por água abaixo assim que viu uma mala de viagem, familiarmente conhecida, à porta de casa.

        Olhou para o irmão assim que ele se posicionou a seu lado. A sua expressão estava confusa como a dela. Ele não tinha conhecimento de nada e um alívio percorreu-lhe as veias ao saber que afinal não fora a única a não ser informada. Todavia, ao ouvir a tão conhecida voz, exageradamente aguda, voltou ao seu estado confuso erguendo o sobrolho.

        - Manos! – sem demora um par de braços finos apertaram os outros dois que permaneciam em choque. – Tive tantas saudades vossas. – admitiu, verdadeiramente ou não a rapariga.

        Assim que se viu livre dos braços da outra, Astrid olhou para David como que pedindo ajuda e logo depois correu até ao quarto, trancando a porta assim que entrou pela mesma. Pela primeira vez em dias começara a sentir que talvez pudesse ser como as outras pessoas, que talvez pudesse sair de casa e divertir-se, que talvez o seu trabalho pudesse ser valorizado, que até mesmo ela pudesse ser valorizada, ainda que pela família, mas todo esse talvez desaparecera com a chegada de Sophie.

        Deitou-se sobre o edredão e fechou os olhos sendo logo depois audível uma batida do outro lado da porta.

        - Astrid, abre a porta. – pede o irmão. Não queria falar com ninguém, mas David sempre a entendera, desde que se lembra. – Eu não fazia a mínima ideia de que ela vinha já hoje. – admite abraçando a mais pequena que logo escondeu o pequeno rosto no peito do outro.

        - Achas que a mãe vai voltar ao que era antes? Eu quero dizer, achas que vou poder sair com a Sophie aqui?

        - Olha para mim, - pede ele pegando no queixo dela – se depender de mim tu vens comigo todos os sábados, entendido?

        - Mas-

        - Mana, esquece tudo o resto, foca-te apensas em ti e na tua felicidade.

        Felicidade. A palavra repetia-se na sua mente vezes sem conta. Ela não era feliz, na verdade não se lembrava de alguma vez o ser. Desde pequena que lidava com um mundo perturbado, com pessoas perturbadas. E talvez ela também estivesse perturbada. A felicidade, no entanto, pode alcançar qualquer pessoa, mesmo a mais perturbada.

        - Eu não sou, nem nunca serei feliz. – admitiu fechando os olhos sobre a almofada.

        - Não Astrid. Para com isso. – David alcança com facilidade os braços da irmã, posicionando-se a seu lado. – Não digas isso, sabes que não é verdade. – profere beijando suave e docemente a testa da mesma.

        A chegada de Sophie fora inesperada, ninguém contava com a sua presença, pelo menos durante mais duas semanas, mas aqui está ela. Astrid não sabia se era definitivo, se a outra iria voltar novamente para perto dos avós paternos, onde era suposto ficar durante um mês e meio. Não fora apenas para matar saudades, a distância entre a escola e a casa deles era menor, o que facilitava imenso.

        Sophie frequentava o nono ano. Não era, de todo, uma boa aluna. Passava, como se costuma dizer, à rasca.

        - Eu acredito em ti e na tua força.

        Astrid suspirou. Não estava tão confiante quanto o irmão. Ou melhor dizendo, não estava nada confiante. Era complicado, mas ao mesmo tempo uma tontice. Afinal, ela era apenas uma rapariga, a sua prima na verdade. Não se podia deixar ir abaixo, não tão facilmente. Não só porque sim.

        - Preguiçosa, olha para mim. – ordena o mais velho puxando pelo queixo da irmã. Esta virou-se para ele enrugando o nariz e forçando os olhos a manterem-se fechados. – Abre os olhos. – pede e pressiona as pálpebras da outra a abrirem-se. Ela ainda tentou resistir ao gesto, mas a certa altura desistiu e focou-se no irmão. – Muito melhor. – sorri graciosamente – Encontraste alguma obra melhor que a minha? – leva as mãos ao peito e logo de seguida ao cabelo como que para mostrar superioridade, neste caso em relação ao seu trabalho.

        - Por acaso...

        - O quê? – mostra-se falsamente ofendido perante a resposta da irmã não evitando em rir logo de seguida. – Juro que pensei ser melhor que todos os outros. – imita limpar uma lágrima fazendo com que Astrid abane a cabeça devido à sua atitude infantil.

        A mais nova levantou-se da cama e procurou a sua bolsa que se lembrava de ter trazido consigo até ao quarto. Encontrou-a ao lado de uma cadeira e rapidamente extraiu a máquina fotográfica de lá de dentro. Sentou-se de novo ao lado do irmão.

        - Olha – começa ela procurando pela fotografia –, sabes a quem pertence esta tela?

        Apesar de tudo a mente de Astrid ainda remoía as possíveis explicações para o significado da assinatura, que agora se havia tornado mais interessante que a própria pintura. Estava decidida em descobri-lo, fosse qual fosse a forma.

        - Já o vi algures. – admite David – Acho que se chama Kai e é tímido. – a rapariga assente.

        Kai. Ela sabia que ele era tímido, mal se pronunciou quando ela fotografou a sua tela, dizendo apenas que não havia problema algum em ela fazê-lo.

        - Mas para quê esse interesse todo? – a de cabelos escuros revirou os olhos assim que percebeu o tom de voz do irmão e posicionou o objeto que estava na sua mão em cima da mesinha de cabeceira.

        - Gostava de saber o porquê de ele assinar trabalho no centro da tela.

        - Acho que isso vais ter de lhe perguntar pessoalmente. – afirma David piscando o olho à irmã antes de sair do quarto.

        Talvez fosse essa a única opção. Perguntar-lhe pessoalmente. Mas primeiramente tinha que arranjar uma forma de se livrar da prima.


[N/A: Porque é que eu tenho um feeling de que isto está um pouco (eu quero dizer muitíssimo) confuso? Isto está uma confusão total, i'm so sorry. Eu sei que aquela história da Sophie não tem pés nem cabeça, i mean, a mãe voltar ao normal; manos e primos; i know i know eu espero conseguir tirar-vos essas dúvidas mais para a frente (pretendo fazê-lo)

Bem eu quero muito sinceramente saber a vossa opinião, 

sara] 

SUPORTAWhere stories live. Discover now