Capítulo um
Um edifício branco e moderno encontrava-se agora em frente de ambos. Durante o caminho Astrid apenas respondia às intercaladas perguntas que o irmão lhe fazia, ainda assim com alguma dificuldade. Era novo para si, como uma criança a aprender a caminhar. Mas sabia que de alguma forma todo este esforço era para satisfazer a vontade ao irmão, e talvez, bem lá no fundo, a sua também.
A porta de vidro cedia a visão de umas grandes escadas de madeira brancas e vários quadros suspensos ao longo do estreito corredor.
- Estás pronta? – a rapariga olha o irmão e receosa assente afirmativamente. Com os braços sobre os ombros da mais pequena, David toma a liberdade de entrar no edifício.
Vários tipos de obras encobriam as paredes brancas, das mais coloridas e alegres, às mais escuras e deprimentes. E o ruído realçava-se de tudo.
- Olá David! – uma voz, desconhecida para Astrid, faz com que esta eleve a cabeça encontrando um grupo de indivíduos. – É a tua irmã?
- Hey John! – o de cabelos curtos cumprimentou o outro com um aperto de mão, dando à irmã a liberdade de se deslocar para onde quer que fosse, mesmo que esta não tivesse movido nenhum dos seus músculos. – Sim é. Astrid este é o John, a Layla, namorada do John, - articulou indicando com o braço para uma rapariga ruiva, sentada ao lado de John - o Liam e o Mark. – proferiu rapidamente os restantes elementos sentando-se logo de seguida numa cadeira preta.
Astrid, demasiadamente constrangida com a situação, sussurrou um pequeno "Olá" aos elementos que, por sua vez, cumprimentaram-na de uma forma muito mais jovial e engraçada.
Ainda que tímida, ganhou ânimo e decidiu investigar o lugar apreciando as aleatórias telas que ou estariam a meras horas de serem terminadas ou até mesmo já concluídas. Admirava a forma simples com que os pincéis se moviam, deixando o rasto dos acrílicos por onde passavam. Era dessa forma que se viam resultados. Era dessa forma que se pintava. E era dessa forma que Astrid comunicava, ainda que para si mesma.
- Astrid, certo? – sobressaltada, a de olhos verdes virou-se reavendo a rapariga ruiva que há pouco lhe fora apresentada como Layla.
- Sim.
- Adoro imenso o teu cabelo Astrid. – sem saber como reagir ao elogio da outra, Astrid focou-se no que a cercava.
Havia metido na cabeça que a sua aparência era algo desprezável e talvez, as palavras proferidas anteriormente não a tivessem atingido como Layla desejara. Cada vez que se encarava ao espelho via uma rapariga feia, com um corpo feio e essa visão permanecia no seu pensamento para todo o lado que fosse (apesar de raramente sair do quarto), a toda a hora. No entanto, a realidade estava muito longe do que ela via. Os seus olhos grandes e verdes destacavam-se de todos os outros e os seus longos cabelos, amiúde sedosos, viam-se ao longe; Não era gorda, de todo, os seus membros, tanto superiores como inferiores, eram magros e isso devia-se à pouca comida que ingeria diariamente.
- Não quero que penses que só estou a dizer isto porque sim, pareces insegura. – constatou a ruiva observando a forma atabalhoada como os dedos da mais baixa se moviam.
- Obrigada. – gratula quase silenciosamente.
Sentia-se desconfortável ao falar com alguém que nunca vira anteriormente e porventura os elogios não facilitassem de tal forma.
Olhou em volta, era visível o seu desconforto. Estava submetida a uma multidão de pessoas desconhecidas para ela, que transportavam consigo sorrisos e alegria para dar e vender. Não que ela estivesse contra a esse sentimento, porque não estava, mas não se adequava a tal ambiente, em que tudo é perfeito e corre bem e a palavra 'problema' não está incluída no seu dicionário.
Sentiu algo a mover-se a seu lado e virou-se.
- Bem, eu estou ali à beira deles. – informa Layla, indicando para o grupo de rapazes que fora apresentado a Astrid, há alguns minutos atrás, como amigos do seu irmão. – Se for necessário alguma coisa, grita. – finaliza ela abandonando o lugar com um genuíno sorriso no rosto.
Depois de algum tempo a pensar em nada em concreto, Astrid olha em seu redor. Misturas de cores fazem com que ela fique a pensar sobre o significado daquelas amálgamas. Queria sair dali e voltar para o seu quarto onde teria tudo o que necessitava, mas ao mesmo tempo ambicionava levantar-se e sujar uma tela com variados tons de azul, uma cor que aprecia imenso, sem que ninguém a julgasse.
Fechou os olhos e suspirou. As dores de cabeça, talvez do exagerado barulho do local (ou tormentos psicológicos), começavam a assomar. Sabia que tinha de sair dali, e quanto mais rápido, melhor. Abriu os olhos e num gesto veloz levou a mão ao peito controlando a respiração que, de um segundo para o outro acelerou drasticamente, ao ter como primeira visão uma mulher, já com alguma idade, a olhá-la fixamente.
- Peço imensa desculpa menina - absolveu-se apressadamente a senhora com uma bata azul, o que dava a entender que trabalhava naquele lugar –, não queria de maneira nenhuma assustá-la. – Astrid anuiu com o fôlego mais calmo – Você estava com os olhos fechados que pensei que lhe estivesse a dar algum ataque. – justifica-se Alma (de acordo com a placa que transportava ao peito) notoriamente preocupada.
- Astrid! – invoca David correndo até ela – Hey mana, estás bem? – questiona-lhe ele segurando, com ambas as mãos, a cara da irmã. Esta assente afirmativamente fazendo com que um sentimento de alívio percorresse todo o corpo do mais velho – O que se passou?
- Foi só um susto, nada demais. – declara ela nutrindo uma vontade enorme de lhe revirar os olhos pela preocupação exagerada.
- Sim, eu estava aqui a passar, vi-a de olhos fechados e pensei que lhe estivesse a dar algum tipo de ataque. – a senhora, geradora de toda esta cena, explica evidentemente lamentada.
- Não era preciso isto tudo. – a mais nova acaba por reivindicar erguendo-se da cadeira. Tinha colocado na cabeça a hipótese de algo correr mal, mas mesmo assim deixou que isso não a afetasse. Ou pelo menos tentou.
Algumas das pessoas daquela sala, que previamente se deparavam muito centralizadas na produção de algo capaz de atrair a atenção do público, estavam agora com mais interesse em patentear o que se passava com Astrid. Esta sentia-se embaraçada, acabara de se tornar o centro das atenções para aqueles indivíduos e não via a hora de pôr o pé fora do edifício.
- David. – chama esperando ter a atenção do irmão. Este rapidamente baixa o seu olhar dando a entender que lhe estava a prestar sentido – Achas que podemos ir para casa? - Várias pessoas já haviam voltado ao seu posto, trabalhando na tela em frente a si mesmas. O mais alto libertou um doce sorriso a Alma e esta logo desapareceu visivelmente nervosa.
- Sim, vamos. – replicou por fim posicionando o seu braço sobre os ombros da irmã. – Até para a semana. – com um aperto de mão, despediu-se dos companheiros, regressando de imediato para o lado da de cabelos longos.
- Espero voltar a ver-te Astrid. – admite a ruiva ampliando gradualmente o seu sorriso de invejar. Dentes perfeitamente alinhados e brilhantes, que qualquer um cobiçava usufruir. A outra deixou que um estreito sorriso comparece-se no seu rosto, regularmente melancólico.
[N/A: Eu não acho que tenha algo a dizer, apenas que tenham gostado e comentem a vossa opinião.
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SUPORTA
General FictionAstrid vê-se a lutar por algo que já tentara pôr um fim: a vida. All Rights Reserved © Copyright 2015 onsolus