Capítulo 9 - Mundos em particular

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Capítulo 9

O silêncio matutino pairava naquela manhã, somente era possível ouvir os pássaros.
Do lado de fora era discreto o barulho da cidade.

Era apenas 05h45min do novo dia.

Os poucos raios de sol que adentrava pelas frestas, nem iluminava todo o ambiente.

Ainda juntos na mesma cama, enquanto ela adormecida estava entregue ao aconchego e conforto do momento, ele tentava achar um jeito de se levantar sem que a despertasse.

Após algumas tentativas, finalmente conseguiu. Levantou-se e caminhou para o banheiro.

Os seus cabelos negros brilhavam intensamente, notou ao se ver no espelho. Em seus olhos castanhos também existia um brilho, e mesmo assim não deixavam de ser confusos.
Sua pele que não era tão clara quanto a de sua mãe ou irmã, seguia os traços de seu pai — um tom de bronze —, sem manchas, extremamente lisa. Uma pele impecavelmente linda.

Sem perceber, acabou se admirando por alguns segundos naquele espelho, e, enquanto ainda estava distraído, foi surpreendido por algo estranho.
Seus ouvidos captavam algo.

— Ethan, por favor! Por favor! Deixe ela em paz.

O corpo dela se debatia de um lado para o outro da cama, virando bruscamente entre os lençóis. Aquele pesadelo a estava lhe deixando apavorada, e, sem sequer abrir os olhos, ela continuava a sua súplica. Implorando por aquele nome não machucar seja lá quem fosse em seus delírios.

— Acorda, vamos, acorda. É apenas um sonho ruim, não é real Anne! Reage, vamos.

Tentou do seu jeito lhe tirar daquele pesadelo. E aos poucos viu que o corpo dela se acalmou, e as frases sem sentidos que falava segundos antes já não saiam mais de sua boca, ela aparentemente havia conseguido se libertar das artimanhas que sua mente lhe pregava.

Seus olhos permaneciam fechados, mas ele sabia que agora ela já não estava dentro de seus delírios. Se afastou e saiu do quarto.

Perto de dar os últimos passos naqueles degraus, sentiu que seu pé tocou em algo que certamente não era dali.

Uma fotografia. Rasgada ao meio e somente deixada exposta uma mulher. Negra, linda, com seus cabelos encaracolados. Com um sorriso perfeito.

‘‘Deve ser dela.’’

Guardou aquela foto, e disse a si mesmo que quando a ruiva acordasse lhe entregaria. Estava convicto que a pertencia.

Feito isso, ele apenas quis comer alguma coisa, o dia já havia se iniciado e a noite tinha sido longa. Estava faminto.

•••

— Bom dia.

A empolgação no seu timbre era nítida. E, com uma mão em sua cintura, ela o fez virar em sua direção, e lhe beijou. Deixado o mesmo esquecer por breves segundos que estava com uma faca na mão, cortando algumas frutas para comer.

— Bom dia. - Disse. — Mas toma cuidado pra não se machucar. - Apontou para a faca.

— Estou vendo que alguém resolveu caprichar.

— Me inspirei na minha mãe. Ela que fazia um café da manhã assim quase todos os dias.

Ajeitou a mesa uma última vez, colocando os pães e as frutas em seus devidos lugares.

— Por um segundo pensei estar casada com um chefe de cozinha. - Sorriu.

— Talvez se um dia a gente casar, quem sabe eu não me torne um?

Tentou embarcar naquela que estava sendo uma das conversas mais estranha de sua vida.
Anne parecia outra pessoa.

— Se um dia? — Bateu um de seus pés no chão e colocou a mão na cintura, como quando uma mãe vai dar bronca em seu filho. — Já estamos casados a quase um ano e você vem com essa piadinha! Não teve graça.

‘‘Mas que caramba está acontecendo aqui?’’

— Mas nós não somos casados, Anne. — Falou firme.

Já era loucura demais tudo aquilo, ela certamente estava a lhe pregar uma pegadinha. Essa era a única coisa que ele pensou.

— Ethan, o que você está dizendo? É claro que somos casados!

“Ethan?”

Ela já tinha pronunciado o mesmo nome momentos antes quando estava mergulhada em um terrível pesadelo, logo, ele sabia que seja lá quem fosse essa pessoa, não era nada bom ser confundido com ela.

— Sou eu, Adryan! — Dizia, colocando suas mãos sobre o rosto dela.

Seus olhos o fitavam de uma maneira confusa. Ela própria não entendia o que estava acontecendo e nem sequer reconhecia o homem com quem havia passado a noite anterior.

— O que aconteceu?

Olhou para ele atordoada, sem nada entender do que havia se passado minutos atrás, e, então, o corpo dela pesou e num milésimo de segundo apagou.

Era um desmaio.

Inconsciente e caída no chão, Anne o fazia repensar no que havia acontecido com os dois na noite anterior. Sentiu-se culpado, sujo e envergonhado. Poderia ter se envolvido com alguém que sequer lembrava do seu rosto no dia seguinte, e que, pra piorar, ainda o confundiu com outrem no qual havia tido pesadelos mais cedo.

‘‘O que eu fiz?’’

Se questionava enquanto outra vez tentava acorda-la.

— O que houve?

— Você desmaiou. — Seco e breve, ele respondeu.

— Não me lembro de nada. — Se levantou do chão, dessa vez o deixando ajuda-la.

— Você acordou e veio até aqui, e então começou a falar umas coisas estranhas.

- O quão estranha eram essas coisas? Porque pela sua cara, você não gostou nem um pouco.

Era notável sua feição diferente. Não havia naquele momento em seu rosto um semblante plácido como em outras horas.

— Aparentemente você já foi casada com algum Ethan. Porque foi desse nome que me chamou e foi isso que me disse. Que éramos casados.

— Não pode ser, eu não...

Sua voz era trêmula, e sequer conseguia concluir suas palavras, claramente aterrorizada, não se conformava que havia dito aquilo.

— O que realmente tá acontecendo aqui?

Com seus olhos inundados em lágrimas, ela parecia perplexa com o que havia feito. Não sabia o que dizer e somente olhava fixamente para o chão.

Adryan aos poucos foi se aproximando.

Ao ver o seu sofrimento, tentou lhe acalmar, segurando suas mãos.

— Eu vou te contar uma história.

Secando seu rosto molhando, ela outra vez o encarou no fundo dos olhos, estava disposta a revelar mais uma vez seus segredos a ele.

Alianças De Sangue (Degustação)Where stories live. Discover now