Capítulo 01 (nova versão)

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     Mas assumo que sou uma leitora voraz, leio desde a embalagem de Nescau até o livro Orgulho e Preconceito da Jane Austen. É sempre uma boa pedida um bom livro e para completar, uma excelente playlist que, de preferência, me possibilite uma segunda voz – porque eu também amo fazer isso, só que nem sempre funciona.

     — Sofi, queria muito que você desse uma palavrinha hoje. O que acha?

     Eu já falei sobre a Maria Lúcia, mas esqueci de dizer que ela é mais que uma simples amiga. Malu está mais para uma melhor amiga, uma irmã que não tenho, uma confidente, conselheira...

     Tá legal, deixa eu ser mais clara: ela é tipo uma segunda mãe – mesmo sendo um ano mais nova que eu.

     Eu a conheci dois anos atrás, na igreja onde congregamos até hoje. Minha mãe e eu nos mudamos para uma casa próximo a igreja, logo depois da morte do papai. Foi um momento difícil e a amizade de Malu me ajudou muito. Fazia apenas um ano que ela tinha se convertido, mas havia vivido muitas experiências incríveis com Deus. Desde o início eu criei uma admiração por ela e não demorou muito tempo para perceber que a amizade de Malu veio direto do coração de Deus para mim.

     Eu sei que ela quer me ajudar – e, acredite, Malu é boa nisso! –, mas sua insistência às vezes me irrita. Ela sabe disso, por isso está me encarando com seus olhos brilhantes, em mais uma de suas tentativas de convencimento que eu até cairia, mas quando o assunto é ser o centro das atenções, não existe olhos brilhantes ou poder de persuasão que me faça aceitar. Malu sabe disso também, por isso suspira quando não obtém uma resposta.

     — Vamos lá, amiga, você não pode viver fugindo. Não pode enterrar os seus talentos.

     Esse é exatamente o ponto; não é que eu queira fugir – pelo menos não intencionalmente –, mas acontece que a timidez não me permite aceitar qualquer tipo de oportunidade que me é dada na igreja. O assunto é tão sério que até mesmo nas reuniões que Malu e Leonardo organizam em casa, eu não sou capaz de fazer uma simples oração. E olha que tecnicamente esse deveria ser o melhor momento para os tímidos, já que todos estão de olhos fechados.

     Ou deveriam estar.

     — Malu, você sabe que eu não consigo — digo, finalmente, enquanto arrumo as cadeiras. São quase sete horas e eu só tenho poucos minutos para tirar essa ideia da sua cabeça, antes que as pessoas cheguem. — Você não vai fazer isso, né? — seguro seu braço antes que ela volte para pegar mais uma cadeira. — Você sabe que eu morro de vergonha, Malu. Já estou até suando frio!

     Ela suspira mais uma vez, deixando seus ombros caírem. Isso é um bom sinal, ela sempre reage do mesmo jeito quando está prestes a ceder.

     — Você não pode fugir sempre, Sofia.

     Isso é verdade, mas passar a vida toda fugindo dos meus medos não faz parte dos meus planos. Preciso apenas me sentir segura para enfrentá-los.

     — Eu sei que não posso, mas é só dessa vez — tento um pequeno sorriso, que parece não surtir muito efeito.

     — Você disse isso semana passada — frisou, colocando a última cadeira no lugar antes de me encarar com seu olhar reprovador.

     Certo, esqueci desse detalhe.

     Convencê-la está ficando cada vez mais difícil.

     O que eu preciso fazer para que as pessoas entendam que não fui eu quem escolheu ser assim? Vencer a timidez está além do meu alcance. Eu quero me ver livre dessa prisão invisível e fazer o que Deus quer que eu faça. Quero ter a ousadia que muitos tem, mas eu não sou assim e as pessoas precisam entender e respeitar o meu tempo!

No Coração de Sofia - PARADOWhere stories live. Discover now