💌 08- I'm sorry.

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Mas a sensação no peito não diminuía.

Acabei entrando em uma das cabines, não porque precisasse usar, mas porque queria alguns segundos sozinho. Encostei a porta, respirei fundo e deixei a testa tocar a superfície fria atrás de mim.

Só mais um minuto. Só até esse nó desaparecer.

Eu estava prestes a girar a maçaneta para sair quando ouvi um deslizar suave no chão. Algo havia passado por baixo da porta. Franzi o cenho. Baixei o olhar.

Uma carta, outra.

Devagar, como se o papel pudesse queimar ao toque, eu me abaixei e a peguei. O envelope era simples, sem adornos, sem cheiro, sem assinatura escrita na frente. Mas eu já sabia.

A.R.

O mesmo remetente misterioso. O mesmo fantasma insistente que permanecia me procurando.

Eu inspirei fundo e abri.

A caligrafia era limpa, firme, dolorosamente cuidadosa e o conteúdo, ainda mais.

Há amores que nascem fortes, Jimin... mas se perdem no caminho por covardia, silêncio ou medo. O meu foi destruído antes mesmo de ter chance de existir. Mas ainda assim, continua aqui, persistente, teimoso, recusando-se a morrer. E eu não sei se isso é esperança... ou castigo.

Minhas mãos ficaram imóveis por alguns segundos.

Eu li de novo.

E outra vez.

Um arrepio passou pelo meu corpo, não de medo, mas de algo muito mais profundo e inquietante. O ar dentro da cabine pareceu ficar menor, mais pesado, como se as palavras no papel tivessem o poder de apertar o ar em meus pulmões.

Meu coração deu um passo que minha mente se recusava a dar.

A.R. estava me vendo.

E, pior, havia dor ali. Dor real. Dor íntima.

Eu não sabia o que sentir. Não sabia se deveria sentir alguma coisa. Mas senti. Fechei a carta devagar e fiquei parado por alguns longos segundos, tentando decidir se aquilo me confortava... ou me assustava.

No fim, só consegui guardar o papel no bolso interno da jaqueta e respirar fundo, uma, duas, três vezes.

Voltei a caminhar pelo corredor, mas era como atravessar um túnel cheio de ecos. Nada do que eu via realmente importava: alunos passando, vozes, risadas distantes. Tudo soava abafado, como se eu estivesse mergulhado debaixo d'água.

A única coisa que eu conseguia sentir era o papel dobrado dentro do bolso, quente contra meu peito, como se tivesse sido colocado ali por alguém que me conhecia bem demais.

Eu parei por um instante, respirando fundo, apoiando a mão na parede fria. Meu coração parecia bater no lugar errado.

Por que aquela carta me afetava tanto? Quem era esse A.R.? E... por que parecia que ele sabia algo que nem eu admitia para mim mesmo?

Eu apertei o envelope com força dentro do bolso, como se isso fosse me trazer alguma clareza.

— Idiota... — murmurei para mim mesmo, irritado com essa minha fraqueza, irritado com o fato de estar abalado por algo que nem deveria importar.

Mas importava.

E, por um segundo, pensei no jeito que Jungkook estava no refeitório, quieto, estranho, diferente. Pensei no que vi nos olhos dele antes de sair. Pensei no que senti.

E isso só deixou tudo pior.

Respirei fundo, puxei a postura de volta pro lugar e continuei andando, tentando colocar uma máscara neutra no rosto antes que alguém percebesse qualquer coisa.

Anonymous Romantic • PJM + JJKWhere stories live. Discover now