Me aproximei da porta e logo vi o papel forrando o chão. Preocupada, terminei de abrir lentamente esperando o pior. Havia aprendido que quando se trata de Clarice, esperar pelo verdadeiro caos é sempre a melhor opção. Qualquer coisa diferente disso é lucro.

No entanto, dessa vez, quando entrei na sala, o que me deparei não foi o caos, menos ainda o pior. Meu coração deu um tropeço no peito antes mesmo que eu pudesse entender o que estava vendo.

Era eu.

Uma versão minha pintada em aquarela com traços suaves, quase etéreos. Como se eu tivesse sido capturada em um instante fugaz e transformada em algo eterno. Eu sabia que Clarice tinha um talento, a julgar pela sua mãe não esperava nada muito diferente, mas... uau.

Era definitivamente o quadro mais bonito que já vi na vida.

Os tons delicados se fundindo e escorrendo de uma forma controlada, exata e ao mesmo tempo imprevisível. Como se cada gota de tinta conhecesse o lugar certo para cair. Era estranho me reconhecer e ao mesmo tempo ser diferente do que via no espelho. Era como se eu pudesse me ver através dos olhos da Clara. Sem dúvidas, sou muito melhor sob seu olhar.

Quis chegar mais perto para ver cada detalhe e levei um susto ao me deparar com Clarice largada no chão. Com o pincel ainda em suas mãos e cercada por algumas latinhas de energético, ela parecia dormir em um sono profundo.

- Mon amour, - a chamei baixinho ao me aproximar. – Acorda, vamos para cama, bébé.

Clara não reagiu e ao tocar em seu rosto percebi que estava quente. Muito quente. Ela estava ardendo em febre.

Com um pouco de dificuldade, levantei Clarice do chão. Ela resmungou um pouco sem de fato acordar, não sabia se reclamava por a ter tirado do chão ou por sentir alguma dor. Coitadinha da minha bebê.

- A maman está aqui, ma vie – sussurrei contra a sua testa enquanto a levava para o quarto no andar de cima.

Clarice estava com febre. Febre e suja de tinta. Nesse momento me dei conta de que não tínhamos conversado sobre nossos limites e como ela se sentiria comigo lhe dando banho enquanto estivesse dormindo/inconsciente. Mas dessa vez iria ignorar esse detalhe. Um banho de banheira com água morna quase fria iria ajudar a reduzir a febre. E ela estava suja.

- Licença, mon bébé – pedi antes de tirar a sua roupa.

Felizmente, enquanto tirava peça por peça, não encontrei hematomas ou marcas para me preocupar. Eu ainda não sabia dos detalhes do que aconteceu com a Claudia, e por mais que eu saiba que aquela desgraçada não se envolvia sexualmente com as pessoas que tinha como sua little, nada me garantia que ela tenha machucado a minha pequena de outras formas.

Aquela diaba lactante desgraçada... seus dias de paz estão contados.

Nem mesmo a água um pouco mais fria fez com que Clara acordasse. Resmungou, reclamou durante o sonho, mas sua exaustão era tanta que estava ressonando. E como ela estava assim, levei o meu tempo para lhe dar banho e tirar as manchas de tintas das suas mãos, braços e rosto. Quanto mais tempo ficasse na água, melhor seria para reduzir a temperatura do seu corpo.

Uma semana longe da minha bebê e o resultado disso fez parecer que foram meses. Sempre cuidei da ma petite com todo amor e carinho, para a encontrar com assaduras em sua pele. Deveria esperar que deixar uma pequena vestir sua própria fralda sozinha não acabaria bem e ver isso em sua pele era de cortar o coração. Não chegou ao ponto de se tornar algo grave e talvez por isso Clarice sequer comentou seu desconforto, ainda assim preocupante. Eu jamais deixaria isso acontecer com a minha bebê.

Passei a pomada com toda delicadeza possível e parando a cada resmungo de Clara.

- Eu sei, mon bébé. Está dodói a florzinha do neném, mas a maman precisa passar a pomadinha para sarar. Já vai acabar, só mais um pouquinho.

Clarice estava usando a fralda calça, mas eu optei em colocar a convencional que já costumava usar antes da viagem. São um pouco menos discretas que a fralda calça, mas isso não seria problema em casa e apenas comigo.

Para finalizar, passei uma loção hidratante de bebê que relaxa e ajuda a dormir em todo o corpinho da minha pequena e a vestir com uma das suas camisas de pijama desnecessariamente grande. Ela não parecia ter um sono sereno, mas estava um pouco melhor.

Agora estava na hora do meu banho.

Eu poderia ter me aproveitado de um tempo mais longo no chuveiro para relaxar os músculos depois da viagem, mas meu coração queria estar ao lado da Clara e não me aguentei. Alguns minutos depois lá estava eu deitada ao seu lado a observando enquanto acariciava sua barriga.

- Você me parece muito tensa para um neném que está dormindo, mon amour – falei baixinho. – A maman tem a solução para isso, mas por agora terá que contentar com o que eu te trouxe da França.

Depois da foto que a Gio me mandou da Clara dormindo usando uma chupeta, eu não resisti e comprei uma... algumas para ser honesta. Nunca imaginei que um dia iria achar a minha namorada usando uma chupeta fosse a coisa mais fofa do mundo, mas aconteceu e essa imagem não sabia da minha cabeça.

Apesar de ser a maman da Clarice e saber que era algo que ela iria gostar, eu optei por não lhe dar o tété. Quero que esteja acordada e com os olhos bem abertos quando for mamar agora que voltei. Por hora, a chupeta será o suficiente.

- Você também gosta, não é bébé? – Sorri ao ver as linhas de tensão no rosto da pequena sumirem com sua chupeta nova na boca. E como eu já previa, ela ficou ainda mais fofa. – Je t'aime, mon bébé, - sussurrei perto do seu ouvido ao a abraçar.

Queria continuar acordada até a minha pequena abrir seus olhinhos, mas estar deitada ao lado da minha bebê e a ter em meus braços me causou um relaxamento que não sentia desde que deixei o Brasil. Aos poucos o cansaço da viagem foi pesando os meus olhos e eu não resisti.

Agarrada a Clarice na cama eu finalmente podia dizer; estou de volta.

~*~

Para quem estava ansioso para esse momento, Valkyrie finalmente voltou.

O que acharam do capítulo? Comenta aí!

Nunca um capítulo foi tão difícil de ser postado. Parece que o problema do Wattpad é global e em alguns lugares já normalizou e outros não...

Enfim... 

**Edit: acabei de ver os surtos da Dora no meu perfil para lançar o conto da Valkyrie bébé e a Clara maman... o conto é dela e ela quem decide se é para postar aqui ou não. ENTRETANTO, TODAVIA: eu, Elora, >>NÃO<< estou me comprometendo em desenvolver esse conto e criar toda uma história invertida como a Dora já está fantasiando. 
Podem tirar o cavalinho da chuva. 


Joyeuses Pâques ! Feliz Páscoa! Muitos chocolates e seja lá o que se deseja nesse feriado.

Au revoir! 

Stuck With U - ReinassanceWhere stories live. Discover now