63. Une pause

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MARGOT

Considerando que era natal, o clima nessa casa parecia um enterro.

Exceto por Fernando e seu inabalável bom humor, todos os demais estavam... exaustos(?).

Era de se esperar que Bruno e sua mãe Leopoldina estivessem cansados após atravessarem o oceano repentinamente. Valkyrie e Clarice, porém, estavam como zumbis à mesa. Claramente não dormiram essa noite e se dormiram foram pouquíssimas horas, não o suficiente para descansarem bem.

Clarice ainda disse duas ou três palavras entre bocejos durante o café da manhã. Já a Valkyrie... suspeito que somente seu corpo estava entre nós. Reflexos lentos, não-verbal e olhar praticamente fixo ao prato a sua frente, evitando contato visual. Os preparativos para o – desnecessário e exagerado – evento de hoje não poderia estar melhor.

- Estou preocupada com a sua filha, - comentei com Fernando quando estávamos a sós na estufa.

- Qual das? – ele respondeu ainda atento ao vaso a sua frente. – Eu agora tenho duas meninas.

Cuidar do jardim é uma tarefa minha. O meu passatempo favorito. Mas assim como eu, Fernando estava fugindo das pessoas que agora ocupavam o nosso espaço. Quase não conseguimos tomar um café da manhã em paz. Toda a equipe responsável pelo jantar da dona Hélène chegou bem cedo para nos perturbar e agem como se essa casa não fosse um lar.

- A que te fez perder os cabelos.

- Ei! – Fernando me encarou se fingindo de ofendido. – Eu sou careca por opção e você sabe muito bem disso.

- Só você ainda acredita nisso, meu amor.

- Eu vou deixar meu cabelo crescer.

- Não, você não vai. E não vamos mudar de assunto. Eu estou realmente preocupada não só com a Chlo... Valkyrie, mas a Clara também. As duas definitivamente não estão em bons termos.

- Não estão? Como isso é possível? Eu passei a noite em sono intermitente esperando as bonitas terminarem as risadinhas na cozinha para colocar o presente do Papai Noel de baixo da árvore no quarto delas. Já era dia quando consegui entrar por lá, por pouco pensei que teria que desistir.

Apesar de já ter idade para ter os próprios filhos, Valkyrie ainda é visitada pelo Papai Noel todos os anos e desconfio que irá continuar assim até que nós não estejamos mais aqui.

Lembro-me até hoje do dia em que a Val me questionou se o Papai Noel era o "papa Fer" e eu fiz prometer que não contaria que tinha descoberto o segredo sabendo que o Fernando iria ter mais uma das suas crises de "minha-bebê-cresceu-tanto". Sinceramente não esperava que ela levaria a promessa tão a sério, também não entendo como meu marido só percebeu que a filha fingia acreditar quando ela já tinha dezesseis anos.

Até hoje os dois nunca tocaram no assunto. Valkyrie finge que acredita e Fernando finge que não sabe disso. E eu, como sempre, acompanho a loucura dos dois sem questionar.

- Rindo na cozinha?

- Como se estivessem tomando uma no barzinho.

- Então quer dizer que elas já estão bem ou ao menos melhorando.

- E elas estavam mal?

- Sim. Estavam! E por causa da Hélène. Ela está determinada em perturbar a vida da Clarice e por consequência a Chlo—Val... tenho sensação que seu objetivo é desestabilizar a Val. Em meio a uma crise, é mais provável que consiga manipular a sua filha.

Fernando deixou a tesoura de podar sobre a mesa e se virou para mim outra vez com um olhar sereno. Sereno demais em meio a esse caos.

- Você fala de mim, mas está agindo igual.

Stuck With U - ReinassanceWhere stories live. Discover now