O tempo é cruel demais. Ele corrói e deteriora qualquer coisa, não importa se é um objeto ou uma lembrança. O que se pode fazer é tentar conservar e retardar esse processo, mas inevitavelmente, o tempo fará o seu trabalho e por mais que eu tentasse conservar a memória da minha mãe, fazer aquilo sozinha era doloroso e quase impossível. Nem mesmo os meus desenhos foram poupados e mesmo escondendo todos eles, sempre encontravam.
Acho que o mais difícil foi aceitar e deixar ir..., mas depois que aceitei, perceber que estava me esquecendo aos poucos da pessoa mais importante da minha vida se tornou um pouco menos dolorido.
E por não querer nunca mais me esquecer dos detalhes preciosos de quem mais amo, eu decidi fazer esse quadro. Provavelmente essa é a primeira e a última vez que faço algo tão detalhado, mas eu não queria perder nada.
Se por acaso um dia eu perder minha memória, quero olhar para esse quadro e lembrar dos mínimos detalhes que me fizeram me apaixonar. Não era tão perfeito como a realidade, mas era o mais próximo que era capaz de chegar.
Era mais uma noite que passei em claro acompanhada dos meus pincéis, doses de energético que tinha na geladeira e o Chloée que dormiu logo nas primeiras horas. Pretendia terminar o quadro em alguns dias, porém, antes que meus olhos ficassem pesados demais para os manter abertos, assinei o meu nome no canto da tela.
Depois de quase 30h de sexta-feira até domingo, minha Valkyrie de 1,5mx100cm estava pronta e o resultado final da obra me agradava muito, mas também... eu teria que forçar muito para pintar uma Val que não saísse linda. Aquela mulher é simplesmente pura arte.
E foi admirando a beleza do meu amor que acabei dormindo no chão ali mesmo completamente exausta.
Narração Valquíria:
Abri a porta esperando ser recebida pela luz da manhã, no entanto, o que vi foi uma estranha escuridão. Cortinas fechadas. Todas elas. Era como se dentro do apartamento ainda fosse noite enquanto lá fora o céu estava nublado, porém desconfortavelmente claro.
Deixei a mala ao lado do aparador e logo tratei de usar o controle para abrir todas as cortinas. Ainda era cedo, precisamente 09:27 da manhã e provavelmente Clarice estava dormindo, por essa razão optei por não usar comando de voz. Ainda no aeroporto verifiquei a localização do seu celular e sabia que estava aqui, caso contrário teria ido direto ao seu apartamento.
Sem pensar muito, subi as escadas até o quarto. Estava ansiosa para encontrar o meu amor. Porém, ao abrir a porta encontrei a cama vazia e feita com perfeição e precisão que tenho certeza que Clarice jamais faria.
Ela não dormiu aqui?
Procurei pelos os outros cômodos. Sem sinais de Clarice em lugar algum do segundo andar. Voltei para o primeiro e na cozinha encontrei uma caixa de cookies abandonadas. Se estivesse vazia eu acharia "ok", mas estava cheia e pelo visto ela só mordeu um deles e abandonou o resto.
Toda a preocupação adormecida despertou de repente. Clarice não comer já era estranho por si só. Não comer os cookies da Gisele?! É chocolate, açúcar e gordura, combinação favorita dela!
Estava prestes a ligar para ela, quando vi a miniatura de cachorro vir do corredor correndo saltitante até os meus pés.
- Isso é saudades ou você sentiu o cheiro do petisco que eu te trouxe? – Peguei o Chloée do chão para lhe fazer carinho. – Onde está a sua dona, rapaz?
A resposta do Chloée foi lamber meus dedos e morder empolgado. Resolvi o soltar no chão e fazer o caminho pelo qual ele veio. E como eu esperava, ele saiu correndo na minha frente para entrar na sala do piano e voltar com o seu macaco na boca.
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Stuck With U - Reinassance
RomanceSegunda versão de Stuck With U. Em passos lentos e cheios de detalhes, acompanhe Clarice, uma jovem artista e arquiteta por teimosia, em sua jornada para conhecer o seu tão inexplorado lado pequeno, ao lado de sua tão... peculiar mommy maman, Valkyr...
42. Point de Vue
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