Eu voltei a pintar sentada no chão com o Chlô dormindo entre as minhas pernas. E enquanto estava ali sem ver ou ouvir o que acontecia do lado de fora, sentia que estava tudo bem... em partes, pois o meu celular tocou e eu quase fui parar o teto com o susto.
Dessa vez não era a Val, era a Laris mesmo.
- E aí, anã. Você está bem?
- Estou. E você?
- Está bem mesmo? O céu está quase preto por aqui, vai cair um pé d'água.
- Por aqui já está caindo, mas quase não dá para ouvir daqui de dentro então estou suave.
- Tem certeza? Não quer vir para cá ou que eu e a Glória vá para aí te fazer companhia?
- Laris, você está em São Paulo. O caos que não vai estar nas ruas agora, vai ser muito pior se tentar vir para cá. Eu vou ficar bem... e o Bruno mora aqui do lado. Eu não sou um bebê. Não se preocupe comigo, vai dar tudo certo.
E foi só falar isso para todas as luzes se apagarem e ficar um completo breu. O clarão que deu pelas fretas da cortina me fez arregalar os olhos, logo em seguida um barulho altíssimo.
Ok... ok... eu estou bem. Eu estou bem. Vai dar tudo certo. Eu estou bem. Você é muito velha para ter medo de escuro, Clarice. Se controla.
- Eu ouvi isso.
- Caiu a energia por aqui.
- Vixi... agora fodeu. Quer vir para cá?
- Nem pensar! O tempo está horrível lá fora. Eu vou colocar meus fones e fingir que nada disso está acontecendo. Tá maluco.
- Tem certeza que vai conseguir? Se precisar de um resgate é só avisar. Eu não subo todos esses andares de escada por você, mas te espero lá embaixo. Pode ser?
- Você é uma idiota.
Do nada algumas luzes acenderam. O mínimo necessário para enxergar tudo ao redor, porém, mais iluminado que o que a Val costuma usar durante a noite e quer "manter o sono regulado". Dava para ficar bem com isso.
- Enfim, se precisar de alguém... eu sei que você quer se isolar e tals. Depois de tudo que ouvi, já esperava que fosse ficar assim, mas... você sabe que dessa vez não precisa enfrentar tudo sozinha ou fingir que não sente nada, não sabe? Está tudo bem se quiser chorar ou sei lá... como é que vocês chamam isso? Regredir? É isso? Você me entendeu..., não somos sua namorada, mas podemos dar um jeito.
Fofo, porém, meu deus... que vergonha!
- No momento eu prefiro continuar como estou. Grande e na minha.
- Se você diz...
Entendo a preocupação da Laris. Quem acompanhou de perto o meu luto, sabe que foi um tempo bastante complicado e caminhar tão perto de algo parecido com aquilo é realmente preocupante. Eu estou me distraindo como posso para me afastar dos pensamentos sombrios, mas se olho para o lado, eles estão lá a minha espera. Um pequeno deslize e todas as minhas barreiras caem.
E diferente daquele tempo em que lidava "apenas" com a perda da minha mãe. Agora o que tenho aqui é o luto acompanhado de uma pilha de lixo que jogaram em cima. Lembranças e memória de anos de repetidos abusos e maus tratos. São tantas feridas que o próprio luto se tornou uma dor distante.
Luís não me roubou apenas uma herança que teria mudado a minha vida. Ele fez questão de apagar e queimar quaisquer resquícios da existência da minha mãe. Eu era muito nova e aos poucos as memórias foram se apagando. Lembro muito bem dos seus cabelos ruivos e verdes quase cristalinos, mas alguns detalhes dos seu rosto se perderam com o tempo. Sua voz se tornou distante e seu perfume eu já não lembro mais.
BẠN ĐANG ĐỌC
Stuck With U - Reinassance
Lãng mạnSegunda versão de Stuck With U. Em passos lentos e cheios de detalhes, acompanhe Clarice, uma jovem artista e arquiteta por teimosia, em sua jornada para conhecer o seu tão inexplorado lado pequeno, ao lado de sua tão... peculiar mommy maman, Valkyr...
42. Point de Vue
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