Dessa vez, eu estava preparada para fazer arte. Antes de começar forrei o chão com papel kraft. Comprei um rolo enorme – e pesadíssimo – para cobrir tu-do. Deus me livre sujar/manchar qualquer coisa aqui na ausência da Val. Até o Chloée foi obrigado a usar sua capa de chuva e os sapatinhos... não tive coragem de trancar ele para fora do escritório. Apesar do risco de ter esse mini pestinha aqui, esse não era o escritório principal que a Val costumava trabalhar, estava mais para "sala-do-piano-esquecido" que para qualquer outra coisa e mais um pouco viraria um depósito de tralhas não usadas.
- Pronto, Chloée... o que vamos pintar? – Ele virou a cabecinha de lado e eu quase morri de amores. – Você não sabe? Nem eu... na verdade eu sei..., eu só... não sei se ela vai gostar. Sua outra mãe está brava comigo e meio distante... tipo, literalmente distante, mas também distante-distante. Eu não sei... eu também não quero pensar muito nisso.
O Chloée latiu, saiu correndo e voltou com o seu brinquedinho de pelúcia: um macaco com braços bem longos. Ele largou no chão perto de mim e eu fiquei olhando para isso um pouco incrédula.
- Você está realmente pouco se ferrando para os meus problemas, não é mesmo garoto? – Peguei o macaco do chão. – Quero só ver se vai continuar assim quando for obrigado a morar só num apartamento que cabe dentro desse cômodo e não tem espaço para você correr.
Joguei o macaco para o outro lado e o Chloée foi buscar todo feliz com seu jeitinho de correr engraçado que parece empinar as patas da frente. Logo em seguida ele voltou e pediu mais uma vez para jogar o macaco. E era isso, eu comecei a preparar meus materiais, parando de minuto em minuto para jogar o macaco.
Fiquei um tempo parada encarando a tela branca, pensando o que e como poderia pintar. A verdade é que eu poderia fazer algo melancólico e dramático ou algo forte e raivoso que combinasse com os meus sentimentos. Mas meu coração, embora ferido e ensanguentado, só pedia pelo meu ponto de paz e conforto.
Suspirei triste e desanimada...
Demorou quatorze anos para me sentir genuinamente segura com alguém e foi muito fácil estragar com tudo. Bastou um momento de rebeldia sem sentido e uma decisão errada em um momento de fragilidade. E pronto, a cagada estava feita.
Não tenho muito que me defender, eu também ficaria puta com essa situação. Só de imaginar a possibilidade da Val com outra pessoa em seus braços e tendo o nosso momento com alguém que não fosse eu me deixava furiosa e na merda. Agora mesmo me encontro irritada e com ódio com a cena fictícia.
Em meio a esses pensamentos tristes – e irritantes – eu decidi o que iria pintar. Embora tudo ao meu redor estivesse um caos agora e memórias desagradáveis tenham sido desenterradas, eu queria me lembrar e registrar o que trazia conforto e paz. E que me faz sorrir em momentos aleatórios, que traz um calorzinho no peito na expectativa de um abraço, que traz leveza para os meus dias, que trouxe de volta cores para o meu mundo cinza.
Eu queria pintar o Chloée.
- O que você acha, meu filho lindo? – Eu peguei o Chloée do chão e o enchi de beijinhos. - Coisa mais linda da minha vida! E você tem razão, é exatamente isso que vou pintar.
Chloée.
No caso, Valkyrie Chloée.
Qual é? Você realmente achou que estava pensando no cachorro? Eu amo o Chloée e daria minha vida por ele, mas ele está em terceiro lugar na minha vida. Primeiro lugar pertence ao meu amor, Valkyrie. O segundo lugar é dos os peitos da Valkyrie. E terceiro lugar, o meu filho com a Valkyrie, Chloée. Resumidamente, meu podium inteiro tem a Val nele.
Meu deus, o que será de mim se essa mulher me deixar?!
Não quero nem pensar. Nem pensar!
Meu pulso ainda estava dolorido, mas uma vez que o "boom!" criativo me atacou e os traços começaram a fluir como um rio, eu já não ligava para mais nada. A sensação de ver meus rabiscos criarem forma em um quadro e aos poucos a tela ganhar vida era tão boa. Tão boa que me fez perguntar porque eu abandonei a pintura.
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Stuck With U - Reinassance
RomanceSegunda versão de Stuck With U. Em passos lentos e cheios de detalhes, acompanhe Clarice, uma jovem artista e arquiteta por teimosia, em sua jornada para conhecer o seu tão inexplorado lado pequeno, ao lado de sua tão... peculiar mommy maman, Valkyr...
42. Point de Vue
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