cap 16

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Capítulo 16 — Ecos da Escolha

A noite caiu sobre a casa dos pais de Soraya, mas o sono se recusava a chegar. Deitada na cama de seu antigo quarto, ela sentia-se cercada pelos fantasmas do passado. Cada objeto ao seu redor parecia uma relíquia de uma vida que ela tentava deixar para trás—os troféus acadêmicos, os quadros com fotos impecavelmente posadas, as lembranças de um tempo em que ela se esforçava para ser exatamente aquilo que seus pais esperavam.

Seu celular vibrava ao lado dela. Pegou-o hesitante, o nome de Simone brilhando na tela. Seu coração disparou. Uma mensagem simples:

"Você está bem?"

Soraya encarou as palavras por um momento. Simone sabia que ela estava visitando os pais, sabia o peso que isso carregava. Mas o que ela poderia responder? Que sentia como se estivesse sufocando dentro de sua própria história? Que estar ali a fazia questionar tudo o que acreditava?

Depois de um tempo, digitou apenas:

"Sim. Só cansada."

A resposta veio rápido.

"Se precisar conversar, estou aqui."

O calor daquela mensagem fez algo dentro dela se partir um pouco. Simone sempre parecia ver através de suas máscaras, enxergar aquilo que Soraya se esforçava tanto para esconder. Mas era exatamente isso que a assustava.

Antes que pudesse responder, ouviu uma batida leve na porta. Sentou-se, o corpo tenso.

— Posso entrar? — Era sua mãe.

Soraya hesitou, mas assentiu. A mulher entrou com passos suaves, mas havia algo em sua expressão que a fez prender a respiração.

— Seu pai só quer o melhor para você, querida. Ele só quer que tenha segurança.

Soraya soltou uma risada curta, cansada.

— Segurança ou controle?

A mãe suspirou, sentando-se na beira da cama.

— Não é controle, Soraya. Você é nossa filha. Queremos que tenha uma vida estável. Um futuro certo.

— Mas e se eu quiser algo diferente? — sua voz saiu mais baixa do que pretendia.

A mãe não respondeu de imediato. Olhou para as mãos no colo, como se ponderasse as palavras.

— Eu só quero que você não sofra.

Soraya sentiu um nó apertar sua garganta. Como explicar que o que a fazia sofrer era justamente essa prisão invisível? Que cada expectativa imposta sobre ela era uma corrente que a impedia de ser quem realmente era?

Respirou fundo.

— Mãe… Se eu fizesse algo que fosse contra tudo o que vocês esperam de mim… você ainda me amaria?

A pergunta ficou suspensa no ar. A mãe a encarou, surpresa, como se não esperasse aquilo. Soraya viu a hesitação em seus olhos. E naquele momento, soube a resposta antes mesmo de ouvi-la.

A mãe lhe deu um sorriso triste.

— Sempre vou te amar, Soraya. Mas algumas escolhas tornam as coisas mais difíceis.

Soraya sentiu o peito se apertar. Era isso. O amor dos pais vinha com condições. Com limites.

Depois que a mãe saiu do quarto, ela ficou encarando a tela do celular.

"Se precisar conversar, estou aqui."

Soraya começou a digitar. Parou. O medo ainda estava lá, a dúvida também. Mas, pela primeira vez, sentia que precisava arriscar.

E então, antes que pudesse pensar demais, enviou outra mensagem para Simone.

"Não sei se consigo ficar aqui por mais dois dias. É sufocante demais."

Após digitar, uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto.

"Se arruma que estou indo te buscar."

Soraya suspirou aliviada ao ler a mensagem, se levantou e arrumou suas coisas pensando na desculpa que daria aos seus país.

𝑴𝒚 𝒔𝒘𝒆𝒆𝒕 𝒔𝒊𝒏- Simoraya Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon