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Capítulo 22 – O Peso das Palavras

O domingo amanheceu com um céu límpido e uma brisa suave, mas dentro de Simone, uma tempestade silenciosa começava a se formar.

Ela não sabia ao certo por que sentia aquele aperto no peito ao acordar. Desde a noite no hotel e o passeio no parque, uma paz diferente havia se instalado dentro dela. Mas agora, ao se vestir para ir à igreja com os pais e Soraya, sentia como se algo estivesse prestes a tirá-la daquele estado de tranquilidade.

Soraya, ao seu lado, parecia alheia a qualquer inquietação. Escolheu um vestido simples, mas elegante, e penteou os cabelos com calma, como se aquele fosse apenas mais um dia normal.

— Tá pronta? — perguntou, sorrindo ao vê-la no espelho.

Simone forçou um sorriso e assentiu.

— Sim, vamos descer.

A família Tebet saiu de casa pontualmente, como fazia todos os domingos. O pai de Simone guiava o carro em silêncio, enquanto a mãe comentava algo sobre a programação da igreja para a semana. Soraya estava sentada ao lado de Simone no banco de trás, suas mãos pousadas discretamente sobre a perna da morena, um gesto pequeno, mas que trazia conforto.

Ao chegarem à igreja, o ambiente era o mesmo de sempre: os fiéis se cumprimentavam, os bancos de madeira rangiam sob o peso dos corpos que se acomodavam, e o altar imponente refletia a luz colorida dos vitrais. Simone e sua família se sentaram no lugar de sempre, na fileira do meio. Soraya ficou ao lado da morena, os olhos curiosos passeando pelo ambiente.

— Faz tempo que não entro em uma igreja. — sussurrou para Simone.

A morena apenas sorriu de leve, tentando ignorar a tensão em seus ombros.

A missa começou com cânticos e orações habituais, e por um momento, Simone se permitiu relaxar. Mas então, veio o sermão.

O padre, um homem de voz firme e postura imponente, ergueu a Bíblia e começou a falar sobre os "desafios da modernidade".

— Hoje, mais do que nunca, somos tentados a nos desviar do caminho de Deus. O mundo tenta nos fazer aceitar aquilo que é contrário à natureza sagrada da criação.

Simone sentiu um arrepio na espinha.

— Relações que vão contra os ensinamentos do Senhor têm sido normalizadas. Chamam de amor aquilo que, na verdade, é uma prova de nossa fraqueza diante do pecado.

Soraya, ao seu lado, mexeu-se desconfortável.

— Devemos nos lembrar de que o verdadeiro amor não é aquele que atende aos desejos da carne, mas sim aquele que segue os desígnios do Altíssimo. O homem foi feito para a mulher, e a mulher para o homem. Qualquer coisa além disso é uma distorção do propósito divino.

Cada palavra parecia um golpe no peito de Simone. Seus dedos, que antes estavam relaxados sobre o banco, agora se fechavam com força sobre a madeira.

Ela queria ignorar. Queria se convencer de que aquelas palavras não a afetavam mais. Mas não conseguia.

Era como se, de repente, todos os olhares da igreja estivessem sobre ela. Como se cada pessoa ali soubesse. Como se Deus, do alto daquele altar, a observasse com desaprovação.

Um nó começou a se formar em sua garganta.

Soraya percebeu. Viu o jeito como Simone ficou rígida, os olhos fixos no padre, mas sem realmente vê-lo. Viu a respiração dela se alterar, como se estivesse sufocando sob o peso de algo invisível.

Discretamente, Soraya deslizou sua mão sobre a de Simone, apertando-a de leve.

Simone piscou, voltando à realidade. Olhou para a loira ao seu lado, vendo a preocupação nos olhos claros.

Mas ela não podia reagir. Não ali.

Então, respirou fundo e afastou a mão.

Soraya franziu o cenho.

O sermão continuava, cada frase parecendo mais dura que a anterior.

— O Senhor ama seus filhos, mas não ama o pecado. E aqueles que se desviam devem buscar o caminho da redenção, pois sem arrependimento, não há salvação.

Simone sentiu o peito apertar.

Ela já tinha ouvido aquilo a vida inteira. Cresceu ouvindo que certos sentimentos eram errados, que havia um caminho certo a seguir. Mas e se aquele caminho não fosse o dela?

E se, no fundo, ela nunca tivesse sido desviada, mas sim empurrada para uma estrada que nunca lhe pertenceu?

O pensamento a assustou.

Quando a missa terminou, os fiéis começaram a se levantar, murmurando entre si, alguns sorrindo, outros discutindo sobre o sermão.

Simone ficou sentada por mais alguns segundos, sentindo a cabeça latejar.

— Sisa? — Soraya chamou baixinho, tocando seu ombro.

A morena piscou algumas vezes antes de forçar um sorriso.

— Vamos.

Levantaram-se e saíram junto com os pais de Simone. O caminho de volta para casa foi silencioso. O pai de Simone parecia pensativo, enquanto sua mãe fazia comentários vagos sobre a missa. Soraya, por outro lado, não parava de lançar olhares preocupados para Simone, mas a morena não olhava de volta.

Ela estava perdida demais dentro da própria mente.

Porque, por mais que quisesse acreditar que nada daquilo importava, que nada poderia mudar o que sentia por Soraya…

A verdade era que as palavras do padre ainda ecoavam dentro dela.

E parte dela temia que nunca fossem embora.

𝑴𝒚 𝒔𝒘𝒆𝒆𝒕 𝒔𝒊𝒏- Simoraya Donde viven las historias. Descúbrelo ahora