"Ele veio como uma tempestade, forte e trovejante, e me arrastou até os confins do inferno."
Releitura de Hells Angel.
Baseada na primeira versão, de 2012.
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Bakewell, Reino Unido, 2018.
Angel Point Of View
— Meu Deus, você é maluca! — Sienna estava atônica. Ela não sabia se ria ou se chorava, ou se fazia os dois ao mesmo tempo.
— Eu estava com tanta raiva... você sabe que aquele professorzinho sempre tentava me pisar. — Justifico, embora não sinta nenhum arrependimento de ter o colocado em seu devido lugar.
— Eu sei, mas... Puta merda Angel, você é maluca mesmo! — Ela ainda não conseguia acreditar no que eu havia feito, assim como a maioria das pessoas do colégio, que ciscavam pelos cantos atrás de confirmações, mas não tinham coragem de chegar e perguntar diretamente a mim.
Prefiro deixa-los se corroendo com a dúvida, porque sinceramente não sou do tipo que fica se vangloriando, embora eu tenha certeza de que fiz o que noventa por cento dos alunos daqui sonham fazer a muito tempo.
— Aquilo não foi nada perto do que ele realmente merecia, você sabe. — Encerro o assunto, voltando a papear sobre coisas aleatórias com a ruiva, como a careca prematura da Mrs. Robison; o término do namoro de Jamie e Bryce (com direito a chifre da parte dela e barraco no corredor feminino); até choramingarmos juntas de saudade de Steve, mesmo ele tendo viajado há apenas duas semanas.
— Se for verdade o que estão dizendo pelos corredores você é minha nova heroína! — Izzie cantarola se aproximando com uma bandeja enorme de comida. Reviro os olhos para ela lhe cedendo espaço, resmungando sobre como ela comia de tudo e não engordava enquanto eu, refém das dietas, triplicava o peso se ingerisse uma graminha de chocolate que fosse.
— As fofocas correm soltas nesse lugar! — Sienna parece surpresa, se ajeitando no banco do refeitório e aproveito a deixa para me deitar, pousando a cabeça no colo dela.
— Isso aqui é um ninho de cobras. — Izzie alfineta aumentando o tom, encarando um grupo de garotas sentadas a poucos metros de nós. — Enfim, fiquei sabendo que você surtou com o Mr. Perez e jogou até uma carteira nele!
— Na verdade foram três. A qual é? Ele mereceu! Você não viu o jeito que ele falou comigo! Eu sei que ele me odeia e o sentimento é mútuo, mas ele não pode ficar me tratando como um pedaço de merda! — Desabafo, sentindo os dedos de Sienna em meu cabelo, o que me faz ronronar feito um gato ao receber carinho.
— Ele só disse a ela para parar de mexer no celular e tirar os fones de ouvido. — A ruiva constata e reviro os olhos.
— Não foi o que ele disse, foi como disse!
— Angel você devia ter pegado leve, o Mr. Perez é um bom professor, ele apenas não gosta dos bolsistas. — Sienna como sempre tenta ser a agente da paz, mas não dou o braço a torcer.
— Eu não tenho culpa de ser bolsista e ele me persegue desde pequena! — Me defendo, e Izzie concorda enquanto mastiga uma coxa de frango enorme.
— Ela tem razão ruiva. Você lembra quando estávamos no terceiro ano e todo mundo resolveu pintar as paredes da sala dos professores, e mesmo sabendo que haviam vários envolvidos, ele culpou apenas a Angel, dizendo que ela era a mentora de tudo?
— Mas ela era a mentora de tudo!
— De qualquer forma não deu em nada. A diretora gosta de mim, adivinhem qual foi meu castigo? — Faço um pequeno suspense e vejo as duas me olharem apreensivas — Assinar mais uma advertência no livro preto e ouvir o mesmo blábláblá de sempre.
— Eu vivo dizendo que a Angel tem algum poder. Porra a garota é uma destruidora e ainda não foi expulsa! — Izzie fala mastigando de boca aberta, sem se importar com as pessoas ao redor.
— O nome disso é sorte e um dia ela acaba. — Sienna fica receosa repentinamente. Izzie engole uma porção de batata frita e revira os olhos.
— Sei que vocês me amam, mas eu não vou ser expulsa nem nada do tipo, relaxem. — Digo despreocupada, até porque posso ficar no colégio até completar vinte e dois anos, o que está longe, já que acabei de completar dezessete. A Diretora Liz gosta de mim e tenho certeza que não me expulsaria.
Ela sabe que não tenho outro lugar pra ir.
Não conheço nada que não seja o Colégio Interno Sonmarine.
Depois do acidente de carro que matou meus pais, quando eu tinha apenas cinco anos, fui trazida para cá e esquecida, como uma roupa velha jogada no fundo do armário. No começo foi difícil, eu me lembro de dormir chorando e acordar assustada, sem nem saber o motivo, mas depois que Izabelle Parker chegou as coisas começaram a ficar mais fáceis.
Ela também tinha perdido os pais, a diferença é que tinha uma tia em Oxford que sempre era levada para visitar, podendo assim, conhecer mais um pouquinho do mundo além dos muros do colégio. Sienna foi a última a chegar, magoada e ressentida, pois seu pai deixou a madrasta a despachar para o internato. Éramos um trio de garotinhas com o coração partido e foi ajudando uma a outra, que conseguimos começar a fazê-los sarar.
Elas são minhas melhores amigas, as únicas que tenho, e não importa o que digam, quando me formar irei leva-las na minha mochila para onde quer que eu vá.
— Se um dia você for expulsa, primeiro eu te bato e depois faço a mala pra ir junto. — Izzie puxa minha mão e a aperta, como uma espécie de carinho. Ela é do tipo que sente sem demostrar, faz a linha durona.
— E claro que eu seria obrigada a ir embora com vocês. — O comentário de Sienna nos faz sorrir e termos um momento trio, mas ele é quebrado segundos depois quando o sinal toca ecoando por todo o colégio.
Os alunos se apressam a se levantar para mais um tempo de tortura, que alguns chamam de aula, e vejo Izzie levantar empurrando a bandeja pro lado, lambendo os dedos gordurosos devido à coxa de frango.
— Vamos entrar? Último tempo! — Sienna vibra em animação me empurrando pro lado enquanto se levanta, me obrigando a ficar em pé também.
Suspiro desanimada começando a caminhar com elas, mas freio ao sentir meu celular vibrar no bolso do casaco. O puxo rapidamente sentindo meu coração acelerar ao ver Steve na tela.
— Meninas eu... eu tenho que ir no banheiro. Vejo vocês depois! — Digo saindo rapidamente, as deixando totalmente confusas.
Avanço pelo corredor saindo pelo portão lateral, indo para os jardins. Haviam poucos alunos sentados nos bancos, à maioria havia acabado de entrar para a aula, e corro ansiosa parando apenas quando já estou afastada, debaixo de uma árvore grande.
Respiro fundo antes de atender.
— Descobriu? — Pergunto imediatamente.
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