Capítulo 1 - Elsa (revisado)

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Corra. Me disseram.

Só não me disseram como correr de mim mesma. Eu devia subir na carruagem onde Anna tropeçava para entrar, antes de Kristoff. Estávamos na época de inverno, mas dessa vez eu não o provoquei, ele chegou naturalmente. Não senti-lo era estranho, enquanto crianças congelavam, eu vestia a seda mais fina e bela do reino. Mas correr também não me deixava com calor.
A avalanche estava chegando, precisávamos evacuar a cidade toda, não sabíamos quanto a neve iria cobrir. Nos últimos dias, houve muitas crises em Arendelle, talvez eu estivesse sob muita pressão, o que causou a tempestade. Pensei que havia aprendido a controlar, mas me enganei. E enganei a todos, os fiz confiar em mim e agora perdia tudo. Como eu poderia fugir enquanto meu país era soterrado? Quantas pessoas não conseguiriam escapar? Aquilo não ia acontecer, eu não ia deixar. Kristoff ainda me esperava com a mão pronta para pegar a minha e me ajudar a subir na carruagem, mas parei subitamente. Eu sou a rainha do gelo.

— Vamos, Elsa! Não temos tempo! - insistiu Anna.

—  Não... eu preciso parar isso.

— Você não teve culpa! Se você for até lá, pode não voltar. - ela desceu da carruagem e segurou minhas mãos.

— Me desculpe, Anna, mas eu causei, eu resolvo.

— Vai me deixar outra vez? Se isolar de todos?

Se eu não fosse rapidamente, acabaria ficando e morreríamos. Não queria abandonar minha irmã, mas o que eu faria era por uma boa razão. Ela devia ser feliz, e sem mim seria melhor, sem a ameaça sobre o povo. Tirei minha coroa e coloquei em suas mãos. Anna era capaz de governar.

— Eu renuncio, você é a rainha agora. Adeus... - lhe dei um abraço.

Finalmente comecei a correr em direção a avalanche no alto da montanha que vinha com toda a força. Anna gritava e com certeza estava sendo contida por Kristoff para não correr atrás de mim. Eu não voltaria. Seria melhor ficarem sem o monstro, eu não era perigosa, mas meus poderes eram. Não achava que eu fosse morrer, mas eu vivi uma vez em um castelo de gelo sozinha, poderia fazer de novo. Nunca deveria ter saído de lá.

Pessoas corriam na direção oposta a mim, algumas faziam uma rápida reverência sem parar de correr. Eu não conseguia responder a todos, precisava chegar até a montanha. Com gestos da mão para o alto, fiz pilares surgirem onde não havia ninguém, esperava que eles sustentassem o que eu pretendia fazer. Deixei meus sapatos para trás, já estavam me atrapalhando e meti os pés na neve. O início da montanha estava próximo, ali era suficiente. Parei e me virei para a cidade. Ergui uma parede de gelo grossa para aguentar o impacto e meio envergada para ser sustentada pelos pilares. Desejei que ela não desabasse. Ainda havia riscos, eu devia frear a neve que pegava embalo cada vez mais rápido, corri montanha acima, já tentando para-la, mas não surtia efeito. Porque não conseguia controlar o que eu havia produzido? Talvez fosse porque eu estava esgotada com toda a força que usei para erguer a parede, mas ainda não fazia sentido. Tinha que me proteger, mas não havia tempo para pensar em nada. A avalanche estava a alguns metros de mim, depois a centímetros e então me pegou.


Desmaiei logo depois que fui levada, foi melhor assim, não senti nada. Mas o que eu sentia agora era horrível. Não conseguia me mexer, havia gelo por toda parte, eu estava presa. Sentia algo quente em meu peito, provavelmente sangue. A única coisa que não era ruim ali, era a posição que eu fora soterrada, como se estivesse sentada, podia sentir a gravidade logo abaixo. Estava ficando sem oxigênio, já não havia como respirar com neve no nariz. Gritar não era uma opção. Que louco estaria por ali?

Fiz esferas envolverem minhas mãos, então pude mexê-las, tentei trazer meus braços para perto do meu tronco, impossível. Eu era mais forte que isso, se tinha sobrevivido, tinha que terminar de sobreviver. Reuni forças, então explodi o gelo a minha volta. Inspirei com dificuldade, abrindo os olhos notei que havia uma árvore na minha frente, aquela era sua copa, inclusive, seu galho rasgou meu vestido e me arranhou no busto. Me desenrosquei dela. Ficar em pé foi doloroso, conferi se não tinha mais nenhum outro machucado, meu penteado fora desfeito e senti um ponto dolorido na nuca, o que teria me feito desmaiar. O rasgo em meu vestido fez um decote enorme, me sentia desconfortável por mais que não houvesse ninguém por perto. Tirei as mangas e as amarrei em cima do busto. Isso bastava por hora, não tinha tempo para fazer uma super transformação de roupa de gelo.

Olhei ao redor. Não encontrei nada. Nada. No horizonte só havia neve, sem sinal de Arendelle. Não tinha ideia de onde estava, se fui levada para longe ou se estava bem em cima. Só desejava que meu plano tivesse dado certo e Anna e Kristoff estivessem bem. Antes de pensar no que poderia fazer agora, localizei uma mão a vários metros de mim. Não acreditei que mais alguém pudesse estar soterrado ali, corri até lá e comecei a cavar onde achava que estaria a cabeça.

Encontrei primeiro cabelos brancos como a neve que o cobria, em seguida a pele pálida de um rosto angelical e rígido com um pequeno corte no queixo, sobrancelhas retas e cílios cheios.
Ansiava para que estivesse vivo, continuei cavando até encontrar suas roupas, senti sua pulsação. Puxei seu corpo para desenterrá-lo completamente. Notei seus pés descalços, nenhuma pessoa normal aguentaria isso, suas roupas não eram grossas, vestia algum tipo de camisa azul de mangas compridas e calças com as barras dobradas até a panturrilha. Vivo, cabelos brancos e mal agasalhado. Não sabia que ele aparentava tão jovem, mas de acordo com as lendas, ele só poderia ser uma pessoa.

Jack Frost.

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