Capítulo 04

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As instalações da nova casa em Arrakis estavam sendo feitas com muito cuidado. A segurança estava reforçada em vários pontos, quase sendo possível ver guardas em todos os cantos, salas, corredores e arredores do local. Leto se certificava que a família estava segura a todo momento, porque os Harkonnen comandaram por um longo período e sabiam provavelmente onde estava cada mísera viga de sustentação do local.

Caminhando pelos corredores, Jéssica e Sophie seriam responsáveis por contratarem a nova governanta da casa. Embora a Bene Gesserit optasse por vestimentas mais cobertas, como era algo quase uniformizado da ordem, a jovem futura duquesa já utilizava roupas mais leves com tecidos mais finos como usava em Antares, deixando o cabelo solto preso somente com algumas madeixas para trás.

— Candidatas a governanta, minhas senhoras — Thufir Hawat introduziu as mulheres que estavam aguardando na sala assim que Sophie e Jéssica entraram. Naturalmente seria Jéssica que deveria decidir, mas a mulher desejava a opinião da nora diante das decisões, um pedido de Leto para que ela também fosse introduzida nos costumes da família Atreides.

Sophie ficou parada um pouco mais atrás, olhando Jéssica examinar cada uma até chegar em uma mulher que tinha um desenho no mesmo da testa. Os olhos azuis indicavam que ela usava a especiaria, então, Sophie sabia que ela era uma fremen.

— Qual seu nome? — Jéssica perguntou para a mulher, estudando-a com cuidado e observando a postura.

— Shadout Mapes, milady.

Sophie notava que a mulher lhe encarava por um tempo maior do que era necessário, e os olhos de adoração não escondidos em sua face, demonstraram que Shadout sabia de algo... ou suspeitava.

— As outras já podem ir. Obrigada — disse Sophie com um sorriso para as demais, que saíram em silêncio, antes de chegar perto da mulher — Shadout, é uma palavra antiga chakobsa, "a guardiã do poço" — e então Sophie continuou, na língua natal da mulher: — Você é uma fremen.

— Conhece as línguas antigas? — Shadout ficou surpresa e maravilhada ao ouvir Sophie falando como uma fremen.

— Tenho conhecimento de muitas coisas — explicou a mais nova, em seu idioma original — Inclusive, as línguas antigas.

— E eu sei que você tem uma arma escondida em seu corpete — Jéssica disse olhando a mulher, um pouco mais séria. As mãos dela fizeram sinal para os guardas, dizendo que não deveriam atacar ainda — Se pretende nos ferir, não será suficiente com o que está pretendendo.

— A arma é um presente para a senhora — e ela olhou para Sophie — Se for mesmo a Predestinada.

Shadout pegou a adaga e retirou da cintura, expondo a lâmina. A ponta era clara e ao longo do comprimento ia escurecendo, até o cabo com detalhes cravados no que parecia ser a mão. Era uma bela arma, mas que prometia ser mortal se fosse usada corretamente.

Por alguns instantes, Sophie teve a sensação das mãos formigando e um desejo de segurar o objeto como se fosse parte de si.

— Conhece isso?

— É uma dagacris.

— Sabe o significado?

— É um criador de... — antes que Sophie continuasse, Shadout gritou maravilhada como se fosse isso que ela almejava ouvir.

— Criador das profundezas do deserto — completou a mulher, olhando para Sophie como se a mesma fosse uma deusa ou algo que não era digna de ser observada por olhos humanos — Conviver tanto tempo com a profecia torna o momento da revelação um choque. Lisan al Gaib... Sihaya... e a sua mãe, aquela que o trouxe ao mundo.

Long Live - Paul AtreidesWhere stories live. Discover now