Quase Anjos - O Homem das Mil Caras

Nos veremos outra vez - VII

Nico, Malvina, Justina e as crianças estavam entrando na casa, de regresso do cinema, quando ele recebeu uma ligação em seu celular.

- Nicolas Bauer? - perguntou uma voz no telefone.

- Sim, sou eu.

- Você é o pai de "Lleca"?

- Não, sou o tutor. O que aconteceu?

- O menor tentou ingressar em uma boate. O temos detido nos escritórios do estabelecimento.

Nico então correu até à boate, por um lado enojado, mas ao mesmo tempo não podia evitar rir ante a atitude persistente de Lleca por pegar seu esforçado estirão. Tentou se mostrar sério quando o viu aparecer no escritório do estabelecimento, com o olhar turvo, roupa que havia roubado de Thiago e que ficava grande nele, e vários cortes no queixo que havia feito com a máquina de barbear. Aproveitando que já estava ali, esperou os maiores, pois já era muito tarde, e regressaram todos juntos e espremidos no carro de Nico. Com Lleca mal falou e lhe assegurou que o fariam no dia seguinte.

O clima no carro era tenso. Thiago tinha o entrecenho franzido e não podia deixar de pensar no beijo que Simon havia dado em Mar, e ainda que estava tentando justificar sua confusão, Thiago repreendeu ela por ter se prestado ao jogo, e ele, por ter se "confundido" justamente com ela. Por sua parte, Caridade voltava, como a cada noite, desolada pelos novos desaforos de Nacho, e Jasmim, com o esgotamento pela adrenalina de todo o vivido. Tacho e Luca se olhavam cúmplices, e o loiro se sentia muito satisfeito. Nico lhes havia perguntado por Rama e Valéria, a quem ninguém havia visto, e ainda que havia alguma fantasia com que enfim haviam concretado, encontraram a resposta assim que chegaram na casa e viram Valéria entrar furiosa, com os olhos cheios de lágrimas, e atrás dela Rama, agitado e sério.

Valéria, sem cumprimentar e nem dar explicações, correu para o quarto, e foi Rama que lhes referiu o acontecido.

Ao regressar à casa a havia visto fugindo com seu namorado, ao que supunha que deveria estar preso. Desesperado, os seguiu até a estação de trem, e ali comprovou qual era o plano: fugir com ele. Rama sentiu que não podia permitir isso e então interviu. Valéria havia se irritado ao vê-lo mais uma vez se meter em seus assuntos, e Gabo, com uma atitude intimidante, o havia enfrentado, pois ainda que Vale jamais lhe havia contado do apaixonado que tinha, ele adivinhou assim que viu o desespero com o que Rama tentava detê-la. A discussão entre ambos rapazes cresceu até quase passar para a violência física, quando apareceu um policial que resolveu a situação. Ante o pedido de documentos, Gabo se sentiu ameaçado e tentou fugir, mas outro policial apareceu e o reduziram. Uma vez checados os antecedentes, comprovaram que era um fugitivo e ficou detido de imediato. Por essa razão Valéria estava mais furiosa que nunca com ele, além de angustiada porque seu namorado estava outra vez na prisão, com sua situação agravada pela fuga. Rama estava seguro - e todos concordaram nisso - de que dessa vez Valéria não o perdoaria; no entanto, ele pensava que havia feito o correto, e Nico o reafirmou.

Valéria não podia deixar de chorar enquanto Nico falava com ela; com serenidade mas com firmeza, a repreendeu pelo o que tentou fazer, por ter exposto a todos escondendo seu namorado fugitivo da justiça na mansão, e por ter tentado a fuga, passado por alto que ele fosse seu tutor e ela sua responsabilidade. Ela se desculpou e lhe assegurou que não voltaria a trazer-lhe problemas.

No dia seguinte, Nico teve a conversa que havia antecipado com Lleca. Enquanto Nico tirava as folhas mortas de umas plantinhas que estava cuidando com dedicação, escutou o desabafo de Lleca, que, longe de se desculpar, manifestou todo seu enojo.

- Todos me tratam como uma criança, e não sou uma criança.

- Isso não justifica que tenha escapado e que tenha mentido para mim. E muito menos o que tentou fazer ontem.