Nos veremos outra vez - VI

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Jasmim regressou do encontro com seus tios e, acelerada, contou a Mar como seu medo e preocupação haviam desaparecido; ver seus tios lhe havia devolvido a tranquilidade e a certeza de que Josemi era inocente.

- E te reconheceram? - perguntou Mar.

- Não.

- E o que disseram quando você disse a eles que era sua sobrinha?

- Eu não disse.

Mar estranhou muito quando Jasmim lhe contou a confusão que havia ocorrido, e que havia aceitado ser a empregada.

- Por que? Por que não disse a eles?

- Não sei. Eles pensaram que eu era a empregada... e eu não esclareci.

- Será porque em algum lugar continua desconfiando? Quer estar perto para investigá-los, não?

- No início, sim. Agora, não. Agora tenho certeza que ele é inocente. Essa cigana era uma estafadora!

Nesse momento se aproximou Rama e as chamou: Nico queria falar com eles na sala. Quando se encontraram todos juntos, Mar sentiu a mesma alegria de sempre quando se juntavam; essa sensação de pertencer a uma família tão numerosa lhe dava felicidade. Mas a cara de Nico não predizia boas notícias, parecia pálido e tenso, e Felicitas lhe dizia por baixo que não o fizesse.

- O que foi, Nico? - perguntou Thiago preocupado.

- Eu tenho que estar aqui sim ou sim? - perguntou Tefi, odiosa como de costume.

- Isso pergunto eu... ela tem que estar aqui? - replicou Tacho, que não a suportava.

Em poucos segundos se armou uma discussão barulhenta, como cada vez que se reuniam, e Nico os apaziguou com seu clássico grito de "Basta!" E todos fizeram silêncio.

- Não, Tefi, não precisa estar aqui. Pode ir - disse Nico.

Ela saiu de imediato, e também Nico liberou Caridade, Valéria e Luca. Não queria incluir nessa reunião os mais novos, porque não estavam familiarizados com os mistérios que escondia o relógio do sótão; seria muito o que deveria explicar para que entendessem, e preferiu preservá-los. Buscou as palavras mais adequadas para contar aos que ficaram o que estava ocorrendo, apesar da insistência de Justina para que não o fizesse. Mas neste momento tocou o celular de Nico.

- Salvador, não posso falar nesse momento - respondeu.

- Não pode me dizer que não - lhe disse Salva, com uma estranha euforia em sua voz.

- O que foi?

- Estou me casando com Linda e necessito que seja minha testemunha.

Nico ficou mudo.

Depois de ter estado por vários dias no Uruguai sem ter encontrado nada, Salvador e Linda haviam decidido regressar. O licenciado Temporale havia insistido muito em suas sessões com a ideia de que era fundamental voltar ao lugar onde ela havia aparecido no dia em que se esquecera de tudo, pois sem dúvidas ali haveria mais respostas que em Montevidéu.

Ante a falha do iate, tiveram que viajar por terra, e foi ali quando o ingresso ilegal de Cielo foi um inconveniente. Apesar da livre circulação entre ambos países, a suposta Linda Barba era uma indocumentada que havia ingressado de forma irregular, e por isso foi retida. A angústia de conviver com uma amnésia que não cedia, agora se somava a de estar presa.

Salvador moveu céu e terra para poder solucionar o problema, e graças aos contatos de seu pai pôde dar com um juiz que se mostrou bastante predisposto a oferecer uma solução. O problema, que era mais burocrático que penal, residia na condição de indocumentada, e ante a confissão de que ignoravam a verdadeira identidade de Linda, era impossível pedir antecedentes ao registro civil de algum dos dois países para estender uma nova documentação. Se tratava de um caso muito atípico e de difícil solução. Então Salvador teve a ideia de se casar com ela, para que dessa maneira pudesse dar-lhe a nacionalidade uruguaia e assim transitar livremente. A solução não era de todo perfeita, já que não solucionava totalmente a situação, mas o bom foi que certos favores que o juiz devia ao pai de Salvador aceleraram o processo.

Quase Anjos - O Homem das Mil CarasWhere stories live. Discover now