Capítulo Único

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Sana Minatozaki não era alguém fácil de se lidar, era uma adolescente - não tão adolescente assim, pois beirava os dezoito anos - rebelde, daquelas que tingem o cabelo com cores chamativas e tocam guitarra às onze da noite para todos da vizinhança ouvirem o bom e velho rock n'roll em sua faceta mais pura e crua. Era a típica pessoa que você jamais, em hipótese alguma, apresentaria aos seus pais.
E ela também não faria questão de conhecê-los, já que curtia uma vida mundana de prazeres. Aqueles lábios carnudos foram responsáveis por tirar várias garotas do armário empoeirado no qual se escondiam, jogando-as abruptamente para fora daquela ilusão de serem o que não eram.
Sana era o próprio diabo em forma de gente, voluptuosa e possuidora de olhos eloquentes como os de uma raposa traiçoeira. Era impossível resistir ao castanho caramelizado que pareciam tão doces, mas que escondiam um gosto amargo como chocolate setenta por cento de cacau. Sua doçura era enganadora e quase inexistente.
Quase!
Na última primavera, quando aquele par de olhos cor-de-mel encontrara os seus em meio a uma discussão com sua banda, os Dirty Story, Sana finalmente provara do próprio veneno! E, porra, como odiava se sentir tão submissa à alguém.
Porém, adorava sentir-se tão entregue a Mina Myoi, a garota do sorriso gengival mais "ARGH!" do mundo.
Dissera adeus a vida de gandaia, as madrugadas perturbando a vizinhança com seus solos de guitarra barulhentos, rejeitara todas as garotas bonitinhas que a procuravam para ter um dia de "Guerra nas Estrelas", começou a estudar apenas para impressionar aquela texana que possuía lábios tão doces quanto o mel de seus olhos.
Inclusive, enfrentara seu pai por aquela garota que possuía constelações no rosto — Deus, como Sana amava aquelas pintinhas! —, e mais, fazia isso naquele exato momento.

– Qual é, pai! É só por algumas horas, só vou levar a minha garota ao cinema!

Ela apoiou as mãos na cintura e encarou o homem alto e com feições nada amigáveis. Ela já estava arrumada para sair, a camiseta cinza surrada com a Millenium Falcon no centro (presente de Mina) combinava perfeitamente com a calça jeans justa com rasgos não propositais nos joelhos, além dos coturnos costumeiros da jovem sem futuro.

– Já disse que não, Sana Minatozaki. – a voz de Minho, seu pai biológico, era firme.

– Por favor! – a japonesa apelou para a artimanha das feições de cãozinho abandonado para tentar convencer seu velho. – Papai, me empreste o carro... Eu juro que não crio problema! Papai, eu não fumo, não bebo! Meu único crime é amar demais!

O homem encarou a filha por alguns segundos e então suspirou, manteu-se calado e a garota viu como um sinal de que estava quase conseguindo convencê-lo.

– Com quem você vai? Não é a filha das Hwang, é? Porque aquela garota é uma má influência para você.

Como se Sana Minatozaki fosse uma boa influência, mal sabia ele que sua querida filhinha era o terror de todos os professores do colégio. Nem mesmo a filha do pastor, Dahyun Kim, escapara de seus dedos.

– Momo?! Ew, Deus me livre e guarde! – revirou os olhos e cruzou os braços, parecia verdadeiramente ofendida com aquela hipótese. – É com a filha mais nova dos Myoi, Mina... Ela é um pãozinho, pai!

Ela e Momo já foram amigas, sim, amigas inseparáveis e que dividiam tudo, desde as roupas até o amor pelo rock n'roll! E ela havia sido a primeira baterista do Dirty Story, e ela é uma das boas! Foi uma grande perda, mas fora preciso meter o pé na bunda daquela talarica raspa canela depois do inferno que a mesma fizera em sua vida na primavera passada. Sério, ela espalhou mentiras ao seu respeito e ainda tentara roubar Mina de si! Que tipo de melhor amiga fazia isso?!
Tivera sorte de Chaeyoung Son, a baixista do mullet horrível (porém maneiro), ter lhe contado tudo antes que virasse uma bola de neve gigante. E sequer nevava naquele Estado! Hello, estavam na Flórida, as coisas mais interessantes que haviam por lá, eram os jacarés e os charutos cubanos. O sol infernal queimava o ano todo, raramente chovia ou fazia frio.
Primeiro que ela e Momo só se tornaram amigas porque ambas eram filhas de casais homoafetivos, então tinham muito em comum... Mas, é, era uma longa história.

Papai, me empreste o carro!Where stories live. Discover now