Santo Seu Jorge. - Yoonkook

2.4 Músicas Para Churrasco Vol.2

    Olhou para os prédios altos da capital, as luzes acesas. Nessa hora em casa ouviria poucos sons além dos grilos e do clicar das panelas, sua mãe esquentando leite antes de ir para a cama. Sentia falta dela, sozinho no pequeno apartamento no início de um morro. Sentia falta do cheiro de mato e de conhecer todas as pessoas que andavam pela rua. Perdido naquela grande cidade muitas vezes se perguntava quem era. O que fazia ali, um pontinho insignificante no meio de prédios de trinta andares e homens engravatados. Perguntas difíceis demais de responder, então olhava para o céu. Para a mesma lua sobre sua cabeça e a cabeça de seu cavalo na fazenda, a mesma lua que guardava sua casa e cuidava de longe de sua mãe. Olhava, rezava, e agradecia. Que Deus iluminasse seus caminhos como a lua iluminava a rua. Se olhasse para o céu, mas inclinado para o lado, veria sua outra lua. Namjoon o escutava atentamente, as covinhas fundas como os desenhos no satélite. Seus olhos redondos, escuros e cheios de tudo. Tudo o que Jimin queria para si.

— E o Yoongi sempre foi meio miudinho, todo quietinho na escola. — Se lembrava do menino de olhos e cabelos do preto mais escuro que alguém já viu, sentado no cantinho da sala brincando com seu lápis de tabuada. —  Tinha muita gente ruim, sabe? Criada assim, pra ser machão. Pra matar galinha quebrando o pescoço na mão, pra fazer bezerro nascer. Gente ensinada que se menino chorar vai ver vara de laranjeira até o dia amanhecer.

— Nossa, loirinho. — Namjoon disse cheio de tristeza.

— Ninguém tava pronto pra sensibilidade do Guinho. Nem pra do Tae. Nem pra minha. — Chutou uma pedrinha no chão. — A gente não vem de um lugar que nem esse aqui. — Apontou com a cabeça para os prédios que o cercavam. — Minha mãe não entende até hoje. Acha que eu só não arranjei uma moça bonita o suficiente, ou que eu sou só delicado, palavras dela. Sou uma florzinha, porque gosto de pintar a minha unha e as vezes eu uso saia. Sou menos moço, menos forte e menos tudo por não ser macho o suficiente, é o que ela acha. Mas que se magicamente ela me arranjar uma namorada perfeita eu tenho conserto. — Continuava a encarar o chão. — Sei nem se tenho coragem pra confrontar. As vezes cobram demais da gente isso, sabe? Coragem. Ter que contar, lutar, não se esconder. Eu tô mesmo me escondendo se só tô me preservando? Preferem me ver morto do que calado? Eu entendo, porra, eu entendo mesmo essa coisa toda de ter orgulho de quem é, e eu tenho. Morro de orgulho de mim. Justamente por me amar demais que eu prefiro me preservar. Eu não nasci o Anderson Silva não, só quero um descanso.

     No meio da calçada, Jimin sentiu o calor de um corpo e o conhecido cheiro de um perfume junto dele. Beijos afoitos foram espalhados em seu rosto, cabelo e todo lugar que Namjoon era capaz de encostar. Era um carinho desesperado, as palavras escondidas nos lábios do moreno, amor na ponta de seus dedos. Sentia um mix de afeto, cuidado e dó, todos em medidas diferentes. As vezes ele se esquecia de como tinha sorte, sua mãe era incrível. Dona Helena sempre conheceu o filho que tinha e nunca o questionou por isso. Nunca duvidou de suas capacidades, Namjoon ainda era e sempre seria seu “homem da casa”, mesmo que ela nunca tivesse precisado de um. Era seu garotinho, acompanhado de quem quer que fosse.

— Tá me esmagando, Moonie. — Riu abafado, os olhos brilhantes. Se eram lágrimas ou não, ninguém nunca saberia.

— Descansa em mim. — Namjoon disse, o som baixo contra a touca do loiro. — Descansa em mim, confia em mim. Confia em mim que eu vou te cuidar, descansa em mim que nada nesse mundo te alcança enquanto eu viver. Me deixa ser seu cavaleiro, seu cavalheiro e tudo mais o que você quiser. Eu tô pronto, Jimin, eu te juro. — Segurou as mãos do rapaz, olhando no fundo de seus olhos escuros. — Vem e me arrebata que nem um furacão que eu deixo. Eu tô pronto pra tua força. Eu sempre tive pronto, só esperando você aparecer. — Foi a vez de Jimin esmaga-lo, sem dizer uma palavra. — É um sim? — Sentiu o loiro fazer que sim com a cabeça.