A moça do caixa o olhou com a maior cara de preguiça do mundo, o desprezo impregnado em suas pupilas. A choker tattoo preta e o coque bagunçado de quem não lava o cabelo há mais de cinco dias não deixava dúvidas: era uma adolescente. Com suas extensões de cílios e unhas acrílicas pintadas de rosa vibrante, o cabelo em tom de moreno iluminado. Não devia ter mais que dezoito anos, a blusa azul marcada com o selo “JOVEM APRENDIZ” bem grande em branco.
— Moço, esses produtos já foram pagos. — Ela disse, mascando o chiclete que já estava até sem cor. Revirou os olhos para a cara de confuso do rapaz. — Olha, senhor, eu não tenho todo tempo do mundo pra você tentar adivinhar se pagou ou não pagou a compra. Tá constando no sistema que já foi pago.
— Por que todo mundo nesse lugar é tão mal educado? — Murmurou insatisfeito. — Você viu se o moço da tatuagem no pescoço passou aqui antes de mim?
— O João?
— João? — Questionou. Não conhecia esse maluco aí não. — Acho que o nome dele é Jungkook.
— É, mas é um nome muito difícil, então eu chamo ele de “João”. — Ela esclareceu, puxando o chiclete com o dedo. Nojento, Yoongi pensou. — Ele é um gato. — Esse comentário não soava como algo que devesse ter saído alto de propósito.
— Ele é legal. — Foi o que Yoongi conseguiu dizer.
— Sou doidinha com ele, mas ele não tá nem aí pra mim. — Que ótimo, agora mais essa. Desabafos de uma adolescente em crise. — Será que ele me acha muito nova?
— Quantos anos você tem?
— Dezessete.
— E ele?
— Vinte e quatro. — Número interessante. Significava para Yoongi que ele era o mais velho, tendo seus bem vividos 26. Tá, podia conviver com essa diferença. — Ele é todo grandão, eu me amarro. E as tatuagens, meu Deus. Só melhora quando ele tá com o piercing na boca. — Ela quase se derretia na cadeira. — Pena que não vale nada. — Mentiu.
Via aquele baixinho encharcado usando o moletom de seu homem, que ainda não sabia que era seu. Ela tentava por meses pegar a peça de roupa, nem que fosse só para sentir o cheiro. Não teve sucesso em nenhuma de suas empreitadas em busca da atenção de Jungkook, se sentia humilhada. Aquele meio metro de homem conseguiu o moletom, que ele pagasse duas bandejas de morango e ela tinha certeza que ouviu Jungkook o cantar. Acabaria com aquele romance de supermercado ali mesmo.
— Ah, é? — Já deveria esperar. Um homem tão bonito só poderia ter como hobby quebrar corações por aí. Por mais gentil que fosse, escondia outra faceta. Yoongi já estava traumatizado o suficiente, não precisava de mais um na conta.
— É, viu. Todo dia com uma mulher diferente pendurada no braço. Eu sou da igreja, sabe, seu moço? Oro tanto por esse maluco. — Se divertia mais e mais em suas mentiras. — Pra ele sair dessa vida, sabe? Parar de beber, de fumar maconha, de se pegar com mulher maluca todo dia. A noite todinha em farra, só muvucando com aquele amigo esquisito dele, o Rafa. Esse menino Rafael já foi até envolvido com tráfico, viu. Ninguém nunca provou, mas eu sei que foi. — Yoongi estava chocado. Não pelas informações, cada um fazia o que bem entendesse com o pouco tempo livre que a rotina os permitia ter. Seu choque maior se dava pelo fato de que em dez minutos aquela garota já havia feito a fama de Jungkook inteira, e a do tal Rafa junto. A fofoca na mão dela corria na velocidade da luz. — E tipo assim, ai, sabe? Cansei de homem lixo. Então se o João quiser, ele que corra atrás de mim.
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Santo Seu Jorge. - Yoonkook
FanfictionJoão Jungkook, o moço do Hortifruti, é um garoto simples. Vai de casa pro trabalho, do trabalho vai pra casa na moral. Até tudo mudar. Yoongi era um rapaz cheio de sonhos perdido na cidade grande. Nada parecia dar certo naquele dia chuvoso, em que e...