Santo Seu Jorge. - Yoonkook

2.0 Músicas Para Churrasco Vol.2

       Para a felicidade de Yoongi, a quarta-feira chegou. Veria o moço bonito outra vez,  quem sabe até pegaria o Instagram dele para que pudessem sair por aí. Conversar, sei lá. Ultimamente só havia uma pessoa batendo em sua porta e não era a mais interessante das opções.
Shin Donghae gostava de Yoongi. Ao menos Jimin insistia nessa ideia, e o rapaz insistia em o acompanhar em toda atividade possível na faculdade, incessantemente trocava mensagens, implorava para que se encontrassem. Yoongi aceitava por pura educação, pouco interessado no rapaz que nem fazia tanto assim seu tipo.
Yoongi gostava de homens altos, Donghae tinha 1,68. Era maluco pelos morenos, ele era loiro como as versões falsificadas das Barbies na feirinha (inclusive com a falha no meio da cabeça). Não sorria muito, tinha a voz estridente e os olhos claros. Era charmoso, indiscutivelmente. Tinha seu jeito com as palavras, sabia ser encantador como poucos outros. Yoongi até via nele, se apertasse os olhos e virasse a cabeça para o lado, um certo brilhinho. Ele despertava seu interesse, era um rapaz muito misterioso. O conheceu na biblioteca da universidade, pouco tempo depois de ter se mudado. O loiro fazia parte da turma de Design, dividia algumas aulas com o Min. Taehyung quase o confundiu com Jimin quando o viu ao lado de Yoongi, se atentando rápido aos diferentes tons de loiro. Jimin nunca deixaria uma mancha alaranjada daquele tamanho em seu cabelo tão bem cuidado, preferia a morte.
      Não queria nem pensar sobre o tal cinema de mais tarde. Que não o levassem a mal, Donghae era até que educado na medida que conseguia ser. Não dava bom dia a praticamente ninguém, mas pelo menos não cuspia no chão ou jogava papel de bala na calçada. Era, óbvio, infinitamente menos educado do que o trio de melhores amigos, que davam bom dia para qualquer um na rua e ofereciam o que quer que estivessem comendo. Ainda sim costumava ser educado, cumprimentava Yoongi na faculdade e às vezes até oferecia um pouco de sua água nos dias muito quentes. Ele ser minimamente bonito e ligeiramente educado, entretanto, não o fazia uma companhia das mais agradáveis.
Seu tom de voz ainda que fino era monótono como chá morno e sem açúcar. Yoongi se sentia sufocado na presença do mais baixo, como se sentia nos jantares de natal com suas tias inconvenientes. Não abria muito a boca, só escutava, escutava  e escutava. Donghae parecia ter sempre muito a falar de si mesmo, onde foi, o que fez, quem encontrou no meio do caminho da fila do refeitório. Ele gostava de contar vantagens, por notas de provas ou casacos de marca. Yoongi, pobre Yoongi, só se sentava e concordava. O que mais poderia fazer, afinal? Não entendia nada de Dior e Chanel, isso era coisa de Taehyung. Também não ligava muito para os 10 que Jimin nem precisava se esforçar  tanto em ter. Para Yoongi, desde que ficasse acima da média com um 6 estava feliz.
     A realidade é que não eram muito parecidos, o loiro aguado e ele. Donghae parecia muito mais preocupado com sua próxima bolsa de luxo, Yoongi queria saber em qual barzinho seria a noite dos meninos no final de semana porque ele não aguentava mais. O homem falava sobre economia, evasão de impostos e a suposta alienação das massas pela TV aberta, o Min só queria discutir por que a TV Globinho teve que dar espaço a um programa que discute para qual lado deve-se deixar a ponta do papel higiênico. Donghae era estudado, viajado e ligeiramente egocêntrico. Yoongi era igualmente estudado, tinha preguiça de viajar e não estava nem aí. Não tinham mesmo nada em comum, Yoongi deixaria claro naquela noite. E aí sim finalmente estaria livre para procurar um certo alguém num certo mercado.
     Andava rápido, a pressa visível no cabelo bagunçado que não parava mais de crescer. Não planejava cortar tão cedo, muito apegado a suas longas madeixas escuras que Jimin tinha orgulho de dizer que cuidava. Andava a passadas largas, rezando para que ele ainda estivesse no mercado. Planejou mal aquela coisa toda, o que diria? “Oi, tá aqui seu moletom, quer sair comigo?”. Direto demais. “Er, oi, eu te achei bonitinho. Me chama pra dar uma volta?” Atirado demais. O frio na barriga se espalhava por todo corpo num desespero incomum, rezava por um sinal. Estava cansado de homens chatos e finanças, que seu anjinho da guarda apontasse a direção certa. A brisa se espalhava suave por seus cabelos vindo do ventilador de dentro do mercado.