Capítulo V

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Ele estava ali, ao meu lado e falando comigo, acho que nem em meus maiores delírios imaginei um cenário como aquele. Ele tinha cabelos castanhos e levemente ondulados, seu sorriso era diferente do sorriso do Ash, era como seu houvesse sentimentos obscuros por detrás de seus dentes perfeitos.

— Qual é a da saia? — Questionou.

— O quê? — Saio dos devaneios e fico completamente em desespero com sua pergunta nem um pouco discreta.

— Qual é a da saia? Por que usa saia? —

— Porque eu gosto. Algum problema? — Mesmo com minha insegurança sou austero nas palavras, não queria parecer fraco.

— Nenhum, só achei diferente. —

— Por que você bateu no garoto? —

— Porque ele é um otário. — Falou e cruzou os braços, eu podia ver claramente o eritema em sua mão direita, certamente a mão que ele usara para desferir o golpe.

— Entendi. — Depois ficamos em silêncio, era constrangedor, eu não conseguia falar nada, nem puxar assunto. Olhei rapidamente, ele também me olhava. Até que o vice-diretor entrou novamente na sala.

— Um nariz quebrado, por sorte apenas isso Sr. Griffin. O que eu faço com você? Parece que você não aprende. — Ele diz sentando-se e olha diretamente para mim, sua expressão demonstra que ele acabara de ter uma ideia, como uma epifania.

— Eu não sei senhor. —

— Eu já sei o que farei, você Griffin, mudará para a sala do Sr. Von Hoffman, lá existe gente decente e civilizada, vê se aprende alguma coisa com eles, ou então você será expulso do time de roquei e da escola.

— Mas meus amigos todos estudam comigo. —

— Sinto muito filho, você não me deixa escolhas. —

— Harry, pode ir, não use mais celular durante a aula. — Peguei minha mochila, não esperei muito e saí daquela sala bem rápido. Não demorou muito e Luke também sai.

Caminho por entre os corredores até a saída da escola, ao chegar no meu banco favorito me sento nele e fico esperando pelo meu irmão.

— Ao que parece somos colegas agora. — Luke diz repentinamente causando-me certo espanto.

— Isso é bom ou ruim? —

— Não sei, acho que podemos descobrir. — Disse e depois olhou para o horizonte, fechou sua capa negra.

— Quer uma carona? —

— Não precisa, meu irmão me leva, sem falar que estou de saia. Mas obrigado mesmo assim. —

— Então tá, até amanhã Harry. — Ele acenou e depois atravessou a rua em direção à sua moto.

Luke Griffin havia acabado de falar meu nome, meus surtos internos estavam quase se externalizando. Mas me contive, pois não queria que ninguém visse.

— O que o Luke Griffin queria com você? Ele estava te incomodando? Quer que eu dê uma surra nele? — Troy faz uma série de perguntas sem sentido. Que respondo com apenas uma palavra:

— Nada. —

Chegando em casa, após meu sagrado banho, me deito e vou mexer um pouco no celular, lembrei que o Ash havia me seguido. Sua conta era privada, peço para o seguir e para minha surpresa ele aceitou minha solicitação quase que instantaneamente.

Ele postava muita coisa, havia fotos de sua família, de viagens, dele tocando uma série de instrumentos, também dele mergulhando, pintando, desenhando, até dele cuidando de umas tartarugas em uma ONG.

— Agora entendo o apelido "Sr. Perfeitinho". — Falo comigo mesmo. De repente chega uma notificação, ele havia enviado uma mensagem.

— Oi, só queria agradecer a torta, estava muito deliciosa. —

— Eu que agradeço. —

— Se quiser mais bolo eu levo para você, minha avó faz quase todos os dias. — Ele era muito atencioso, muito fofo. Dava até vontade de morder.

— Não quero abusar. —

— Que é isso, se quiser visitar a panificadora da nonna será muito bem vindo. —

— Sua avó tem uma panificadora? —

— Tem sim, estou aqui agora inclusive. Ajudo ela com a clientela. —

— Um dia quem sabe apareço por aí. —

— Você estava lindo hoje. — Quase não acreditei no que meus olhos haviam acabado de ler. Fiquei boquiaberto o susto foi tremendo que derrubei meu celular na cara.

— Você achou? —

— Achei, aliás sempre te achei lindo. —

— Você também é lindo, perfeito na verdade. —

Ele não respondeu essa minha última mensagem, fiquei esperando por alguns minutos depois desisti, saí para o jardim, fui comer algumas amoras direto da amoreira.

— Traz uma pra mim macaco. — Troy gritou.

— Vem buscar Kingkong molhado. —  Depois de saborear algumas amoras volto para o meu quarto e havia uma mensagem dele no telefone.

— Desculpa a demora, está bem movimentado hoje. —

— Tudo bem, espero não estar atrapalhando. —

— Você não atrapalha. — Sorri com aquela mensagem. Era estranho, estranho sentir-se assim por duas pessoas, estranho mais ainda ambos estarem falando comigo ao mesmo tempo e depois que comecei a usar saia na escola.

Conversamos um pouco, perguntei sobre o que ele gostava de fazer. Ele me disse que gostava de cozinhar com a avó dele. Se existisse alguém mais perfeito que aquele garoto eu desconheço. Ele me disse que gostava também de cantar.

Eu implorei pra ele mostrar um pouco da habilidade dele, mas ele disse que depois me mostraria.

Antes de dormir falei com meus amigos, falei sobre ambos os acontecimentos, eles ficaram extremamente surpresos, primeiro falei sobre Ash, sua felicidade era tremenda, quando falei sobre Luke eles fecharam a cara.

— Quer dizer que aquele otário vai estudar conosco? Só o que faltava. — Karen

— Sim, e a partir de amanhã. —

— No que isso afeta o seu namorado Ashton Blake? — Theo ironizou.

— Ele não é meu namorado. —

— Ainda não, meu amor, questão de tempo, escreve o que te digo, você ainda vai namorar com ele. —

— Acho que vocês estão colocando coisa demais na minha cabeça. —

— Amigo, esquece o Luke, mesmo que aconteça alguma coisa entre vocês ele é muito complicado. O Ash é um porto seguro que você poderá contar sempre, se não for o Ash pode ser outra pessoa, mas não o Griffin. — Karen falou.

— Garoto você tem sorte, até eu sou afim do Ashton, mas como seu amigo isso não existe mais. —

— Theo você se apaixona demais pra um assexual. —

— Meu filho eu não sou castrado. Seu rotulador barato. —

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO
















O garoto de saiaWhere stories live. Discover now