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DANIEL

Na última semana, a Camila tem passado por alterações de humor que eu gostava de compreender. Toda a parte dos enjoos parece estar mais do que controlada, mas tudo o que é a parte hormonal do seu ser, deve estar totalmente alterado. Ou porque começa a chorar só porque está a falar sozinha, ou porque se irrita quando não consegue abrir algum pacote de bolachas. E quantos pacotes ela já abriu.

Também anda mais ansiosa, porque está prestes a ter uma reunião demasiado importante com a Mercedes para definir o seu futuro. Ainda não aceitou o trabalho, porque quer explicar toda a sua situação atual ao dono da equipa. Já eu gostava que fizessem o mesmo comigo e não me deixassem nesta incerteza de não saber o que vai ser da minha vida profissional.

- O George diz que vem a caminho daqui para nós o alimentarmos – nunca pensei que fosse passar tanto tempo com o George como o estou a fazer nestas férias. Ou que o verão em Inglaterra me soubesse tão bem. Costumo aproveitar esta pausa mais prolongada no campeonato para estar nos Estados Unidos ou, até, ir à Austrália, mas ficar aqui tem sido uma agradável surpresa – porque é que estás com aquela cara de quem está a pensar demais? - acabei por me rir perante a sua pergunta.

A Camila tinha ido preparar aquilo a que ela chama de reforço da manhã. Uma enorme taça com uma grande variedade de fruta. Tem sido o que mais lhe apetece comer e das poucas coisas que nunca a deixaram maldisposta.

- Estava a pensar que temos decisões a tomar.

- Queres mesmo que eu fique de mau humor? - sentou-se na cadeira à minha frente, colocando a taça sobre a mesa. Já conseguimos compor muito mais a zona exterior, criando uma rotina a seguir ao pequeno-almoço de passar algum tempo a treinar no alpendre, enquanto ela trata das flores. Isso passou a ser o maior hobbie da Camila desde que as comprou.

- Vais ter de decidir nomes extra – apoiei os cotovelos na mesa e ela enrugou a testa – eles podem ser dois meninos, ou duas meninas.

- Não - levou um pedaço de manga à boca, acenando que não com o dedo indicador – tu tens tudo pensado, não é suposto a mãe dos teus filhos se preocupar com essas coisas - acabámos por nos rir os dois, provavelmente lembrando-nos ao mesmo tempo do momento em que lhe havia dito tais palavras.

- Mas eu já não tenho mais ideias.

- Ok – voltou a comer mais um pedaço de fruta, olhando para os seus canteiros de flores – eu gosto de Milie – confessou, olhando-me novamente – Zoe e Milie fica demasiado querido.

- Está estampado por toda a tua cara que queres que elas sejam duas miúdas.

- Óbvio. Eu tenho tanta coisa para partilhar com elas... além de que são logo menos probabilidades de ter de ser a mãe de miúdos que se metem em carros de Fórmula 1 – bebi o meu café, percebendo que ela estaria a pensar – eu para meninos até nem me importava que ficasse George.

- Nem penses! Eu não vou aturar o Russell a gabar-se de que eu tenho um filho com o nome dele – ela soltou uma gargalhada tão genuína que me contagiou.

- Não sejas assim..., ele tem sido um querido.

- Só porque quer os teus conselhos para conquistar a sobrinha do Vettel. Até aposto que é só por causa disso que ele vem cá hoje.

- Acho que vou abrir um consultório de aconselhamento matrimonial – e, claro, começámos os dois a rir-nos assim que os seus olhos chocaram com os meus – achas que lhe podemos contar hoje sobre os abacates? - graças a uma aplicação qualquer que ela instalou no telemóvel, vamos sabendo com que tamanho aproximado vão os nossos filhos e, de cada vez que isso se altera, também a forma de os tratar se modifica. Esta semana são dois abacates.

Always, DanielWhere stories live. Discover now