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DANIEL

Entrar numa equipa nova é sempre um desafio. Estou, oficialmente, na McLaren há um mês e ainda não me sinto totalmente à vontade para ser eu próprio com todos os que aqui trabalham. De certa forma, parece que todos esperam que eu faça algum tipo de piada, ou que venha sempre animado. Isso, para quem me conhece de verdade, sabe que não acontece todos os dias. Porque sou uma pessoa como todas as outras, com os seus dias bons e dias maus.

- Hoje vais conhecer o simulador – indicou o Michael, o meu grande amigo, preparador físico e quem me mantém a par de tudo o que é a minha agenda – eu vou estar com os nutricionistas da equipa para lhes explicar o que é que podes e não podes comer.

- Certo – começámos a percorrer toda a exposição dos carros, ficando sempre surpreendido de cada vez que aqui passo – achas que devia fazer o simulador várias vezes?

- Enquanto não começas os testes no carro, acho que podias aproveitar todas as horas disponíveis esta semana.

- Eu combino com o responsável do simulador, então.

- A responsável – relembrou-me – Camila, também é nova na equipa, mas já trabalhou em grandes empresas de simuladores.

- Ok.

Separámo-nos, indo cada um para o lugar que nos era destinado. Percebi que a sala do simulador era enorme, havendo uma parte com paredes de vidro e outra mais reservada. A porta estava aberta, havendo apenas uma rapariga no interior. De cabelos castanhos-escuros, pouco abaixo dos ombros, ondulados, contrariamente a quase todos que utilizam a roupa habitual da equipa, ela está a utilizar roupa normal do dia-a-dia, utilizando apenas um lenço atado ao pulso com as cores e símbolo da McLaren. Ainda nem entrei na sala, mas já se faz notar um forte e intenso perfume a baunilha. Ela, a Camila quase de certeza, está sentada à secretária, olhando para alguns papéis sobre a mesma.

- Bom dia – disse-lhe, batendo na porta de vidro logo de seguida. Ao levantar a cabeça, empurrou os óculos redondos pela cana do nariz, olhando-me.

- Bom dia! – levantou-se num ápice, vindo na minha direção – Camila – esticou a mão na minha direção, apertando-lha logo de seguida.

- Daniel, muito gosto.

- Igualmente – estava sem máscara, o que me permitia observar as suas salientes bochechas e o quão verdes os seus olhos são – vou só colocar a máscara – voltou a percorrer o caminho até à secretária, fazendo-me notar no tamanho dos saltos dos seus sapatos. E nos bons gémeos que tem. Daniel, para. Não examines tudo o que, neste momento, te é permitido observar – recebi a informação de que é a primeira vez que vai experimentar o simulador... - tentei disfarçar que, realmente, a estava a analisar – tem preferência por algum circuito para começar?

- Qualquer um menos o Mónaco – reparei que soltou um pequeno sorriso, avançando para a máquina do simulador.

Um simulador assemelha-se, em muito, a um carro real faltando-lhe, apenas, o motor e os pneus. Simula, na verdade, todos os movimentos que podemos sentir no carro real, testando e fazendo as alterações que forem necessárias. Entramos nele com todo o fato vestido, um capacete, luvas e as proteções para os joelhos, simulando mesmo a nossa entrada num carro.

- Vou colocar Monza – olhou-me – parece-me dos circuitos menos complexos para o primeiro dia – é, de certa forma, surpreendente que não tenha dito que é dos circuitos mais fáceis – pode preparar-se ali – apontou para uma cabine – já lá deixaram o seu fato.

- Obrigado – contrariando aquilo que normalmente aconteça, sinto-me desconfortável neste momento. Por, de certa forma, não esperar que fosse ter na minha frente este tipo de mulher. Que se mostra bastante segura de si mesma, que, sem mais ninguém à sua volta, preencheu esta sala e que, seguramente, é das mulheres mais bonitas desta equipa.

Always, DanielOnde histórias criam vida. Descubra agora