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DANIEL

Correr pela manhã é das coisas que mais me beneficia quando preciso que a minha cabeça se livre de alguns pensamentos. Se, por um lado, sinto que não poderia estar a viver uma melhor fase da minha vida pessoal, sei que a nível profissional o meu desempenho poderia estar melhor. É frustrante perceber que, neste momento, os meus resultados não transmitem aquilo que eu realmente sou capaz de fazer. Não quando tenho o apoio de uma equipa fantástica, quando tenho a Camila a meu lado a ser das peças fundamentais para que eu me mantenha focado.

É a correr que tenho a perceção disso mesmo. Porque ela me dá a tranquilidade que eu preciso quando os resultados não aparecem, porque ela está aqui comigo e, em apenas 24 horas, ainda não me tinha lembrado de que o fim de semana não correu bem. Ela ajuda-me a não pensar demais. Ela ajuda-me a que eu não vá abaixo psicologicamente. Mesmo que não saiba que eu vou abaixo.

Esta manhã está a ser isso mesmo. Precisei de sair de casa, mesmo antes do sol nascer, porque estava a pensar demais em tudo o que não está a resultar com o meu trabalho.

- Pensava que tinhas desistido de correr – assim que olhei para trás, percebi que o Lewis se começava a aproximar de mim.

- Tu é que, ultimamente, não queres vir correr – ele riu-se, começando a acompanhar o meu ritmo. A verdade é que encontro várias vezes o Lewis nas minhas corridas e, nas últimas semanas tem estado mais desaparecido.

- A Be tem estado... - reparei que se deteve em continuar a frase, soltando uma gargalhada seca – ela tem estado mais interessada em começar as manhãs com reuniões - olhou-me, continuando a rir-se – vamos lançar uma fundação os dois.

- Uau, isso é algo enorme.

- Acho que se não fosse ela, já tinha desistido um bocado da ideia pelo trabalho que dá.

- Tenho a certeza de que vão fazer um excelente trabalho - começámos a descer para uma praia, que dada a sua extensão é sempre um ótimo local para correr – temos de combinar qualquer coisa em breve.

- Quando quiseres. A Be bem que precisa de se distrair..., começo a achar que está a ficar demasiado obcecada pelo trabalho.

- Ela é daquelas mulheres que ficando focada numa coisa, dificilmente a vês a fazer outra coisa, não é?

- Nem me digas nada – riu-se - às vezes torna-se assustador o quão dedicada ela é.

- Isso tem as suas coisas boas, mas, já que a Camila está por aí, a ver se fazemos um plano.

- A Camila está por aí? - olhou-me, altamente desconfiado.

- Sim, ela veio ver do circuito ou que foi, por causa do simulador. Encontrei-a ontem a vaguear pela zona da pista – as desculpas que a pessoa tem de arranjar para sair deste tipo de situação.

- Pois foi, ela disse-me na corrida – afinal não sou o único a inventar desculpas – temos de combinar qualquer coisas para as duas se verem – concordei com ele, continuando o resto da corrida já em velocidade mais acelerada e sem grandes conversas.

- Como é que estão a correr as coisas na equipa? - perguntou-me quando nos sentámos junto da marina, para recuperar o fôlego.

- É engraçado perguntares isso - não fosse eu ter tido todos aqueles pensamentos esta manhã - as coisas não estão a fluir, sabes? - reparei que suspirou, como que me dando a entender que compreendia o que se passava – por mais que eu esteja a tentar e que as coisas no simulador funcionem, eu chego à pista e os resultados não aparecem.

- Pode parecer incrivelmente frustrante o tempo que demora a ganhares hábito ao carro, mas vai acontecer – quero mesmo acreditar que sim, por muito que seja das coisas mais complicadas – tenta soltar-te dessa pressão, sê tu mesmo dentro do carro e as coisas vão acontecer.

Always, DanielDonde viven las historias. Descúbrelo ahora