23

29 0 0
                                    

CAMILA

É, oficialmente, o meu primeiro fim de semana enquanto membro da equipa de engenheiros do Daniel. E estou nervosa. Mas mesmo muito nervosa. Não consegui dormir como deve ser, muito menos tomar um pequeno-almoço. Eu acho que nem vou conseguir encarar o Daniel, sem tremer das pernas.

Nunca, mas nunca, me passou pela cabeça estar neste patamar da minha carreira. Quando acompanhava o meu irmão nas suas corridas, por mais apaixonada que seja pelo desporto, trabalhar aqui não passava pelos meus projetos. Por achar que, misturando o prazer que tinha ao viver as corridas com as obrigações e responsabilidades que agora tenho, iriam fazer com que o encanto pela Fórmula 1 se perdesse. Só que isso não está a acontecer. Eu estou a ficar cada vez mais apaixonada pelo que faço e por tudo o que envolve uma corrida.

- Acordaste com as galinhas – surpreendi-me por ver o Lando à minha frente. Devo ter sido das primeiras engenheiras a chegar, já que aqui na casa da McLaren apenas estavam os cozinheiros a preparar o pequeno-almoço – isso é tudo nervosismo? – ele tinha entrado na sala onde habitualmente fazem os briefings de equipa e onde eu, agora, também pertenço – porque é que estás nervosa? – deu a volta à mesa, vindo na minha direção. O Lando conhece-me, atrevo-me a dizer, como ninguém. Talvez como eu nunca me conheci até agora.

- Há uma pressão extra em mim – confessei, olhando-o – eu não quero prejudicar ninguém – porque, se estou na equipa do Daniel, acabo por estar na do Lando também. Porque temos de pensar em estratégias conjuntas, em frações de milésimas de segundos – não consegui dormir nada...

- Não podes ficar assim – agarrou a mão que eu mantinha sobre o teclado do computador, virando-me para ele – tu só nos vais dar mais segurança – comecei a piscar demasiadas vezes os olhos, tentando controlar-me para não chorar – não por seres minha irmã, ou a namorada do Daniel agora – riu-se – mas porque és a nossa engenheira, porque trabalhas diariamente naquele simulador para nos ajudar a melhorar nas pistas... sobretudo porque és das melhores profissionais com quem já trabalhei, Mila – precipitei-me na direção dele, abraçando o meu irmão e respirei fundo – relaxa, miúda – olhou-me, dando-me um beijo na testa. Fechei os olhos, inspirando o perfume do meu irmão.

- Obrigada – olhei para o relógio no meu pulso, percebendo que ainda teria cerca de meia hora até à nossa reunião matinal – acho que vou tomar o pequeno-almoço.

- Tu ainda não comeste, Mila? - acenei-lhe que não com a cabeça - vamos lá, anda – levantou-se, puxando-me atrás dele. Descemos até à zona de refeições, pedindo o meu típico pequeno-almoço: duas torradas com um sumo de laranja natural – acredito que não sejas a única a estar nervosa – olhei para ele, depois de ter começado a comer o pão - o Daniel também deve estar.

- E tu?

- Eu não - encolheu os ombros – tu vais estar a querer beneficiá-lo – riu-se, dando-me a entender que estava a brincar - é como te disse lá em cima, eu estou descansado. Para ele deve ser uma sensação diferente...

- Achas que não devia ter aceitado a proposta que fizeram?

- Nem penses nisso – ele observava-me, apenas, a comer, enquanto parecia estar a ter a conversa mais séria que tivemos na vida até hoje – tu estás aqui por mérito próprio. Eu abri-te a porta para vires a uma entrevista, mas não sou eu que trabalho por ti. Se ao fim de nove meses houve esta oportunidade e acharam que tu és a pessoa indicada, é por todo o trabalho que tens feito – limpei as mãos, bebendo um pouco do sumo.

- Desde quando é que te tornaste o meu irmão mais velho?

- Sempre fui, Mila – riu-se – tu és a nossa miúda, minha e do Oliver, e desde o dia em que percebi que eras demasiado importante na minha vida, que tenho a certeza de que vou ter de me preocupar todos os dias contigo - não esperava, mesmo, ter este tipo de conversa com o meu irmão. Ou que ele a estivesse a ter comigo. Tenho a certeza de que tenho os melhores irmãos do mundo, mas o Lando supera qualquer expetativa que poderia ter. E esta ligação é de sempre.

Always, DanielWhere stories live. Discover now