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CAMILA

Respirar fundo e sentir o perfume a maresia, faz-me sentir verdadeiramente em paz. Agora, que a minha avó já recuperou e se encontra no centro de acompanhamento, consigo respirar como deve ser. Mesmo que ainda existam fantasmas a atormentar-me com tudo o que acontecer nas últimas duas semanas. Não tenho conseguido dormir noites inteiras, porque há pesadelos a acordarem-me e dores no peito que me assustam.

- Porque é que não estás na cama? - tinha-me sentado no pequeno sofá que o Daniel tem na varanda, tapada com uma manta quente e no escuro.

- Não consigo ter mais sono – olhei para as horas no meu telemóvel, percebendo que faltava menos de uma hora para que o sol nascesse.

- Andas a descansar pouco – sentou-se ao meu lado, retirando a manta e cobrindo-se também - porque é que ainda não consegues dormir uma noite inteira? - e, claro, ele sabe que eu não durmo como deve ser. Apenas lhe encolhi os ombros – pesadelos? - assenti que sim com a cabeça, tendo a perfeita noção de que ele me conhece como ninguém - quando eu tinha pesadelos – passou o seu braço por cima dos meus ombros, puxando-me ainda mais para ele. Aconchegou-me nos seus braços, tapando-me como deve ser – a minha mãe deitava-se comigo e contava-me histórias altamente imaginárias - riu-se, dando-me um beijo no topo da cabeça - queres que te conte uma história? - acabei por me rir, envolvendo o corpo dele com os meus braços.

- Basta estar aqui, só - ouvia o coração dele como se fosse a melodia perfeita para me acalmar. E o mar. É incrível como, mesmo a alguma distância, o conseguimos ouvir e sentir – para a semana vou a casa – confessei-lhe – quero ir ver a minha avó e, se conseguir, ir à casa de campo antes de começar a trabalhar – existem demasiadas coisas prestes a acontecer na minha vida, que me preocupam para além de tudo o que aconteceu – e, ainda, resolver a situação do meu cargo na equipa.

- Eles não querem que tu saias da minha equipa – e foram bastante claros na resposta ao meu pedido. Estivemos reunidos com eles poucos dias depois do Ano Novo, explicando-lhes o que sentia e o que pretendia. O Daniel foi a primeira pessoa a manifestar-se e a garantir que estaria ao meu lado, independentemente de qualquer decisão, mas eles pediram-me tempo para pensar. Não falaram nada na reunião, para além de continuarem a insistir em organizar agenda -, mas tu é que sabes o que é que pretendes fazer.

- Honestamente? - olhei-o – eu já nem sei o que é que quero.

- Porquê?

- Porque, se por um lado não quero a pressão dos últimos meses a acompanhar-me o ano inteiro, por outro, também não quero que outra pessoa venha ocupar esse lugar - esboçou o sorriso mais ternurento que lhe podia ver, sabendo que, por detrás do homem que me apoia para tomar qualquer decisão, há o namorado que quer que eu fique a trabalhar com ele – quero, muito, que fiques confiante com a equipa que tens e, não querendo ser convencida, acho que só eu é que te consigo dar isso.

- Estás, apenas, a ser realista – passou com a sua mão pela minha cabeça, retirando o cabelo que me caía pelo pescoço - mais do que querer a melhor engenheira da equipa comigo, eu quero que sejas tu. A minha miúda - passou com o polegar pela minha bochecha, sorrindo ainda mais – mas tu é que decides. Não poderá ser ninguém a fazê-lo por ti.

- Essa é a parte mais complicada – voltei a encostar a minha cabeça no peito dele, reconfortando-me com o aperto dele – acho que vou ligar à Bea, quando forem horas decentes - já se começava a notar alguma claridade no céu, mas ainda está demasiado escuro para serem horas de ligar a alguém - sinto-me confortável a falar com ela e, talvez, me ajude a compreender-me melhor.

- Ela é uma ótima pessoa para isso..., mas fico feliz por ter sido a tua primeira escolha – sorri, porque é realmente a verdade. Ele é a primeira escolha para tudo. Tem sido com ele que consigo desabafar e expressar-me da melhor forma.

Always, DanielOnde histórias criam vida. Descubra agora