CAPÍTULO 22. Cor de esmalte

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ERIS

Sabe quando duas pessoas do vale fazem contato visual e você sente algo? Você não sabe como nem porquê, mas por algum motivo saca na mesma hora que: 1) a pessoa não é hetero e 2) você sente que pode confiar nela.

Senti isso com seu Expedito.

Ele me explicou direitinho a localização do camping. Disse que não possui barracas e lonas para alugar, teríamos que conseguir, mas que facilmente encontraríamos no comércio local. O único detalhe é que a loja fecha às 18h e já são 17h50.

— Agora, sejam rápidas porque, se fechar, essa loja só abrirá amanhã pela manhã. E acho que vai chover, tem chovido todos os dias por aqui no finalzinho da tarde. Devem ter percebido na estrada — ele completou.

— Sim, está bem escorregadia, obrigada seu Expedito.

— Assim que eu fechar aqui passarei lá para dar um oi, Pepeu já está à espera de vocês — seu Pepeu é o esposo dele.

*

— Olá! — um homem que deve ter seus 60 e poucos anos apareceu todo sorridente — Vocês devem ser as moças que Expedito comentou. Eu sou o Pepeu e é um prazer tê-las em nosso camping. Estamos com a lotação máxima então não conseguirei dar muita atenção a vocês e nem fazer o passeio que geralmente faço por aqui... mas gostaria que ficassem à vontade e que soubessem que são extremamente bem-vindas.

O cara é um figurão e ele vai dizendo o que precisamos saber: a localização dos banheiros, cozinha compartilhada, acesso ao rio e cachoeiras, área para fazer fogueira entre outras informações.

— Alguém sabe montar barracas? — e todas olham para Adria.

— Antes de tudo, eu preciso das lonas, alicate, arame e cordas.

Adria é a única experiente nesse lance de acampar. Eu posso apostar que se ela pudesse, viveria no meio do mato sem contato com o mundo exterior. Seguimos então todas as suas coordenadas.

Assim que terminamos boa parte da base do acampamento, Misha se deu conta de que esqueceu a escova de dente na fazenda e ela e Catarina foram ao centrinho procurar algum comércio ainda aberto.

A gente só não contava com o pé d'água que nos atingiu. Bem que eles avisaram. O bom da chuva de verão é que ela vem e passa. Mas essa não é tão amigável assim.

— Precisamos fazer uma vala para escoar a água debaixo das barracas, se não formará uma piscina e não queremos isso — disse Adria.

Nisso, a chuva continua nos atingindo e trazendo lama para todos os lados. Pessoas ao nosso redor estão passando pelo mesmo perrengue e do nada, sem ninguém esperar, uma rede de apoio foi formada, onde as pessoas do camping foram se ajudando com ferramentas e aparatos para todos terminarem de montar suas barracas.

Haru saiu a procura de algo que pudesse nos ajudar a escoar a água. Minutos mais tarde volta.

— OLHA O QUE EU CONSEGUI — ela grita, vindo em nossa direção com um facão de ferro em mãos. — Sou muito Tarzan, pode falar — Haru vem cheia de dentes e com lama até na alma.

— O que vamos fazer com um facão, Haru? — pergunto.

— Eu não faço a mínima ideia. A Barbie profissões aqui é você, baby — ela estala a língua para mim — sou apenas a Barbie médica e a Barbie National Geographic é aquela ali — aponta para a Adria que a olha cansada — jornalista e aventureira, olha que coisinha perfeita.

— Haru... cara. Preciso fazer uma vala para escoar a água. Como vamos fazer uma vala com isso? — Adria está apenas de biquíni, literalmente, e com tanta lama no corpo que acho que só o seu rosto está ileso.

ANTES QUE ELA VÁ EMBORA | ROMANCE LÉSBICOOnde histórias criam vida. Descubra agora