CAPÍTULO 10. Copo vazio?

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ERIS

Nunca, em hipótese alguma, uma lésbica pode sair sem seu elástico de cabelo. Não importa se você tem o cabelo longo ou curtinho, é uma regra muito importante.

— Não está bebendo hoje? — pergunto quando vejo Misha beber o terceiro copo de água tônica com limão.

Ela não fala nada, apenas me olha com um olhar de deboche quando revira suavemente os olhos e levanta seu copo.

— E você, em? Você não bebe nunca?

— Eu bebo chopp — pisco meu olho esquerdo e ela revira o dela — já esqueceu, carioca?

— Não, eu não esqueci.

— Só não bebo quando estou trabalhando ou sendo motorista de fadas — falo só para que ela revire os olhos mais uma vez. Dito e feito.

Descobri que gosto de irritar Misha, fora que ela fica mesmo muito linda quando está nesse estado pseudo brava que faz parte de sua personalidade.

Assim que eu falei alguém nos interrompeu.

— Copo vazio, De Mori? — uma voz familiar adentra nossa realidade.

Ruiva, 1,65 m de pura marra e falta de juízo, biquíni vermelho e cabelos de fogo. Os fios acobreados combinam com o verde dos olhos que neste exato momento estão muito mais verdes porque seus olhos estão bem avermelhados. Bruna, é claro.

Bruna também trabalha no Quimera, é uma amiga nossa e... é melhor parar a descrição por aqui.

— Cadê o seu copo? — a ruiva perguntou assim que chegou com uma lata de cerveja na mão.

— Não tenho um.

— Posso resolver isso? — ela pergunta enquanto me fuzila com o olhar. Olho para o lado e Misha rapidamente encontrou algo para fazer com suas mãos enquanto Bruna apareceu. Calma, isso foi mais uma revirada de olhos?

Não falei nada, apenas acenei enquanto a ruiva pegava uma tulipa e a enchia.

— Posso fazer mais alguma coisa por você? — existe um olhar brincalhão mas um sorriso que...

Conheci a Bruna assim que cheguei aqui, há alguns anos, e ela foi uma das primeiras pessoas que tivemos contato na cidade. Uma garrafa de whisky, um bar fechado e muita história para contar. A conheço tempo suficiente para perceber que boa parte da banca dela é zoeira. Ela tem essa pira de ser bem teatral, parecida com uma certa pessoa de cabelo descolorido que conhecemos bem.

— Obrigada, Bruninha — olho para Misha — estou de boas.

— Bom — ela percorre com o seu olhar a Misha de cima a baixo — sabe onde me encontrar, De Mori.

Mas também sei que Bruna é extremamente seletiva em suas amizades e não me surpreende em nada que não tenha falado um A com Misha. Me deu um beijo na bochecha e saiu.

— Pensei que você não bebesse em serviço — responde atravessado.

Me aproximo dela o máximo que posso.

— Mas eu não costumo recusar convites para dividir uma cerveja, já esqueceu? 

— Nossa, seus cortes são perfeitos... milimetricamente precisos — ela diz, não fazendo contato visual comigo.

Mudando de assunto, Misha?

— Você gosta de cozinhar? — ela para — você gosta de cozinhar!

A olho e aceno com a cabeça.

— O que me entregou?

— Sua fisionomia. Você parece estar em um mundo próprio desde que chegou aqui na área da churrasqueira. Sua habilidade com as facas e como é ágil cortando e... eu não sei explicar.

ANTES QUE ELA VÁ EMBORA | ROMANCE LÉSBICOOnde histórias criam vida. Descubra agora