PEACE BLEAK

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Sentia a cabeça do meu bebê como uma onda de dor, rasgando-me de dentro para fora, enquanto o sangue manchava minhas pernas. Alguma coisa estava errada. Eu apertava os olhos com tanta força que temia não conseguir mais abri-los. Perdida e sem saber o que fazer, minha bolsa estourou, forçando-me a me sentar no chão imundo do quarto.

James saiu há uma hora, dizendo que caçaria um esquilo que avistara antes de entrarmos. Ainda não tínhamos lidado com todos os errantes que perambulavam pelos corredores do hotel, então eu tentava ficar silenciosa o tempo todo.

Lembro-me de ter ouvido algo sobre "cinco minutos de dor para uma vida inteira de felicidade". Bem, certamente já haviam passado cinco minutos, e agora eu não sabia se nos restava uma vida inteira. No entanto, eu aguentei. Fui forte até sentir o corpo inteiro do meu bebê fora de mim.

Foi então que percebi o que estava errado. O cordão umbilical estava enrolado no pescoço da minha garotinha, a sufocando de alguma forma. Ela estava tão quieta que me deu medo. Senti mais medo do que se ela estivesse chorando tão alto que todos os errantes da cidade pudessem ouvir.

Reuni as últimas forças que me restavam e desenrolei o cordão, mas ela ainda não dava sinal de vida. Em desespero, balancei-a devagar, de novo e de novo.

— Por favor, Peace. Sou eu, a mamãe.

E então, seu chorinho soou, calmo e baixo. Alinhei-a nos meus braços, sentindo um alívio profundo.

Apesar do som inquietante dos errantes reunindo-se e batendo à porta atrás de mim, tudo o que experimentei foi um instante de paz sublime. O nascimento de Peace representou um ponto de virada profundo; quando descobri minha gravidez, o mundo ainda ecoava os dias pré-apocalípticos, mas agora, tudo mudou, e minha garotinha irá vencê-lo.


Peace era tão serena quanto um gato deslizando pelas sombras. Após uma semana desde o seu nascimento, James e eu conseguimos purificar o hotel, livrando-nos dos errantes que antes vagavam por seus corredores. Pela janela, observei James reparando as cercas desabadas no lado oeste do terreno. O lugar era vasto, talvez grande demais para apenas três pessoas.

Quando Peace completou três semanas de vida, os dias se encheram de chuva intensa. Árvores tombaram, mas a piscina, em contrapartida, se encheu completamente. Com isso, garantimos um estoque precioso de água.

Ao atingir um mês de existência, Peace chorou quando a barba de seu pai a incomodou, James se sentiu tão mal que foi tirá-la imediatamente. Logo percebemos que, mesmo com racionamento, nossos suprimentos estavam se esgotando. Eu ficava com a maior parte, James insistia que eu merecia, pois amamentava nossa filha. No dia seguinte, ele partiu em busca de recursos. Ao anoitecer, retornou com um grupo de dez pessoas, um galo e três galinhas. Agora, tínhamos ovos frescos.

Aos quatro meses, Peace passou um tempo com o pai, enquanto decidi sair para caçar. Mesmo enferrujada, consegui um esquilo e resgatamos dois cavalos presos a uma carroça destruída. Naquele dia, compreendi que não suportava ficar tanto tempo longe de minha filha.

Com oito meses, minha garotinha conheceu novos rostos. Nosso grupo cresceu, transformando o hotel em nosso lar seguro. Em oito meses, nenhum errante invadiu nossas cercas; alguns se amontoavam do lado de fora, mas conseguiamos contê-los.

Quando Peace completou onze meses, viu sua mãe auxiliar em um parto. Com uma única experiência e coragem, ajudei Lana a dar à luz gêmeos. Dois de uma vez, uma verdadeira dádiva dos céus, ou não.

Ao completar um ano, Peace deu seu primeiro passo no mesmo chão onde nasceu. Corri com ela nos braços, compartilhando a emocionante notícia com seu pai, que chorou de felicidade. Nossa garotinha estava crescendo. Brincamos com ela até o anoitecer, coloquei-a para dormir e desci quando o grupo de busca retornou de mais uma expedição, agora com mais de vinte homens armados os fazendo de reféns.

WAR FAVORS - [rick grimes]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora