Capítulo 14

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Acordei no meio da noite, suando. Verifiquei a hora no meu celular: 4h35 da manhã. A noite estava fria, a janela do quarto embaçada, e Alice dormia profundamente ao meu lado na cama. Ciente de que minhas tentativas de voltar a dormir seriam em vão, coloquei uma calça, um moletom e tênis de corrida, e fui até a casa do meu pai. Embora não fosse uma caminhada curta, a corrida sempre me ajudava a espairecer. O moletom se ajustava ao meu corpo, em uma batalha contra o vento cortante que tentava roubar meu calor. Enquanto corria, meus pensamentos tumultuados se entrelaçavam com o ritmo constante da corrida. Quando cheguei à casa do meu pai, estava suado e exausto. Abri o portão com a chave do bolso e entrei. Na sala vazia e silenciosa, sentei-me no sofá, esperando que meu pai acordasse.

Passos ressoaram na cozinha, anunciando a chegada de minha mãe. Seus olhos encontraram os meus e um suspiro histérico escapou de seus lábios.

— Meu Deus, Felipe, você quase me matou de susto! — exclamou, uma mão sobre o peito enquanto recuperava o fôlego.

— O que você está fazendo aqui tão cedo, às 5 da manhã? — perguntou, visivelmente preocupada.

Ofegante ainda pela corrida, lutei para articular as palavras.

— Vim falar com o papai sobre algo sério. Mas eu espero ele acordar. — respondi com dificuldade.

Ela se sentou ao meu lado, seus olhos buscando os meus, uma xícara em suas mãos trêmulas.

— Você precisa me contar o que está acontecendo, estou preocupada. Nunca te vi assim. Está tudo bem, filho?

Tentei controlar minha irritação enquanto respondia:

— Estava tudo bem, até o papai me colocar nessa enrascada.

— Como assim? Você está falando do seu novo trabalho? — indagou, buscando entender.

— Sim, é exatamente disso que estou falando. — respondi com firmeza.

Ouvimos passos vindo das escadas e nossas cabeças se voltaram instantaneamente na direção do som.

— Que barulheira é essa uma hora dessas? — meu pai, visivelmente incomodado por ter sido acordado, me olhou com os olhos semicerrados, típicos de quem acabara de despertar. - O que você está fazendo aqui?

Uma onda de indignação tomou conta de mim.

— Como você pôde fazer isso comigo? Me colocar no meio disso. — desabafei, encarando-o com seriedade.

Ele me fitou em silêncio, seu rosto sério revelando que estava pensando cuidadosamente sobre minhas palavras. Percebendo a tensão que se formava, minha mãe optou por deixar o cômodo, nos deixando a sós.

— Você não tinha outra opção. Eu estava tentando te ajudar. É lamentável que o meio ambiente e muitas comunidades sofram por isso, mas você precisava priorizar o sustento da sua família. E caso um dia Jack seja descoberto e punido, ninguém poderá acusá-lo de ter conhecimento ou envolvimento. - meu pai explicou com um tom conciliador.

— Meio ambiente? Comunidades? Do que você está falando? — questionei, irritado e confuso.

Ele pareceu levar um momento para compreender, mas logo sua expressão mudou.

— Não é disso que você está falando? Das atividades ilegais das corporações de Jack?

Estava confuso, sem entender do que ele estava falando e, naquele momento, não me importava.

— Não, claro que não. Estou falando do que ele faz com Liza.

— Ahh, Liza — murmurou, parecendo finalmente entender, e permaneceu em silêncio, permitindo que eu continuasse a me explicar.

Entre o Perigo e a PaixãoWhere stories live. Discover now