Me ligue

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Na casa da tia Mariana, minha mãe e ela foram para algum lugar da casa. Eu me sentei ao lado de Gabriel, que nem olhou para mim, mantendo a atenção na televisão. Olhei para a televisão tentando reconhecer o filme, mas a única coisa que conhecia era um dos atores Jackie Chan.
- Oi- falei
- Oi, o que veio fazer aqui?- disse ele de má vontade ainda olhando para a TV.
- Você me convidou, lembra? No e-mail que me mandou quando eu estava na casa do meu pai.
- Hmm- Resmungou em resposta.
- O Que está assistindo?
-Karate kid- respondeu
- E o que tem de bom nesse filme? - Perguntei propositalmente.
Ele franziu a testa e disse: - os golpes de Karate, a história do filme.
- Mas esses filmes são todos a mesma coisa, nem precisa assistir para saber o que acontece.- Provoquei.
Percebi um sorriso torto em Gabriel.
- Vai ficar criticando o filme que eu estou assistindo? - Sussurrou, dessa vez com os olhos nos meus.
- Eu trouxe cadarços novos- Falei como desculpa para me livrar do olhar dele.
- Não precisava, era só brincadeira.
- Eu devo, eu pago- Falei colocando os cadarços sobre a perna dele.
- Obrigado.
- De nada. Me diga qual é o livro que Carine estragou.
- Não não, não precisa dar outro livro.
- Mas eu quero te dar.
- Não gaste comigo. E por falar em livro, gostou daquele que eu te dei? - Perguntou com expectativa.
- Eu adorei.
Ele se levantou e foi até a televisão e pegou outro que estava do lado dela.
- Pegue- Disse afafelmente.
- Não obrigada.
- É, algumas coisas não muda mesmo- Comentou maliciosamente com o livro ainda em minha direção, pude ler o título. Viagens de Gulliver. Resolvi aceitar.
- Obrigada.
Ele sorriu e voltou a atenção para o filme.
-Gabriel- Falei para chamar a atenção dele. Senti uma emoção diferente ao pronunciar o nome dele em voz alta. Ele me olhou e esperou.
- Eu vou dar parte de você a polícia- Falei seria.
- Como assim? por que? - perguntou assustado.
- Por que você roubou o azul do céu e colocou nesses seus olhos- Ele abaixou os olhos por um momento, e quando voltou a olhar para mim, disse: - Você roubou a beleza das flores e nem por isso vou te entregar para as autoridades- Disse com uma voz de dar arrepios.
Não foi justo ele rebater, eu fiquei sem saber o que falar. Me virei e encarei a televisão, pelo canto dos olhos vi que ele ainda me olhava e dava risinhos debochados. Senti a necessidade de acabar logo com isso.
- Aonde está seu pai?- Perguntei a ele que ao mesmo tempo mudou a expressão, cruzou os braços e fitou o chão.
- Ele faleceu- Sussurrou.
-Desculpe, eu...eu sinto muito.
- Não tem problema- disse com tristeza.
Naquele momento senti vontade de abraça - lo por dois motivos, primeiro, eu queria conforta- lo, segundo, eu queria saber se o Abraço dele seria tão bom quanto como foi no sonho.
- Posso te pedir uma coisa?- falei de imediato antes que a coragem me abandonasse.
- Claro.
- Me dá um abraço?
Ele me olhou surpreso, balançou a cabeça concordando.
Então ele me abraçou com delicadeza, minha cabeça pousou em seu peito, pude ouvir o bater do coração dele, o meu batia furiosamente.
Senti a respiração calma dele, inalei o perfume doce e suave de sua pele.
Aquilo era melhor na vida real do que em sonho, ou será que eu estava sonhando agora?
Meu pensamentos foram interrompidos pelas vozes que se aproximavam, era hora de ir para casa. Então me desprendi daqueles braços tão calorosos.
Antes de sair, Gabriel anotou o número do celular dele na capa do livro.
- Quando quiser me ligue- Disse ele um pouco alegre.
- Vou ligar- Falei com um sorriso.
Gabriel também sorriu, fazendo meu coração dançar.

Os sonhos de AliciaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora