Novo pesadelo

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Como já era de se esperar, tive um novo pesadelo.
Era noite, a lua estava cheia, não havia estrelas no céu, o vento assobiava em meus ouvidos, eu estava na frente da casa de tia Mariana, a porta estava aberta, a rua deserta.
- Tia Mariana, Gabriel- chamei com a voz abafada e baixa demais para alguém ouvir.
Ninguém apareceu, resolvi entrar. Cheguei a conclusão que dentro da casa não seria pior que fora dela.
Entrei e logo após a porta Rangel e fechou num estalo, me prendendo dentro dela.
Fiquei paralisada, estava mais escuro dentro dela do que na rua.
- Não consigo ver- disse para mim mesma - seria bom ter uma lanterna - conclui.
Assim que falei isso, como em um passe de mágica a minha mão segurava uma pequena lanterna.
- Hmmm, será que se eu desejar mais alguma coisa vai aparecer? - pensei por um instante.
- Gostaria que a Carine estivesse aqui.
E deu certo, la estava ela toda fofa aos meus pés, senti um pouco de alívio em não ser a única coisa viva ali.
Liguei a lanterna, e ao inspecionar o lugar, notei que não se parecia em nada com a linda casa de tia Mariana.
Eu estava em um pequeno cômodo, estava ficando sem ar, estava abafado. - Preciso de ar- disse em voz alta, então duas janelas se abriram e um corrente de ar entrou por elas, fazendo as cortinas voarem fantasmagóricas. Há minha frente tinha um longo corredor, vi que no final dele havia uma porta, dei o primeiro passo, e o piso de madeira Rangel em baixo de meus pés descalços. Senti vontade de voltar para tras, mas a curiosidade foi maior, peguei Carine nos braços e caminhei em direção a porta que parecia distante demais.
O piso continuava a ranger.
- Quer fazer o favor de parar de ranger?
Dessa vez não deu certo, tentei novamente.
- Se esse piso parasse de ranger eu agradeceria.
ufa; parou.
- Obrigada- agradeci sem saber a quem.
Parei em frente a porta, tentei abri - lá, mas antes de eu por a mão nela, ela se abriu por vontade própria.
Lá estava o livro que eu tanto desejei, no centro da sala em forma circular, a lua iluminava somente ele, pousado no chão. Coloquei Carine no chão e fui ao encontro dele, sentei me de frente para a porta, estendi a mão e o peguei.
- Ele é meu Carine; é meu...- Procurei ela com os olhos, mas ela já não estava ali.
Segurei o livro com força em meu peito, depois olhei para ele, abri um sorriso de triunfo e abri o livro.
Foi um choque, não existia frase, palavras, letra alguma, só imagens, figuras de homens e mulheres idosos em todas as páginas. Uma lágrima escorreu de meus olhos e pingou em uma página, derrepente escutei passos, me levantei as pressas jogando o livro para o lado.
Fiquei olhando fixamente para a porta, quem mais poderia estar ali?
- Mamãe? Tia Mariana? Gabriel?
Senti que estava próximo, fechei as mãos em punho e fechei os olhos, quando abri os olhos, lá estava a velha do sonho anterior, ou seja, eu mesma, só que velha e acabada,ela segurava Carine, que lutava para se livrar dos braços dela, dos meus braços envelhecidos.
A mulher idosa deixou Carine escapar, a gata correu para mim, eu a peguei, e dei um beijo na cabecinha dela.
A velha me olhou com ar de desaprovação e deu um passo para a frente, eu dei dois para trás, ela deu mais um, eu tentei dar mais alguns passos para trás, mas não consegui, eu já estava encostada na parede, algo em minha mente me lembrou que tudo aquilo não passava de um sonho, um pesadelo.
Me abaixei com Carine no colo e disse bem baixinho- Acorde, acorde. Vamos Alicia, por favor acorde, eu quero acordar.

- Jesus, Maria e José, por que demorou tanto para acordar - Disse zangada para mim mesma. Me sentei na cama e vi Carine deitada ao meus pés.
- Agora está tudo bem - Falei a ela, que me olhou sem entender nada. Olhei para o relógio, os ponteiros marcavam quatro e quinze da manhã. Eu não queria dormir de novo, trouxe Carine para mais perto de mim e permaneci sentada, mas o sono me venceu, adormeci novamente, quando acordei eram nove e quarenta e cinco, agradeci por não ter sonhado de novo.

Os sonhos de AliciaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora