Sentimento pertinente

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Nathalia Condona



Um banho de rosas e alecrim.


Um shampoo com cheiro de chocolate e canela e uma esponja macia sobre minha brilhosa pele negra. Eu preciso cuidar da minha aparência, como toda bela dama da alta classe deve fazer. É bom, eu confesso, é maravilhoso ser uma estrela, mas cansa... Eu não posso mais andar nas ruas como fazia quando era mais nova. Eu pensei que poderia esconder aquilo por muito tempo, mas infelizmente minha família me entregou cedo demais.



Antes, apenas meus colegas de classe sabiam, eles sabiam ao menos manter segredo. Isso garantia minha segurança, mas agora... sou obrigada a andar sempre acompanhada de dois homens de terno, ainda mais agora que saímos da capital para passar este período do torneio em Gurundi, nesta segunda mansão que minha família comprou após a morte do meu avô. Ainda deve ter restado dinheiro da herança do velho.



Ao sair do banho, minha criada me ajuda a me secar.


Nem isso posso fazer sozinha? Até quando serei rodeada de gente me fazendo serviços? Eu quero fazer por mim mesma! Eu quero ter independência!



- Camélia, pode por favor sair do meu quarto? Quero me trocar sozinha.



- Mas alteza...



- É uma ordem!



- Sim, senhorita.



Finalmente, agora estou só.


Abro meu guarda roupa e escolho o melhor look para ir ao torneio hoje. Eu deveria ter ido assistir meu primo lutar pela manhã, mas estava muito ocupada na aula de balé. Durante a tarde, tive aula de canto, mas pelo menos agora à noite estou livre. Visto um vestido rosa com muito brilho, um cachecol felpudo e um coturno prateado. Será que estou linda o suficiente? Pelo menos me visto conforme minha mãe espera.



Meu cabelo, eu deveria escová-lo?


Minha mãe e todas as mulheres da nossa família, alisaram o cabelo por odiarem a aparência de nossa ancestralidade. São umas patéticas! Não me rebaixo ao mesmo nível que essas madames sem autenticidade. Estão ocultando nossa verdadeira identidade e assumindo algo completamente diferente de nós.



Mas a minha rebeldia custa caro, minha mãe sempre olha para mim com desprezo de quem me tornei, eu deveria ser para ela, totalmente o que ela espera em uma futura herdeira. É isso que me faz odiar tanto a vida nobre que carrego.



- Nathalia! - É a voz dela.



- Estou terminando mãe! Já estou descendo!



Obedecer é minha única escolha.


Coloco uma boina francesa para esconder ao menos o frizz no topo da cabeça. Passo uma maquiagem básica e um batom nude. É isso. Acho que estou pronta. Ah, eu quase me esqueci... preciso levar um absorvente, estou com medo de descer hoje... Logo agora? Eu vou lutar amanhã menstruada?! Espero que não, porque será um inferno!


Raely Helena



Estou tremendo ainda.


No camarim, ajeito minha roupa. Caramba, estou com ela desde hoje cedo, nem tomei banho, mas também não vai adiantar, já que vou suar muito agora. Bebo bastante água, mas tenho que evitar de querer mijar durante a luta. Meu cabelo está bagunçado, penteio ele de qualquer jeito, está ótimo! Tô linda! Alsel e Loren entram, para me dar um pouco mais de forcinha. Eles percebem o quanto estou mal, mas não quero tomar novamente aquele remédio.



- Raely. - Alsel se aproxima agachando, quando sento numa cadeira. - Você consegue. Você sabe lutar capoeira e algumas habilidades da tradição Qiang. Acredite, você é capaz disso! Não precisa tremer tanto, se acontecer qualquer coisa eu estarei lá para te ajudar de alguma forma.

The Last GardenWhere stories live. Discover now