Dentro da sua alma, você sabe quando é hora de ir...

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VALÉRIA

— Eu queria te odiar. — falei, encarando pela primeira vez
a lápide de Bianca e me sentindo leve. — Mas a realidade, Bia?
Não consigo sentir nada além de raiva, quando paro para
reanalisar a situação. — admiti. — E me culpo por sentir raiva da
situação toda, porque essa sou eu. — fiz uma leve careta. — Só
queria te dizer, que eu não vivi a vida que fizeram para mim, na
verdade... a vida aconteceu. Para mim e para Tadeu. A gente se
encontrou, sabe? A gente se reencontrou, na verdade? —
suspirei fundo. — Eu acho que nunca vamos saber realmente o
que houve naquela noite. Já que bom, não podemos confiar no que você disse. Mas a questão é que todos estamos em paz. Eu
não tendo mais que guardar segredo. Tadeu, perdoando a si
mesmo. Murilo, que parece nem ter sido abalado de fato com
isso. E eu não posso mentir, ao pensar que você usou o homem
que eu amo... Mas não consigo te odiar. Eu só acho que no fim,
preciso fechar essa parte. E por isso estou aqui. Espero, um dia,
não sentir mais raiva ou mágoa com isso, mas... Até lá. Fique em
paz, Bia.

Troquei as flores, como fazia todo o mês, mas a realidade
era que não sabia quando voltaria. Apenas o pensamento de
Bianca usando Tadeu daquela forma, me matava por dentro. E iria
contra tudo o que eu acreditava. Se um dia pensei que ele era um
traidor, na realidade, ela foi. Comigo. Com ele. Com Murilo. E
bom, fomos nós a sofrer por aquilo, e não queria mais. Não
mesmo.

Que aquela história se findasse.

— Depois de tantos anos... — pisquei algumas vezes,
virando-me, e encontrando a mãe de Bianca, que me destinou um
leve sorriso. — É uma boa amiga, Valéria.

— Como está, senhora Ferreira? — indaguei, e ela parecia
como da última vez que a encontrei ali, meses atrás.

— Tentando, um dia de casa vez.

Engoli em seco, levando a mão à barriga, e não consegui
imaginar o tamanho da dor que seria, se me tirassem o que mais
amava. Sabia que Lauren Ferreira nunca conseguiu superar a
morte da filha. Mas quem o fazia? Quem conseguia?

Apenas de pensar na possibilidade, me sentia fraca.

— Eu encontrei nas coisas de Bianca. — destinou-me um
envelope, e a encarei incrédula. — Bianca me disse que deixaria
cartas, mas muitas se perderam depois que a perdi... acredito que
essa seja a única que restou, e a encontrei no fundo do seu
guarda-roupa, há alguns dias.

Ela então me estendeu, e eu aceitei o envelope, com as
mãos trêmulas.

— Não sei por onde anda ou o que faz, Valéria. Mas só
queria agradecer, por se lembrar dela... — olhei-a, e me
compadeci da sua dor. — Acho que agora vai me entender,
quando digo que não há nada maior do que alguém que ame,
aquele que mais amamos.

Assenti, e lhe dei o espaço que precisava, para ter o seu
momento ali, com a filha.

Caminhei de volta, e olhei rapidamente para o envelope,
que tinha o meu nome. Suspirei fundo, mas nem por um segundo,
duvidei do que faria. Não mais. Tinha resumido grande parte de
mim e dos meus sentimentos ao que Bianca ditou um dia. E
naquele momento, as palavras dela não tinham mais poder. Não
sobre mim.

Então, vi-me rasgando a carta, e jogando-a no primeiro lixo
que encontrei. Poderia ser que estivesse lá, uma explicação para
tudo, ou uma explicação para nada. Um monólogo ou um
romance. Já não me importava. Não mais.

Senti o pingo de chuva sobre meu nariz e sorri, dando
passos largos para poder chegar logo à entrada do cemitério. E
um pouco antes da chuva despencar, senti meu corpo ser
levantado e fui carregada com cuidado até o carro, sem dar
chance de ser molhada. Quando Tadeu finalmente se sentou no
banco do passageiro e a tempestade caiu, apenas o encarei, e
soube que eu não queria mais pensar naquilo.

Não mais.

Era o meu ponto final para aquela história que não me
pertencia.

E ele era o ponto de recomeço do amor que sempre me
pertenceu.

E a mesma pergunta voltou à minha mente, enquanto ele
me puxou para si e beijou meus cabelos: se pudesse escolher o
amor, não escolheria amar Tadeu Reis, certo?

Errado.

Totalmente errado.

Porque mesmo que pudesse escolher, ainda seria ele.
Sempre ele.




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⏰ Last updated: Jan 20 ⏰

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Gravida Do Ceo Que Não Me Ama Where stories live. Discover now