Eu não sabia quanto tempo eu tinha ficado ali presa nos meus próprios pensamentos, e com isso, não percebi quando a dona Sueli tinha entrado no quarto.

- Ana? - quando eu ouvi sua voz, fiquei um pouco assustada, mas logo depois olhei para a sua direção e a vi caminhando para mais perto de mim, carregando uma bandeja cheia de comida. - Já está acordada tão cedo?

Porem, mesmo quando eu não tinha comido quase nada ontem, eu não estava com fome. A minha vontade, na verdade, era apenas ficar ali sozinha. E por causa disso, eu voltei a olhar para o outro lado da janela, sem não dizer mais nenhuma palavra após cumprimenta-la. Por causa do silêncio do quarto, eu pude ouvir ela suspirar e se sentar ao meu lado na minha cama.

- Eu quero ficar um pouco sozinha dona Sueli... - murmuriei após um tempo em silêncio. Olhei para dentro dos seus olhos e vejo que lá dentro havia preocupação e um pouco de tristeza.

- Eu sei... - disse abrindo um sorriso de canto enquanto segurava na minha mão. - Mas mesmo assim, quando você precisar de algo não hesite em me chamar. - após dizer isso, ela fez um pequeno carinho na minha bochecha e deixou a bandeja em cima da prateleira antes de começar a ir embora.

- Dona Sueli... - a chamei antes de ela passar pela porta. Mesmo eu estivesse querendo ficar sozinha, eu sabia que neste momento, ela seria a única que poderia me ouvir verdadeiramente.

- Sim? - falou enquanto me olhava com os seus olhos atentos, e sem saber o motivo, acabei ficando um pouco sem jeito.

- Por favor, você poderia me perdoa? Eu sei que esta preocupação que você está sentindo agora é tudo por minha causa.

- Não diz isso querida, você não tem culpa nenhuma. - falou rindo um pouco, antes de ficar séria. - Apenas quero que você sempre se lembra que eu estarei sempre ao seu lado.

- Obrigada... - falei e assisti sorrindo um pouco. Me sentindo feliz por ter alguém como ela ao meu lado. E também sei que eu estou ficando cada vez mais apegada nessa senhora que conheci em tão pouco tempo.

- Vem cá. - falou enquanto se sentava na cama e me fazendo me aproximar ainda mais ao seu lado. Deitei a minha cabeça em cima das suas pernas e fechei os meus olhos.

- Essa pergunta pode ser um pouco boba, mas como você está se sentindo? - perguntou começando a fazer carinho nos meus cabelos.

- Eu não sei ao certo... Tudo está uma verdadeira bagunça. - falei com sinceridade e suspirando. - Eu tenho medo e, ao mesmo tempo, estou confusa. Eu não sei mais o que eu devo fazer...

- Eu entendo. - diz calmamente.

- Dona Sueli, mesmo tentando, eu não consigo acreditar nas palavras dele. Acreditar que ele pode ser o meu pai. - falei abrindo os meus olhos para poder olhar para ela. - A única coisa que eu consigo pensar, que tudo isso deve ser apenas um engano.

- Pequena... no fundo do seu coração você realmente acha que é impossível que o Jorge seja o seu pai? - com a pergunta acabei ficando em silêncio, não sabendo o que responder. Mesmo com essa doideira toda, eu não sentia verdadeiramente que isso poderia ser impossível. - Era isso que eu imaginava... - disse enquanto sorria.

- Você sabia disso, deste quando? - perguntei após me lembrar que ela tinha ido à casa do alfa toda apressada e estranha.

- Eu não soube imediatamente, eu apenas desconfiava. Quando eu te encontrei naquela margem do rio tive o pressentimento que eu precisava te proteger e cuidar de você. E isso me fez senti bastante estranha no começo, já que eu nunca tive uma emoção tão forte assim. Mas no momento que você acordou, você não sabe o quanto aliviada eu fiquei. - falou com um sorriso bobo no rosto. - E quando você me olhou com aqueles olhos que transmitiam confusão e, ao mesmo tempo, desconfiança, me fez lembrar imediatamente de alguém. Vocês duas são tão parecidas... Que era impossível não desconfiar!

- Você está falando da Kinbble? - perguntei e ela assentiu afirmando. - Eu e ela somos tão parecidas assim? - era uma pergunta boba, sendo que a foto que eu vi anteriormente realmente a gente se parecia muito.

- Se não fosse pelo seu cabelo ruivo, vocês duas seriam idênticas. Os olhos, o sorriso, a personalidade... - falou com a voz um pouco trêmula. Pelo jeito ela gostava muito da Kinbble.

- Dona Sueli, a foto que eu tinha visto na casa do alfa, mostrava que o cabelo da Kinbble era loiro, e o alfa tem cabelo castanho, então como eu posso ter esse cabelo ruivo? - perguntei com curiosidade, sendo que não herdei quase nada do alfa Jorge.

- Eu não sei exatamente... - falou pensativa. - Mesmo quando eu desconfiava que você era filha deles, isso sempre me deixava confusa. Mas ao descobri qual era o dia do seu aniversário, acabei me lembrando de algo. No dia que você nasceu, foi no mesmo dia que a lua vermelha apareceu. Nós, lobisomens, temos uma lenda em relação da lua de sangue.

- Uma lenda? - perguntei curiosa.

- Sim. Dizem que a alma da lua se torna em uma fênix com um fogo puro. O poder da lua se torna a mais poderosa de todos os anos. Contudo, é extremamente raro, crianças nasceram nesse dia. Dizem quando elas são nascidas nesse dia, eles são abençoadas pelo poder da lua e se tornam muito poderosos.

- Mas o que isso tem a ver com o meu cabelo?

- Talvez eu não consiga te explicar direito..., mas você ainda se lembra quando me mostrou a sua loba? - perguntou e eu assenti com a cabeça. - No começo eu tinha ficado realmente assustada, já que, a sua loba era muito boa em intimidar qualquer um. - disse enquanto ria. - Mas, a aura que você transmitia era algo surpreendentemente poderosa. Talvez, poderia ser considerado até mais forte que a aura de um soberano e isso só provou que você carrega o fogo da fênix dentro de si.

- Lua vermelha, fênix... - murmurei trastornada. O que a dona Sueli falou, só me fez lembrar do sonho estranho que tive daquela mulher, que se sacrificou para salvar a vida do seu bebê. A fênix tinha chamado a mulher de Kinbble. Aquela mulher só poderia ser a esposa do alfa. Então... aquele bebê só poderia ser...

- Ana? - perguntou dona Sueli quando me via levantar imediatamente da cama com uma expressão perturbada.

Minha LobaWhere stories live. Discover now