✾ Quatro

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Dentre os tumultos e gritaria eu escuto um gemido. Ele se apoia no chão e levanta com dificuldade. Parecido com aqueles filmes de herói que o mocinho junta forças do nada para salvar sua amada.

Andrêo se apoiou no atril. Eu tentei ajudá-lo, mas ele recusou e permaneceu em pé com dificuldade e com sua roupa manchada de sangue no ombro perto do peito. Com seu rosto inabalado e calmo, como uma armadura de metal impenetrável, nem parecia que tinha sido baleado.

Karl desceu as escadas do palco quase pulando com um gesto do dedo indicador e o médio os guardas levantaram o atirador algemado. \Ele agarrou o cabelo do jovem com força e o obrigando a olhar para o governante como se fosse uma tortura.

-Levem ele, agora! Eu o julgarei depois. -Ele encara o homem com os dentes cerrados.

Diversos médicos vestindo jalecos branco com kits de primeiro socorros correram em meio a multidão, subindo freneticamente o palanque. Mas ele nega atendimento imediato.

Eu distingui os paramédicos sendo cada um encarregado de algo, tinha o anestesista, transfusador de sangue e entre outros.

-Senhoras e senhores, não sei se vocês entendem perfeitamente que acabo de ser baleado, mas é preciso mais do que isso para matar um homem que morreria por sua pátria. -Andrêo gesticula com o dedo indicador levantado.

Todos aplaudiram sua atitude.

Após um longo discurso, ele complementa.

-Por tal ato, quaisquer ratos que estejam envolvidos com esses terroristas, sofrerão a mais severa e dolorosa penalidade. Seus atos hoje em atacar-me em meio a multidão mostrou-me quem verdadeiramente são. Covardes. -Andrêo gesticulava ferozmente mostrando sua indignação contra o Grupo Libertário. -Terroristas, compactuantes á causa desta corja de miseráveis serão mandados para a parede de fuzilamento e sendo Deus, o único que poderá tirá-los de lá. -Andrêo fritou o jovem com os olhos e encarou Karl e assentiu e o atirador foi escoltado pelos mesmos militares de preto que protegiam as esquinas.

O que será que vão fazer com ele? Penso nas mais diversas formas que Karl usaria para fazer o garoto falar.

Andrêo abaixa a cabeça um pouco e respira fundo. -Habitantes de Saraievo... -Ele levantou a cabeça. -Vocês têm concebido a mim o direito de proteger e direcioná-los à vitória por anos...e por tal confiança tenho lhes entregue o que pediram. Mas ciclos se iniciam e ciclos terminam.

Todos se encararam tentando compreender o que Andrêo iria falar.

E ele prosseguiu:

-Minha aposentadoria está próxima. -As palavras soaram amargas, ele preferia tomar veneno do que admitir. -Mas eu não confiaria meu trono, meu cargo, vocês nas mãos de alguém que me foi dito. Por isso eu selecionei uma pessoa que nem estava na lista de possíveis herdeiros, eu a escolhi a dedo e há anos eu tenho-a treinado e educado para amá-los assim como amo cada um de vocês. -Todos estão em silêncio encarando o governador. -Senhoras e senhores...assim quero apresentá-los a sua próxima governanta. -Ele se vira estendendo os braços. -Caroline Angeline, minha filha adotiva que Deus me entregou.

*

Eu estava na frente do palanque, atrás da barreira protetora, sorrindo, encarando Caroline tomar o atril. Ela veste um vestido azul que ao sol reluz pequenas pedras espalhadas por toda a roupa. Seu cabelo está aberto e volumoso. Um batom vermelho escarlate ressalva seus lábios.

Ao meu lado está Gabriel bebendo uma garrafa de whisky sozinho direto do gargalo e Jack estava letárgico com o que havia acontecido. Ambos os três vestindo smoke preto.

Parece que todos se esqueceram de que alguém foi baleado e por mais que meu corpo estivesse presente, minha mente está em outro lugar, se perguntando quem é essa mulher que me assombra, ela já tirou algo de mim do passado, não está satisfeita?

Guardiões de ízisWhere stories live. Discover now